Cara Joacine Katar Moreira,
Dirijo-lhe estas palavras ciente de
que, possivelmente, não terá interesse em lê-las. Hesitei bastante antes de as
redigir, ponderando se valeria a pena perder tempo com tal missiva. Mas resolvi
que, em breves linhas, tinha de lhe dizer umas quantas “coisinhas”.
Nas últimas legislativas votei no
LIVRE porque concordava, na generalidade, com as ideias do seu programa eleitoral. Como resido em
Almada, o meu apoio foi para a médica Ana Raposo Marques, cabeça de lista por
Setúbal. E tal como eu, 60% (34.2002) do total dos que votaram LIVRE (56.940) fizeram-no
noutros candidatos que não a Joacine.
Mesmo sabendo que no Parlamento
representa (ou deveria representar) o país no seu todo e não apenas o círculo
eleitoral de Lisboa pelo qual foi eleita, não a considero “dona” do meu voto:
não foi a si que o entreguei, mas ao LIVRE confiando que, se fosse eleita, a
cabeça de lista do distrito de Setúbal, pugnaria pela defesa do programa
sufragado pois quem vai a eleições, como sabe, é o coletivo partidário e não o
candidato a título individual.
Por isso, mesmo os 22.738 eleitores
do LIVRE no distrito de Lisboa (40% do total nacional), e cujo voto permitiu a
sua eleição à Assembleia da República, votaram num programa partidário e não na
agenda política pessoal da Joacine, a qual antes das eleições de outubro de
2019 nem sequer era conhecida da população.
A maioria das críticas de que é
alvo depois da tomada de posse como deputada, nada têm a ver com cor de pele, género
ou problemas de dicção e resultam, sim, da arrogância como se passou a comportar
(muito mais do que a impreparação política que referiu no último fim de semana).
Falta-lhe, isso sim, um pouco de humildade.
E, já agora, falta-lhe também um
pouco de ética, porque se é verdade que, legalmente, tem direito a manter-se
como deputada, sabendo que, ao contrário do que afirma foi eleita por um
partido e não sozinha (se não fosse integrada nas listas do LIVRE não estaria a
ocupar o lugar atual), em termos políticos deveria abdicar da representação parlamentar e permitir
que o LIVRE exercesse o mandato cujo programa foi sufragado.