terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Novo porto da Trafaria: o pior do novo-riquismo.



Por Daniel Oliveira

«Álvaro Santos Pereira anunciou que o porto de contentores de Lisboa será transferido para a Trafaria. Esta transferência implica uma intervenção na margem sul do Tejo com um brutal impacto ambiental (podemos mesmo falar de um crime ambiental de enormes proporções) e urbanístico, que poderá mesmo ter repercussões nas praias da Costa da Caparica, um importantíssimo ativo para o turismo na região metropolitana de Lisboa. Não por acaso, parece existir um absoluto consenso no concelho de Almada contra este projeto. E não deixa de ser curioso que o governo que avança com este projeto megalómano seja o mesmo que pôs em banho maria a requalificação planeada para a Costa da Caparica, um dos mais desaproveitados potenciais turísticos do País.
Este projeto obrigará à construção de uma linha ferroviária para dar àquele porto o papel de entrada e saída da Europa, para o qual Sines tem muito melhores condições. O novo porto terá sempre limitações em comparação com o de Sines. O Canal do Panamá terá, em 2014, um calado de 18,3 metros, passando a ser navegável pelos post-Panamax. Uma navegabilidade impossível de conseguir na barra sul do Tejo sem um investimento exorbitante, tendo em conta as características do subsolo. Problema que não existe nem existirá para Sines.
Porto de Lisboa, mais do que o de Sines (adequado para o transshipment), tem um papel fundamental nas exportações e importações. E a origem e destino nacionais das mercadorias (incluindo nos destinos as regiões autónomas) está concentrada a norte do Tejo. Ou seja, a passagem do porto para a margem Sul aumentará os custos de transporte para toda a região que vai de Lisboa a Leiria, aquela para a qual a sua atividade tem maior importância. Sem esquecer que os parques de segunda linha de apoio ao porto de Lisboa estão na Bobadela.
Tendo em conta a situação económica do País, é um mistério porque raio se vão gastar mil milhões de euros naquilo que muito provavelmente se transformará em mais um elefante branco. A prioridade deveria continuar a ser dar ao porto de Sines todas as capacidades para se tornar num porto competitivo no plano europeu e modernizar o porto de Lisboa para cumprir as suas atuais funções.
António Costa aplaudiu esta decisão. A lógica, tal a como a do ministro da Economia, é a de libertar toda a zona ribeirinha da cidade e assim potenciar o turismo. Permitem-me que discorde. Continuando a reabilitar a cidade e a apoiar as infraestruturas de apoio ao turismo, assim como reabilitando as imensas zonas ribeirinhas já libertas pela atividade portuária, Lisboa já tem tudo para ser um dos principais destinos turísticos da Europa. Mas nenhuma capital pode e ou deve ser apenas um cartão postal. Deve diversificar as suas atividades económicas. Deve ter cultura, turismo, serviços, comércio, ndústria não poluente e, como qualquer grande cidade costeira, deve ter atividade portuária. Uma cidade não é um museu. Tem de gerar riqueza para além da que o turismo garante. Não pode pôr todos os ovos no mesmo cesto. A atividade portuária de Lisboa e as que dela dependem empregam cerca de 140 mil pessoas e representam 5% do PIB regional. Uma capital não se pode dar ao luxo de desprezar isto.
A substituição da atividade portuária atual por um novo terminal de cruzeiros faz pouco sentido. Os cruzeiros, apesar de potenciarem o turismo, trazem menos dinheiro em pagamentos de Taxa de Uso Portuário (TUP) do que qualquer outro utilizador e ainda menos dinheiro fazem entrar na cidade: são os turistas que, por já terem toda a oferta hoteleira garantida, menos dinheiro gastam nos seus destinos turísticos. Uns cafés, mas lembranças e pouco mais. Perder um porto para ganhar cruzeiros é um péssimo negócio.
Pelo contrário, a aposta na requalificação da Costa da Caparica e da zona ribeirinha sul do Tejo é fundamental para a diversificação da oferta turística na região. Não se pode pensar o turismo em Lisboa com cada um a olhar para a sua capelinha - e, já agora, não se pode continuar a massacrar as populações da margem sul com sucessivos atentados ao ambiente. O turismo é regional e Lisboa tem, desse ponto de vista, tudo para oferecer: lazer, cultura, património, zonas rurais, um estuário de rio de um valor ambiental inestimável e duas costas de praia extraordinárias. Não se pode destruir parte destas valência para transformar a zona ribeirinha de Lisboa numa enorme esplanada (a monofuncionalidade é a pior opção para qualquer intervenção urbanística). A ideia de transformar Lisboa num cartão postal sem outras atividades económicas e a margem sul numa zona ambientalmente desqualificada é irracional e promove o desequilíbrio na região metropolitana. Um desequilíbrio pelo qual todos, lisboetas e almadenses, pagaremos.
Percebo que muitos lisboetas tenham pouca simpatia estética por contentores. Mas uma cidade não é apenas as suas vistas (e, para quem não se lembre, a Trafaria é o que se vê da zona ocidental de Lisboa) nem acaba nos seus limites administrativos. É um centro de uma região económica. Os contentores estão longe de perturbar a extraordinária beleza da cidade, cumprem uma função que dificilmente será garantida pela Trafaria (que nunca poderá competir com Sines). Este projeto é digno do pior novo-riquismo que durante décadas ajudou a enterrar este país. Felizmente, a inconsequência é uma das características do ministro da Economia. Esperemos que assim continue.»

