Como o dia ainda só tem 24H, há que estabelecer prioridades. E
entre o descanso necessário e alguns períodos de lazer (às vezes, de mera
preguiça… porque é preciso retemperar forças) a necessidade de satisfazer
compromissos familiares, profissionais e académicos tem-me afastado, com muita
pena minha, das questões da gestão autárquica em Almada.
Não significa isso, contudo, desinteresse pelas problemáticas do
governo local, muito pelo contrário, mas apenas que, sendo essa uma atividade
de mera cidadania voluntária, não tenho tido oportunidade (por falta de tempo
para proceder à investigação dos assuntos) de me dedicar com o empenho que
gostaria e, por isso, o meu silêncio.
Mas em tempo de eleições autárquicas não podia deixar de aqui
trazer algumas perceções sobre a campanha a decorrer (apenas isso, nem sequer chegam
a ser reflexões):
Uma certeza, duas “quase certezas” e algumas “notas soltas” quanto
à futura composição da câmara municipal:
Almada
voltará a ter uma mulher na presidência da câmara – não é
difícil acertar esta pois apenas o PS e/ou a CDU têm hipóteses de conseguir os
votos suficientes para tal.
A
força política vencedora não terá maioria absoluta – ganhe o PS
ou a CDU, face ao que as sondagens apontam (valham elas o que valerem), este é mesmo
o cenário mais provável.
O
parceiro de governo, ganhe o PS ou a CDU, voltará a ser o PSD – caso ganhe
o PS há a considerar a parceria do mandato que está a terminar e, apesar da disponibilidade demonstrada pelo PS em dialogar com todas as
forças políticas que venham a conseguir vereadores, o facto de a CDU e o BE já terem afirmado,
publicamente, que não negoceiam com “uma equipa incompetente” e “não participam
em executivos com a direita”, respetivamente. Caso ganhe a CDU,
e à semelhança do “hábito” trazido de anteriores experiências de executivos
conjuntos entre o PCP e o PSD em Almada (ao nível das freguesias: Cacilhas foi
um exemplo durante vários mandatos), o PSD é a escolha mais do que provável dos
comunistas, o que inviabilizará qualquer apoio do BE (isto se Joana Mortágua for
eleita vereadora e mantiver o que até agora tem dito). Sobre esta última
hipótese (que espero, sinceramente, não venha a ser realidade – pelo menos com
o meu contributo não será) há ainda dois pormenores a atender: instada a
responder, em caso de vencer as eleições sem maioria absoluta, com quem fará
acordo para governar Almada, Maria das Dores Meira é célere a negar qualquer possibilidade
apenas ao PS (nunca referindo o PSD mesmo que os considere incluidos no rol dos incompetentes)
embora também nunca admita poder juntar-se com o BE (aliás é notória a falta de
confiança que o PCP sempre teve em relação a este partido seja a nível nacional
ou local).
Após mais de 40 anos de governo comunista em Almada, com uma
autarquia que já se confundia com uma delegação paralela do PCP, tal era o
domínio e/ou influência que mantinham sobre os recursos humanos em todos os
níveis da estrutura orgânica institucional (e que se manteve mesmo após o
resultado eleitoral de 2017), não é em 4 anos que se conseguem criar novos
hábitos, ultrapassar os constrangimentos deliberadamente criados nos bastidores
e, em simultâneo, lutar contra a permanente campanha de desinformação levada a
cabo pelos anteriores detentores do poder seja nas redes sociais ou nos órgãos
colegiais autárquicos.
Por outro lado, porque não existem “executivos maravilha” (utopia
não é realidade) é natural que, nestas condições, com tantas dificuldades de
partida (a má vontade na passagem do testemunho em 2017 foi notícia pelos
piores motivos) qualquer equipa, por mais empenhada, competente e idónea, iria
sempre cometer erros (além de que é impossível agradar a “gregos e troianos”).
Não estou, com isto, a desculpar o que de menos bom possa ter sido
feito pelo atual executivo. E não, não concordo com tudo o que fizeram. Mas de
uma coisa não tenho dúvida: prefiro o PS
(mesmo coligado com o PSD) do que voltar a ter um executivo CDU em Almada.
Porque, ao contrário do que a CDU afirma, a sua gestão em Almada, sobretudo nos
três últimos mandatos, esteve muito longe de ser o tal retrato idílico de “trabalho,
honestidade e competência”, conforme eu aqui denunciei inúmeras vezes (os
artigos constam dos arquivos e são facilmente consultáveis).
Uma nota final sobre o Bloco de Esquerda. A falta de visibilidade
pública da sua ação a nível local continua a ser por demais evidente. A fraca
(ou mesmo quase nula) aposta no online e uma diminuta presença nas redes
sociais, incompreensível nos dias de hoje, é uma das falhas do BE em Almada. A
esta constatação junta-se a permanente confusão que a estrutura do partido faz
e os seus eleitos perpetuam nos órgãos colegiais autárquicos (do município e
das freguesias), entre governação local e governo da nação, o que os torna
distantes da realidade local e dificulta a empatia com os munícipes.
E temos, ainda, a já insana aversão ao PS, desde sempre
considerado como “o inimigo público n.º 1”, e que gostam de exibir como se
fosse um trunfo, símbolo da sua superioridade moral (uma ideia que transparece
na forma sectária e por vezes leviana como criticam os autarcas socialistas,
façam eles o que fizerem, estejam eles no executivo ou na oposição),
contrapondo com a “secreta admiração” (que mal conseguem disfarçar) pelos comunistas,
evidenciada na tolerância e/ou indiferença aos erros por eles cometidos nos mandatos
anteriores a 2017 e na espécie de elogio efetuado no presente quando cada
palavra do discurso de Joana Mortágua parece defender a vontade expressa de que
a CDU deve voltar a ocupar a cadeira da presidência, custe o que custar, porque
o que importa é tirar de lá o PS. Ou não se centralizasse a candidatura do BE à
câmara de Almada no objetivo de impedir a maioria não do PS, mas da CDU.
Com este tipo de postura, estou em crer que será difícil manter os
votos de 2017 e só com muita sorte o BE
voltará a ter um lugar na vereação.
Imagem: tirada DAQUI.