terça-feira, 10 de março de 2015

Quando a política mata a cultura!


Os critérios subjacentes à recusa da Câmara de Lisboa em aceitar os equipamentos culturais da Assembleia Distrital, em particular a sua Biblioteca, carecem de fundamentação técnica e são meramente políticos. E mesmo neste campo (da política), dada a ausência de qualquer deliberação do órgão colegial executivo, trata-se de apenas mais uma posição pessoal que espelha bem a forma antidemocrática como António Costa se tem relacionado com a Assembleia Distrital (à semelhança da recusa em pagar as contribuições a que, por lei, a autarquia estava obrigada e que levou a entidade à falência, ao encerramento dos Serviços em 01-10-2014 e à existência de trabalhadores com mais de sete meses de salários em atraso).

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Através do ofício n.º 3 da vereadora Graça Fonseca, de 15 de janeiro de 2015, fomos informados de que «após visita à Biblioteca e Arquivo da ADL pelos Secretário-geral e Diretor Municipal da Cultura foi apurado que a transferência daqueles equipamentos não se revestia de interesse para o Município de Lisboa, atentas as caraterísticas e o estado de conservação dos respetivos acervos.»
Em resposta, a ADL esclareceu: «Sobre a falta de interesse do Município de Lisboa na transferência dos equipamentos culturais da Assembleia Distrital apurada após uma breve visita de alguns minutos em que o Secretário- -geral e o Diretor Municipal da Cultura apenas visitaram parte das instalações e sem que fosse analisada qualquer peça do espólio arquivístico e/ou bibliográfico, importa referir que se é verdade que o acervo do Arquivo nos foi entregue pelo Governo Civil de Lisboa em 30-11-2011 em péssimas condições de conservação após terem-no gerido durante mais de vinte anos, o mesmo já não se pode dizer, muito pelo contrário, do estado das obras disponíveis para consulta na nossa Biblioteca a qual tem uma das mais vastas coleções de seriados a nível nacional (com mais de quatrocentos títulos portugueses e estrangeiros) e um extenso acervo na área da olisipografia.»
E, de imediato, foi solicitado à Câmara Municipal o parecer técnico que fundamentara aquela avaliação, bem assim como a deliberação do executivo que determinara a conclusão final. Todavia, o silêncio foi a única resposta obtida o que obrigou à denúncia da situação junto da CADA – Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos.
No esclarecimento prestado à CADA pela CML ficamos a saber que não existe relatório técnico porque a sua “elaboração não foi considerada oportuna nem necessária”.
Para avaliar as caraterísticas e o estado de conservação de centenas de milhar de obras bastou uma simples “passagem de olhos” pelas estantes (não esquecer, contudo, que a maioria dos livros até estão em armários fechados que não foram abertos), sem sequer tocar num único exemplar, durante uma visita de pouco mais de trinta minutos (realizada em 07-11-2014) e durante a qual o SG da CML tratou de outros assuntos que não a avaliação dos bens em causa.
Ainda assim, a sua apreciação foi considerada suficiente para que não subsistissem “quaisquer dúvidas quanto ao não interesse do Município de Lisboa em receber aqueles equipamentos, atentas as caraterísticas e o estado de conservação dos respetivos acervos.”
Afirmação peremptória que, contudo, não impediu o Diretor do Departamento do Património Cultural da CM de Lisboa de, em 15-12-2014, efetuar este “estranho” pedido considerando a falta de interesse e o estado de conservação acima referidos:
«Venho por este meio, no âmbito da dissolução da Assembleia Distrital de Lisboa, solicitar a integração no Centro de Arqueologia de Lisboa do acervo da antiga Biblioteca da Assembleia Distrital de Lisboa, respeitante a toda a bibliografia que diga respeito a estudos arqueológicos, como por exemplo as seguintes obras:
Todos os volumes das quatro séries da revista O Arqueólogo Português.
Revista Conimbriga.
Revista Setúbal Arqueológica.
Revista O Arquivo de Beja.
Revista Guimarães.
Almansor, boletim da Câmara Municipal de Montemor o Novo.
Revista Portugália.
Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa Boletim Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa, Revista Huelva Arqueologica, Revista Madrider Mitteilungen. Outras revistas portuguesas e estrangeiras de arqueologia.
Catálogos de exposições arqueológicas.
Livros de numismática: Ceitis; Moedas do reinado de D. Fernando I.
Azulejaria em Portugal nos séculos XV e XVI, de Santos Simões; Azulejaria em Portugal nos séculos XVII, de Santos Simões; Azulejaria em Portugal no Séc. XVIII, de Santos Simões; Faiança Portuguesa Vol. 1, Séculos XVIII XIX, Arthur Sandão.
Entre outras obras que possam ser úteis para os nossos centros de investigação.»
Para uma Biblioteca que mereceu da parte do Dr. Alberto Guimarães (SG da CML) a apreciação negativa que aqui se apresenta, ter tantas obras que, afinal, até interessam ao Departamento do Património Cultural (e trata-se, somente, da área de arqueologia) da Câmara de Lisboa quando ele afirma, sem margem para dúvidas, que o seu acervo não interessa ao município, só nos pode levar a uma conclusão:
Que os critérios subjacentes à recusa da Câmara de Lisboa em aceitar os equipamentos culturais da Assembleia Distrital, em particular a sua Biblioteca, carecem de fundamentação técnica e são meramente políticos. E mesmo neste campo (da política), dada a ausência de qualquer deliberação do órgão colegial executivo, trata-se de apenas mais uma posição pessoal que espelha bem a forma antidemocrática como António Costa se tem relacionado com a Assembleia Distrital (à semelhança da recusa em pagar as contribuições a que, por lei, a autarquia estava obrigada e que levou a entidade à falência, ao encerramento dos Serviços em 01-10-2014 e à existência de trabalhadores com mais de sete meses de salários em atraso).



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