Por VIRIATO SOROMENHO-MARQUES (Professor universitário). Diário de Notícias, 08-09-2014
«A decisão de António Costa avançar para a disputa da liderança do Partido Socialista só teria hipótese de claro sucesso político se se saldasse numa vitoriosa "guerra-relâmpago" (Blitzkrieg).
Em vez disso, a luta entre costistas e seguristas ao longo de quatro penosos meses está a revelar-se uma autêntica guerra civil socialista, quase tão longa como os 27 anos da Guerra do Peloponeso.
Maquiavel ensinou que todas as vitórias políticas, por mais repugnantes que sejam os meios com que são obtidas, acabam por ser saudadas pelo "vulgo".
Mas há limites, que se prendem, precisamente, com o argumento usado por Costa para tentar destronar Seguro. Se a vitória socialista nas europeias pecava por ser escassa, e se Seguro mostrava incapacidade para ser líder por não reconhecer a magreza dessa vitória, o que dirá Costa, agora, perante uma vitória de 10 contra 9 nas federações?
E no dia 28 de setembro, quando, eventualmente, a sua vitória não revelar o pretendido triunfo esmagador?
O líder carismático não é aquele que acredita sê-lo, mas sim aquele que os outros consideram como detentor de carisma.
A analisar pelos discursos, até nos círculos intelectuais favoráveis a Costa, este está cada vez mais a tombar do céu da ilusão para a planície da normalidade.
No dia 29 de setembro, o PS vai emergir, seja qual for o resultado, exangue, dilacerado e ressentido.
O risco do futuro líder socialista será o de Esparta depois da Guerra do Peloponeso. Poderá ficar à frente de um partido incapaz de impedir a hegemonia dos "macedónios". Sobretudo quando estes partem para as eleições, retemperados por uma sabática, e no calendário que eles próprios irão escolher.»
Sem comentários:
Enviar um comentário