A propósito de dívidas à
Segurança Social já aqui vos dei notícia do meu caso.
Um verdadeiro processo de Kafka como então escrevi.
E contrariamente à desculpa
perfeitamente idiota que Pedro Passos Coelho alega em seu favor (desconhecimento
da obrigatoriedade de contribuir para a Segurança Social) ou à ridícula desculpabilização
que o Ministro Mota Soares apresenta para o defender (acusando os Serviços da
Administração de não cumprirem a sua função) comigo a “coisa” é muito mais
complexa.
Inscrita na Caixa Geral de
Aposentações desde 1985, devido à atividade como professora do ensino
secundário que exerci até 1986, quando celebrei o primeiro contrato de prestação
de serviços com a Assembleia Distrital de Lisboa (em 1987) inscrevi-me na
Segurança Social, embora no cadastro apenas conste a data de 1988, presumo que
em virtude de haver um período de isenção inicial para quem inicia a atividade
como empresária em nome individual.
Pouco tempo depois passei a trabalhar
por conta de outrem, com contrato de trabalho a termo certo, sendo contribuinte
da Segurança Social através da Assembleia Distrital pelo que cessei a atividade
como empresária.
Voltei a ser subscritora da Caixa
Geral de Aposentações em 1991, em virtude de ter sido nomeada para ocupar um
lugar do quadro privativo de pessoal da Assembleia Distrital de Lisboa, onde me
mantenho até ao presente.
Em 1994, em paralelo com o
trabalho na Administração Pública, e com a devida autorização do órgão
deliberativo distrital, reabri a atividade como trabalhadora independente (já não
como empresária em nome individual). Pedi, então, isenção da contribuição para
a Segurança Social pois era contribuinte da Caixa Geral de Aposentações, como
as declarações anuais para efeitos fiscais (IRS) o comprovam.
Desde 2008, ano em que cessei a
atividade como trabalhadora independente, que apenas trabalho por conta de
outrem como disso fui dar nota (provando-o documentalmente) à Segurança Social
no dia 2 de janeiro deste ano, em resposta à notificação recebida para atualizar
a “base de incidência contributiva”.
Naquele dia, apesar das dúvidas
que sobre mim lançaram, com afirmações completamente incongruentes e não
provadas (como aquela de que abrira um estabelecimento comercial), lá acabaram
por aceitar os documentos que apresentei e a justificação das Finanças
comprovando a cessação da atividade.
Cerca de 2 meses depois desta primeira
tentativa de esclarecer a situação, em vez do problema estar resolvido afinal
complicou-se ainda muito mais.
Estranhando que quase 60 dias
depois da entrega do requerimento acima referido a informação existente na
minha página da Segurança Social Direta continuasse a indicar uma dívida
referente ao ano de 2014, dirigi-me a semana passada aos balcões da Segurança Social.
E, para meu espanto, fiquei então
a saber que tinha uma dívida não apenas de 2014 como antes me haviam dito mas
desde 1994 a qual ascendia a 29.049,24€ sem juros, como fizeram questão de
esclarecer.
Fiquei de tal forma indignada que
até deixei de raciocinar. E as perguntas começaram a aparecer em catadupa e
perante a incapacidade de resposta da funcionária fui ficando cada vez mais revoltada.
Uma dívida de quase 30 mil euros?
Sobre a qual ainda recaiam juros? Mas como era isso possível? Onde estava o meu
requerimento de 1994 a pedir a isenção? Porque nunca me haviam notificado desta
situação ao longo dos últimos vinte anos e foram deixando acumular a dívida sem
exigir explicações? O que foi feito do meu requerimento a informar que cessara
a atividade em 2008? Por que me esconderam esta informação (da dívida
acumulada) em janeiro e prestaram esclarecimentos errados (de que havia aberto
atividade como comerciante em 2011)?
Como resposta a funcionária ainda
me avisou: que fosse tratar rapidamente do assunto à Segurança Social de
Setúbal (eu fora aos Serviços centrais em Lisboa que não podiam tratar do
assunto por eu ser residente em Almada) porque, se fosse ali em Lisboa, com uma
dívida destas eu já tinha tido o ordenado e a casa penhorados, dando assim a
entender que no outro distrito os colegas eram uns incompetentes e eu até estava
a ser beneficiada com isso.
Não consigo vislumbrar quais
serão os próximos capítulos desta novela surreal. De uma coisa tenho, contudo,
a certeza: NÃO PAGO! NÃO PAGO! NÃO PAGO! Era o que faltava pagar uma dívida
pela qual não sou responsável e que só existe por incúria, desleixo e
incompetência dos Serviços da Segurança Social.
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