sábado, 7 de março de 2015

Quem define o interesse do Município de Lisboa?


"Após a visita levada a cabo por mim [Alberto Laplaine Guimarães, Secretário-geral da Câmara Municipal de Lisboa] e pelo Exm.º Senhor Director Municipal da Cultura à Biblioteca e Arquivo da Assembleia Distrital de Lisboa, não subsistiram quaisquer dúvidas quanto ao não interesse do Município de Lisboa em receber aqueles equipamentos, atentas as características e o estado de conservação dos respectivos acervos"
(afirmação proferida em carta enviada à CADA em 04-03-2015 para justificar a inexistência de relatório com os fundamentos técnicos desta apreciação).

A Biblioteca a que o senhor SG se refere é aquela que as fotografias documentam: uma sala polivalente (de leitura geral mas que também pode funcionar como pequeno auditório), bem arejada, com bastante luz natural, com meios audiovisuais, acesso à internet e espaço para exposições diversificadas (pintura, desenho, fotografia, artesanato... entre outras), no centro da cidade de Lisboa, bem servida de transportes públicos, na proximidade de um jardim frondoso e com estacionamento privado.

Não tem cadeiras forradas em pele ou móveis de madeiras nobres, mesas de luxo ou encadernações a ouro. É um facto. Não tem mesmo. E as obras disponíveis têm a marca do uso que milhares de mãos nelas deixaram aquando da respetiva consulta durante os mais de quarenta anos de existência desta Biblioteca ao serviço da população local.

Em contrapartida dispõe de mais de 30.000 livros em diversas áreas do saber onde se destacam os de olisipografia e ciências sociais (história, etnografia, arqueologia, história de arte, etc) e a mais vasta coleção de publicações periódicas do país (mais de quatrocentos títulos nacionais e estrangeiros).

E a juntar a este importante espólio que o SG da CML desdenha (e, aqui há que destacar a sua "extraordinária" capacidade de avaliação do valor deste acervo apurada sem pegar num único livro e numa visita de escassos minutos de duração) não podemos esquecer as obras editadas pelos Serviços, em particular o "Boletim Cultural" (editado desde 1943) e a série "Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa", obras de méritos reconhecidos e altamente conceituadas nos meios académicos pela elevada qualidade dos artigos e estudos publicados e que embora abranjam todos os municípios do distrito (mas não só) incidem, sobretudo, sobre o concelho da capital.

Mas é esta Biblioteca (encerrada ao público desde 1 de outubro de 2014 devido à falência da ADL provocada, deliberadamente, pela Câmara de Lisboa) que, para o SG da CML, tem "caraterísticas" que não interessam ao Município de Lisboa devido ao "estado de conservação do seu acervo".

Insisto:
Para a Câmara de Lisboa esta Biblioteca (localizada na freguesia de Arroios, numa zona da cidade onde não há outro equipamento do género) não interessa ao município devido às suas caraterísticas (não sabemos é quais são elas pois que a autarquia considera desnecessário identificá-las) e ao estado de conservação do seu acervo (que, na opinião da CML, se presume ser mau ou quiçá péssimo – no entanto recusam-se a apresentar os respetivos critérios de avaliação).

Mas é de perguntar:
Não interessa ao município (à população) ou antes, não interessa ao senhor Secretário-geral Alberto Laplaine Guimarães (que emite o parecer acima referido)?
Ou à senhora Vereadora Graça Fonseca, que subscreveu essa informação e com ela fundamentou a rejeição da Universalidade da Assembleia Distrital?
Talvez, ao senhor Presidente da Câmara António Costa que, por mero capricho pessoal, assumido à margem da lei e à revelia dos órgãos autárquicos, levou a ADL à falência por impedir que fossem pagas, a partir de janeiro de 2012, as quotas a que a câmara estava obrigada legalmente?
Com que objetivos?
Para satisfazer que interesses?

Ou vingar-se de quem?

Sem comentários:

Related Posts with Thumbnails