no Expresso online, 25-02-2013.

6 comentários:

Dias disse...

Esperemos que não consigam!
É pena que a nossa margem ribeirinha não esteja já há alguns anos preenchida com maravilhosos projectos turísticos. Agora já não haveria espaço para os tais contentores.É uma pena que deste lado exista tanto espaço desprezado! Sei que a nossa Câmara já está a defender a situação, esperemos que tenham força para parar esta aberração.

Dias disse...

Por outro lado, se isto vai criar postos de trabalho, então em vez de terrenos desprezados,vamos dar emprego que esta nossa margem bem precisa!

soliveira disse...

O ambiente é de máxima importãncia e deve ser protegido a todo o custo.
A esquerda em geral e os comunas de Almada em particular, arrogam-se de grandes defensores do ambiente;
Devido à construção do mst, só na principal avenida de Almada, o AMBIENTE familiar de mais de oitocentas pessoas, foi destruído pelo desmprego subito.
A criação de uma empresa de caça à multa no concelho, levou à destruição do AMBIENTE comercial e económico que arrastou a vida da cidade.
A tentativa de destruição das explorações agricolas nas terras da Costa, com perseguições aos legitimos trabalhadores que dali tiram o seu sustento, está na base de um conceito de AMBIENTE muito peculiar.
Os atrasos do polis, "que se pretendem atribuir a este governo", veja - http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=42093&tm=8&layout=121&visual=49 - , são um completo embuste do famigerado AMBIENTE de falta de tolerancia, de falta de respeito, de ausência de critérios de equilibrio que são imagem de marca do elenco czarista da camara de Almada.
A vila da Trafaria é, dona de um AMBIENTE decadente onde o entulho urbano serve ao longo destas décadas para justificar promessas, ilusões, amanhãs que cantam, mas que não passa disso mesmo, entulho, porcaria, ruas nos buracos, pobreza, desilusão social e económica, ausência de perstectivas, (pelo menos até agora).
É este o AMBIENTE que os comunas querem preservar?

Anónimo disse...

Do Daniel Oliveira pouco há a dizer, o homem sabe tudo sobre tudo e quando fala de alguma coisa todos à sua volta são ignorantes.
.
Da Trafaria, é uma aldeia de idosos (e com cada vez menos população, de acordo com os censos), cuja freguesia vai ser anexada na Caparica, e que tem bairros como o Torrão (ouvindo a sra. Maria Emília somos levados a pensar que é uma espécie de Quinta da Marinha).
Tirando 3 ou 4 restaurantes cujos clientes estão a desaparecer, quase só é conhecida como atividade a apanha ilegal de ameijoa contaminada.
Preservação do ambiente? estão a falar do quê precisamente?

Anónimo disse...

