Tomo a liberdade de fazer minhas as palavras de Viriato Soromenho-Marques que subscrevo integralmente:
«O "Pai da Europa", Jean Monnet, estabeleceu uma curiosa diferença entre os políticos da frente e os da retaguarda (onde ele se situava): só como número dois poderia dedicar-se ao estudo dos problemas reais e à procura das soluções concretas.
Os líderes, esses, pelo menos em democracia, têm de passar o tempo a vender a sua própria imagem. António Costa não é Monnet. É claramente um político alfa. Aparenta uma autoconfiança inabalável. Tem a seu favor as sondagens de opinião pública, e 99% da opinião publicada. Corre, todavia, o risco de sacrificar o PS e o país ao seu excesso de autoestima.
Ao desafiar Seguro a pouco mais de um ano das eleições legislativas regulares, escolhe para a sua batalha um tempo perigosamente curto. Será que só em 25 de Maio é que Costa percebeu que Seguro não tinha carisma e capacidade para garantir uma vitória eleitoral esmagadora ao PS nas legislativas?
E será que ao acusar agora Seguro de estar a atrasar o enfrentamento entre ambos, Costa acreditaria que este iria aceitar ser o mero carregador de pianos do PS durante três anos, nos quais, por duas vezes (em 2011 e 2013), Costa recusou travar o combate que agora exige com celeridade?
Será que acreditou que Seguro aceitaria ficar na história como uma espécie de alcatifa macia para ser pisada triunfalmente pelo Presidente da Câmara de Lisboa, depois de o actual líder do PS ter arcado com o fardo da travessia do deserto?
As guerras civis são as mais sangrentas, e ao declarar agora as hostilidades contra Seguro, Costa transformou Passos, Portas e Cavaco (em conjunto, e cada um por si) nos donos absolutos do tempo político do país, incluindo o tempo da sua ânsia por grandeza pessoal. Quem se sente chamado pelo destino não deve chegar atrasado à chamada.»
Fonte: Diário de Notícias, de 9-6-2014.
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