quinta-feira, 12 de junho de 2014

Uma situação impensável num Estado de Direito Democrático


«O ano em apreço foi o mais difícil dos últimos vinte e dois. E se em 1991 foi a forma irresponsável como o Governo Civil de Lisboa tratou do processo de transferência da presidência da Assembleia Distrital (na sequência da entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 5/91, de 8 de janeiro) que provocou a instabilidade financeira e teve como consequência que os trabalhadores dos Serviços de Cultura estivessem quatro meses consecutivos sem receber vencimento, as dificuldades de 2013 foram provocadas, em exclusivo, pelo incumprimento de um dos seus membros: a Câmara Municipal de Lisboa que, desde janeiro de 2012, se recusa a pagar a comparticipação a que está legalmente obrigada nos termos do artigo 14.º daquele diploma.

Esgotado o saldo transitado de anos anteriores (mercê de uma gestão orçamental regrada), esta situação provocou a falência da Assembleia Distrital de Lisboa a partir de agosto e fez com que, no ano que antecede as comemorações do 40.º aniversário do 25 de abril, tenhamos encerrado as contas com cinco meses de salários em atraso.

Apesar desta inqualificável ocorrência, impensável num Estado de Direito Democrático, e que deveria envergonhar todos quantos defendem os princípios consagrados na nossa Constituição, a Câmara Municipal de Sintra deliberou, em dezembro de 2013, deixar de pagar as contribuições à Assembleia Distrital a partir de janeiro de 2014, numa posição aprovada pela respetiva Assembleia Municipal e que nos choca não só pela ilegalidade do ato (que é assumido como se fosse legítimo) mas, sobretudo, pela enorme insensibilidade social demonstrada pelos autarcas que assim agiram.

A este lamentável cenário junta-se a incerteza quanto ao futuro dos Serviços de Cultura (património e pessoal) gerada pela intenção do Governo em esvaziar estas entidades autárquicas de estrutura e de funções, deixando antever tempos ainda mais difíceis e necessariamente causadores de uma grande instabilidade nos trabalhadores já demasiado prejudicados, contra nossa vontade.

Ainda assim, com o empenho e dedicação inexcedíveis da nossa equipa de apenas quatro funcionários (três técnicos superiores e um assistente técnico), com destaque para a Diretora dos Serviços de Cultura que embora privada do seu vencimento desde agosto de 2013 (uma opção que tomou para que os restantes três trabalhadores pudessem receber o seu ordenado atempadamente) nunca deixou de cumprir as suas obrigações, foi possível realizar uma série de atividades culturais (desde exposições temporárias a projetos de investigação arqueológica, da abertura diária da Biblioteca à execução de listagens bibliográficas para divulgação das obras editadas pela ADL) e terminar o inventário dos bens prediais (que foi precedido de um estudo notável pelo pormenor da análise efetuada), dando cumprimento ao estabelecido no n.º 6 do artigo 7.º do OE2013.

Considerámos ainda que era importante deixar aqui expresso quais foram as ações que, embora aprovadas pela Assembleia Distrital, não foram possíveis de executar (explicando porquê).

Assim como, tendo presente as últimas alterações autárquicas, com a renovação de muitos mandatos e uma nova geração de autarcas, resolvemos apresentar um relato cronológico e pormenorizado dos principais factos ocorridos nestas três últimas décadas para que se possa compreender a polémica em torno da titularidade do valioso património predial desta entidade e que tanta cobiça despertou em 1991 e parece continuar ainda a despertar.

Um trabalho de pesquisa, organização da informação e redação do relatório final da autoria de Ermelinda Toscano. Uma reportagem fiel de um período altamente conturbado da história desta entidade e um contributo fundamental para a sua compreensão.

Lisboa, 24 de março de 2013
  
O PRESIDENTE DA MESA DA ASSEMBLEIA DISTRITAL DE LISBOA 
José Manuel Dias Custódio»

Fonte: Relatório e Contas de 2013, pág. 13-14.

Sem comentários:

Related Posts with Thumbnails