Como é que uma Câmara que anda há 30 anos a destruir Almada e o AMBIENTE neste pedaço da margem sul tem o desplante de se arvorar em defensora do AMBIENTE e da qualidade de vida das pessoas.
Veja-se o estado do Ginjal, o estado dos terrenos da Lisnave, o estado da Costa da Caparica, o estado do Porto Brandão, o estado de Cacilhas, com a «emblemática» requalificação urbana da Rua Cândido dos Reis, com o que quis fazer das terras da Costa, o que quer fazer de Cacilhas construindo duas torres destruindo o morro para negócio imobiliário, o estado de Almada com o magnífico MST, o Tolan de Almada que é o esqueleto da fragata em decomposição em Cacilhas glorificada pelos autarcas e muito mais haveria a dizer para se concluir que este elenco camarário só fez e faz muito mal a Almada, que toda a oposição tem colaborado com estes estalinistas na destruição do concelho e no desrespeito pela democracia e pelos almadenses.
Sensatez é preciso e não é com gente incompetente na Câmara e na oposição que Almada e o concelho se reabilitam.
É lamentável que a Trafaria se encontre num estado deplorável, porque se alguma vez esta localidade tivesse tido a requalificação que muito bem merecia baseada no seu potencial turistico e situação geográfica privilegiada, talvez nunca alguém pensasse em construir aí um terminal de contentores.
Há que responsabilizar alguém pela situação caótica da Trafaria e esse alguém tem nome: as pessoas que têm estado à frente da CMA + os amigos da oposição.
Não vale virem agora carpir, porque vertem lágrimas de crocodilo e até talvez estejam interessados em mais este negócio e dividendos futuros para equilibrar a reforma pessoal de uns quantos ditos sempre amigos ( falsos) do AMBIENTE.
Sinceramente...Tenham Vergonha e respeitem as pessoas. Não utilizem pessoas honestas e humildes da Trafaria como armas para protegerem gente corrupta metida na política.

A Trafaria merece um futuro melhor e não é com com terminal de contentores mas também não merece ter a defendê-la quem está na Câmara Municipal e nunca esteve interessada no progresso e desenvolvimento da terra e suas gentes.
A demagogia e a hipocrisia, a insenzates e a falsidade das pessoas só faz mal à Trafaria.

A CMA só está, infelizmente e camufladamente interessada ma miséria local porque é entre a miséria e a falta de cultura que angaria votos. Lamento que haja gente dita informada e com alguma cultura que ainda acredite nos métodoss estalinistas da Maria Emilia e capangas e vá atrás de seu chorinho.

O que esperam dela e deles?
Serem trucidados por ela e eles como Estaline fez áqueles que colaboraram com ele depois que conseguiu acabar com as classes, os operários e camponeses na URSS. liquidando até elementos do partido?

Estaline tinha muto respeito por Hitler e Hitler retribuia na mesma moeda, o que não impediu este de romper o Pacto com Estaline.
O totalitarismo floresce onde os cidadãos não são capazes de defender a democracia, de pensar pela sua cabeça, de terem opiniões críticas e racionais e se entregam nas mãos de quem sendo medíocre se diz génio.

A Trafaria nunca foi defendida pela Câmara de Almada e por isso mesmo a CMA não tem idoneidade moral para arregimentar o povo enganando-o e levando-o a acreditar que os maus são outros.
Os maus e inimigos são outros.
Os inimigos da Trafria estiveram sempre em Almada.

Só o povo da Trafaria tem moral para com sua voz, vontade, determinação e garra defender a sua terra, expulsando os vendilhões e oportunistas...os judas e reivindicar um futuro com dignidade para si.
Quem tem vindo a enterra a Trafaria à 30 anos não merece respeito nem colaboração. Deveria ter vergonha de aparecer agora como amigo da Trafaria.
Um equívoco, são "amigos de peniche"!

Pvuden disse...

A Trafaria se for requalificada, isto é, restaurando e mantendo a zona antiga da trafaria de fiel à sua tradição arquitectónica, pode-se transformar num destino turístico importantíssimo. Com os barcos da trafaria a fazerem ligação com Lisboa e com as praias da caparica ao lado. Esta pequena vila pisccatória,"pitoresca", que já foi, pode voltar a sê-lo. É com enorme tristeza que vejo a Trafaria desprezada do seu potencial valor. Certos "mamarrachos" que lá foram construidos puseram em causa a sua originalidade e potencialidade turistica. Penso que a Trafaria ainda pode ser salva desde que haja investimento sensato nesta zona. E QUE O PORTO NÃO SEJA CONSTRUIDO!

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