sexta-feira, 6 de junho de 2014

Que “esquerda” é esta a que Mário Soares se refere?


Caro Dr. Mário Soares,

Tomo a liberdade de, pela segunda vez, lhe dirigir a palavra a propósito do seu declarado apoio a António Costa. O candidato que, para si, personifica o líder que o país necessita para “unir a esquerda e derrubar a direita”.
Permita-me, então, que lhe coloque, a si e a todos e todas os(as) apoiantes incondicionais de António Costa, a seguinte questão:
Que esquerda é esta que Vossa Excelência refere?
António Costa tem atuado nos últimos meses como um dos piores carrascos do nosso regime democrático, mostrando-se desumano e insensível, gozando “impávido e sereno” as consequências do seu comportamento ilícito (que mantém desde janeiro de 2012 – portanto não será apenas um desvario momentâneo) para com a Assembleia Distrital de Lisboa, uma entidade da Administração Pública Local que mesmo contestada merece ser respeitada, mas que o senhor presidente da Câmara de Lisboa não teve pejo em levar à falência por escusos interesses pessoais, assumidos à revelia dos órgãos autárquicos do município e em desrespeito pela Constituição da República Portuguesa.
Com essa atitude ilegal, injusta e antidemocrática, António Costa tem revelado ser um político desprovido de ética, pois mesmo sabendo que a sua recusa em autorizar que a autarquia pague as contribuições a que está legalmente obrigada (nos termos e para os efeitos previstos no artigo 14.º do Decreto-Lei n.º 5/91, de 8 de janeiro) tem prejudicado apenas os trabalhadores desta entidade, que desde agosto de 2013 têm sofrido na pele uma pressão psicológica intolerável, havendo mesmo uma trabalhadora com salários em atraso há mais de sete meses consecutivo (SETE MESES CONSECUTIVOS DE SALÁRIOS EM ATRASO, repito!), não altera a sua postura de arrogante e prepotente.
A partir do corrente mês de junho, além daquela trabalhadora que irá ficar privada do seu vencimento pelo oitavo mês consecutivo (OITAVO MÊS CONSECUTIVO SEM RECEBER VENCIMENTO, insisto!), os restantes trabalhadores da Assembleia Distrital de Lisboa também não poderão receber o subsídio de férias e irão ficar sem receber ordenado, não se sabe até quando.
Tudo porque o Dr. António Costa, que tantos elogios lhe merece, considera-se acima da Lei e do Direito, qual ditador, e acha que esta atitude ignóbil é legítima, ou seja: haverá, em seu entender, razões de política mais ponderosas do que o legítimo interesse dos trabalhadores da ADL que, merecem, assim, ser sacrificados em nome de interesses “maiores”.
Mas vergonhosa é, também, a “barrela branqueadora” que muitos dos seus apoiantes têm vindo a fazer de tão vil ato, optando por um silêncio comprometido ou, pior ainda, apresentando justificações para tal que chegam mesmo a tocar as raias da completa insanidade.
E é este o homem que querem ver como primeiro Ministro?
Termino apenas com um esclarecimento: estas minhas duras palavras não são o resultado de nenhuma “manobra” para denegrir António Costa.
São, infelizmente, o resultado de meses consecutivos sem receber vencimento por culpa exclusiva do senhor presidente da Câmara de Lisboa que, incompreensivelmente, tem vindo a obter a conivência passiva dos restantes membros dos órgãos executivo e deliberativo do município que acabam sendo tão culpados quanto ele.

Minuta da Ata da última reunião da ADL, realizada no dia 4 de junho de 2014.




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