Coube-me a mim, com muita honra, no passado dia 4 de junho, na
Escola Secundária Cacilhas – Tejo, fazer a apresentação do livro O lugar das coisas, de Miguel Almeida, em nome da associação Poetas Almadenses, um grupo de amigos que, entre outras atividades,
se reúnem no último sábado de cada mês para as suas sessões de “Poesia Vadia”,
desde março de 2003.
Trago-vos hoje aqui um resumo daquele que foi o meu discurso e é pena que não posso ilustrá-lo ao
vivo em cada “paragem do caminho” (ou seja, em cada capítulo), como aconteceu a quando da sessão de lançamento, com a leitura de poemas
por Amélia Cortes, Clara Mestre, Gertrudes Novais e Luís Alves, quatro dos melhores declamadores do grupo de Poetas Almadenses.
Depois de cumprimentar todos os presentes, comecei assim:
«Antes de continuar, deixem que vos esclareça de um pormenor
que faz toda a diferença: não sou crítica literária mas uma mera amante
da poesia, que observa a palavra escrita com os “olhos do coração”. Por
isso, não esperem de mim uma apreciação erudita desta obra… em contrapartida, podem contar com
uma breve viagem pelas emoções que senti consoante fui lendo cada poema deste
livro.
Para mim, a poesia é a forma mais livre de expressar sentimentos
e, por isso mesmo, deve ser apreciada (ou não) mas nunca julgada. Talvez
seja utópica, mas não concebo a poesia amarrada a quaisquer espartilhos de
estilo, métrica ou rima que, por vezes, fazem o autor escrever não o que
verdadeiramente sente mas aquilo que melhor se encaixa nas apertadas regras e
parâmetros que servem para aferir da suposta qualidade literária dos poemas que
connosco quer partilhar.
Passemos, então, ao livro que hoje aqui
nos trouxe, criado para uso do poeta (conforme assim o diz a expressão
latina que encabeça o título desta obra: O
lugar das coisas) mas que a partir do momento em que chega às nossas mãos,
leitores de Miguel Almeida, adquire um novo objetivo: fazer o nosso
deleite enquanto viajamos por entre os versos como se estes fossem lugares onde
os sentimentos estão pacientemente à espera que os encontremos.
Como um roteiro de sensações, iniciemos a nossa viagem,
Começamos pelos instantâneos da origem (da p. 11 à p. 23), lugar onde as palavras nascem soltas, breves, arrojadas na sua nudez
orgulhosamente simples… aí encontramos, sobretudo, a SURPRESA e o ESPANTO e uma pitada de DESASSOSSEGO.
Passamos ao ato da criação (da p. 27 à p. 38): um lugar de emoções fortes e onde Miguel Almeida “ESPALAVRA IDEIAS”, como quem semeia letras em
folhas de papel fértil e colhe poemas escritos, já maduros, prenhes de
sentimento. Ali residem a DÚVIDA e a INCERTEZA, passa-se pela DESILUSÃO
e vislumbra-se a ESPERANÇA.
E chegamos à verdadeira essência da identidade do autor: ser poeta (da p. 41 à p. 52). LIBERDADE é a palavra mágica que se apropria do diálogo poético e
aproxima o homem de Deus. Moram aqui a REALIDADE mas também o
SONHO, e entre uma e outro, descansa o poeta do árduo trabalho da
criação.
Mas a nossa viagem está longe de terminar e muito há ainda
para descobrir…
Façamos, agora, uma incursão pelo interior substantivo do
livro, denso e protegido dos arroubos iniciais. Aparecem-nos os dons & deveres no qual navegam
mais dez poemas (da p. 55 à p. 66). Aqui o SILÊNCIO da palavra
escrita ouve-se por entre as sílabas que escondem a SABEDORIA que as transforma em poema e nos deixam estarrecidos
perante tanta beleza.
E o cenário mantém-se na etapa que se segue: a das palavras & silêncios (da p. 69
à p. 81), numa busca incessante do SAGRADO mas onde o PROFANO invade,
despudorado, os cantos e recantos de cada verso.
Continuando a “caminhada”, avistam-se as artes & ofícios, mais dez poemas (da
p. 85 à p. 97) que nos trazem a PRUDÊNCIA, mas também a INQUIETAÇÃO,
que nos mostram como se constrói o poema e para que serve a poesia. Um retrato
pintado com IMAGINAÇÃO e muita EMOÇÃO.
A seguir não podemos deixar de nos surpreender com o
aparecimento da SENSUALIDADE que espreita no voltear de cada um
dos gostos & prazeres
( da p. 101 à p. 114) que nos são oferecidos em bandejas de palavras cantantes
de melodias serenas…
A nossa próxima visita é, talvez, aquela onde a voz do poeta
cala mais fundo: situações
& sensações (da p. 115 à 128) apresenta-nos a SOLIDÃO e leva-nos a navegar por paragens onde a DOR e o MEDO estão tão presentes que é difícil não sentir arrepios
ao ler cada um dos dez poemas deste capítulo.
Contudo, a virtude da espera leva-nos a bom porto:
Vida & talvez
coração (p. 131 à p. 144) campo fecundo onde a PARTILHA é total e faz germinar poemas sobre aquilo que de mais
íntimo o poeta sente, como seja o AMOR. E nós & os outros (p. 147 à p. 158) um canto à vida onde o vazio
se preenche com POESIA. O poder da palavra escrita,
simplesmente…
E chegamos ao fim com vontade de voltar ao início e retomar a
marcha, fazendo o mesmo exato percurso pois decerto novas emoções floriram
entretanto: este é um dom do Miguel Almeida que não sei explicar… a sua
extraordinária capacidade em multiplicar sentidos em cada um dos seus versos,
emoções que se descobrem a cada nova leitura como se esta fosse a primeira, e
nos confere a liberdade de reinterpretar o poema mais uma vez.»
Este é, portanto, um livro que vos aconselho. Vão gostar de o
ler, com toda a certeza.
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