Vem este artigo a propósito da crónica de Vasco Pulido
Valente no jornal Público de ontem. Uma
crónica curta mas mordaz, prenhe de uma raiva cega e incontida contra os
funcionários públicos que me deixou extremamente revoltada.
Retirar o subsídio de férias e de Natal só é possível de
fazer a quem os recebe (trabalhador no ativo ou reformado). Consequentemente, pouco
interessa se esse alguém trabalha (ou trabalhava) no setor público ou privado…
a injustiça do ato é idêntica em ambos os casos porque esses subsídios são, na
minha opinião, um direito de cada um em termos de igualdade.
Mas VPV, do alto da sua soberba, vem falar de equidade e
considera que retirar aqueles subsídios apenas aos funcionários públicos é uma
questão de lógica e de bom senso. Alega que setor publico e privado são duas
realidades diferentes. É um facto que o são. Mas o que está em causa é um direito
universal de quem trabalha, independentemente de quem é o seu patrão.
VPV apresenta justificações boçais e mesquinhas e não se coíbe
de dizer uma série de disparates para fundamentar a sua teoria: a de que os
funcionários públicos são, afinal, os culpados pelos erros dos sucessivos Governos
e, por isso, devem pagá-los do seu bolso. Além disso são, ainda, os
responsáveis pelo desemprego do setor privado e por isso há que os responsabilizar
retirando-lhes os subsídios de férias e de Natal… esqueceu-se de dizer que além
desse roubo perpetrado em 2012, os funcionários públicos já estão a ser lesados,
desde o início de 2011, com uma percentagem de redução no seu salário mensal.
VPV parte do princípio que, em matéria de gestão financeira,
o Estado é quase sempre irresponsável e os privados são, normalmente, responsáveis.
Por isso, como a nossa Justiça nunca puniu os governantes pelos seus
presumíveis crimes, há que fazer os funcionários públicos pagar por essa falha
do sistema. Fala como se não houvesse gestores incompetentes no setor privado e
todo o tostão ganho fosse racionalmente empregue, um retrato que contratas com
aquela que é a realidade do nosso país onde muito do nosso atraso em termos
económicos também deriva da falta de visão dos empresários… generalizar nunca
foi solução.
Depois de ler o texto de VPV ficamos com a noção de que o
funcionário público é estrangeiro (portugueses são apenas os do setor privado),
um malandro e criminoso (por oposição aos indefesos trabalhadores do setor
privado, embora em geral seja inócuo, se for anónimo), um oportunista privilegiado
(pois conseguiu o lugar por “pressão pessoal ou partidária”) e goza de benesses
que mais ninguém tem. Apesar de ser incompetente e preguiçoso tem dotes de
malabarista pois consegue, afinal, trabalhar em acumulação de funções no setor
privado.
Gente assim merece, de facto, que lhe retirem não apenas os subsídios mas o próprio ordenado! Mas fica-me a dúvida: e os reformados, terão os seus crimes já prescrito?
Apetecia-me chamar-lhe nomes feios. Mas fico-me por um
simples: bem-haja! Penso que não merece mais do que isso, coitado.
1 comentário:
Coitado???!!!
Este país, devería ser dividido em duas partes incomunicáveis entre si, com orçamentos zero, pelo menos por algum tempo para se verificar onde a irresponsabilidade grassa;
Uma parte, seríam só funcionários públicos, passavam licenças uns aos outros, orçamentavam-se uns aos outros, remuneravam-se uns aos outros,ofereciam prendas uns aos outros, promoviam-se uns aos outros, e ao fim de algum tempo, não sei se dois meses seríam suficientes, iríamos ver quem é que se revelava auto suficiente, quem é que na realidade criava a riqueza que permite tudo,quem é que esbanjava, quem é que precisava de quem.
Isto, como diz, VPV, e muito bem, revela como o instrumento da equidade deve ser utilizado.
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