Apesar de nas eleições
autárquicas do passado dia 29 de setembro ter havido, em Almada, mais 2.192 eleitores
inscritos do que em 2009, em 2013 foram às urnas menos 10.578 munícipes o que
fez subir a abstenção de 52% para 59%.
Dos 41% que exerceram o seu dever
de cidadania há, contudo, a salientar que o voto validamente expresso nos
partidos concorrentes representou somente 32% pois 9% dos eleitores decidiu
votar em branco ou optou por anular o seu voto.
No total, esta forma de protesto
(que entre 2009 e 2013 subiu, em média, uns expressivos 93%) colheu o aval de
5.299 almadenses (em referência à votação para a Câmara Municipal) o que faz
dos VBN – Votos Brancos e Nulos a quarta “força política” do nosso concelho, depois
da CDU – 23.466 votos, do PS- 15.586 votos e do PSD – 8.440 votos, mas muito
acima do BE – 3.250 votos, do CDS – 1.502 votos e do PAN – 1.408 votos.
O que nos pretendem mostrar todos
os que se expressam desta forma (votando em branco ou anulando o seu voto)? Chego
a pensar se o descrédito que os políticos atuais lhes merecem (por isso acharam
que nenhum dos candidatos merecia a sua confiança) não será também uma forma
subliminar de mostrar que querem uma solução alternativa às que se
apresentaram, como se votassem numa espécie de “partido inexistente” (quem diz
partido diz grupo de cidadãos) que não existe mas que está a fazer falta…
Para que possamos avaliar bem o
peso dos VBN, vejamos o que eles representam relativamente à votação dos
partidos: 23% dos votos da CDU, 34% dos votos do PS e 63% dos votos do PSD. E
mesmo juntando a votação do BE e do CDS os VBN ultrapassam-nos em mais 547
votos.
Se estes dados não são um sinal
claro de alerta e se a sua leitura e interpretação deixarem os partidos
indiferentes então sim, devemos ficar seriamente preocupados com a saúde da
nossa Democracia pois que, por mais legitimidade que os vencedores de atos
eleitorais nestas condições tenha (e têm-na de forma inquestionável, cumpridas
que foram todas as regras e procedimentos legais para o efeito) há uma larga maioria
absoluta da população que se sente arredada do sistema e nele não confia.
Uma maioria absoluta conseguida que
vale 39% dos votantes é uma vitória a celebrar. Já por diversas vezes aqui
disse que a CDU de Almada merece os parabéns por tal facto. Mas não podemos
esquecer que essa votação representa somente 16% do eleitorado (ainda assim uma
vitória substancial quando comparada com os votos nos outros partidos que
significam muito menos: PS – 10%, PSD – 6%; BE – 2% e CDS – 1%) e, por isso
mesmo, não deixa de ser preocupante e não é suficiente, portanto, para as
habituais soberbas e arrogâncias de quem acha que vindo de uma maioria relativa
no mandato anterior, uma maioria absoluta espelha, sempre, um aumento da confiança
do eleitorado no respetivo partido (lembro que a CDU em Almada, na votação para
a Câmara Municipal, perdeu 4.055 votos).
Desse descontentamento
generalizado dos almadenses são sintoma, por exemplo, a multiplicidade de “recados”
que se podem observar em alguns boletins de voto destas últimas autárquicas,
uns mais interessantes que outros é certo, mas reflexo, todos eles, de uma
intenção única: anular o voto. Vejamos, então, algumas mensagens (segundo
testemunho de um dos elementos que tem estado a participar na Mesa da
Assembleia de Apuramento Geral, Luís Filipe Pereira, e que fez questão de o partilhar publicamente no seu mural na rede social Facebook):
- O Povo está primeiro;
- Não contam com o meu voto;
- Vão para o C......;
- São todos iguais;
- Queriam € 3;
- Todos a roubar;
- Queremos as árvores de volta;
- Abaixo os corruptos;
- Já não acredito nestes
políticos;
- Contra A33;
- ECALMA X;
- Contra o aborto ortográfico;
- Não escolho ninguém para nos
roubar;
- Limpem mais a cidade;
- Sempre juntos;
- 23 de Julho às escuras;
- Puta que vos pariu a todos;
- São todos uns merdas;
- São todos ladrões;
- Ninguém vai roubar nem mais 1€
do comer dos meus filhos;
- Chega de incompetência;
- Quero o meu país de volta;
- Votar só serve para mudar de
amo, nunca para deixar de ser escravo;
- O meu sentido de voto é branco,
voto nulo por segurança;
- Não aos contentores na
Trafaria;
- Há crianças a sofrer! Vocês são
culpados! Não valem nada!;
- São chulos do povo;
- Não ao roubo das nossas
reformas;
- Arranjem-me um emprego;
- Amo-te Rute;
- Por uma CMA mais bonita, vota
Hollywood;
- Trafaria;
- Voto em mim;
- Benfica;
- Obama X;
- Vão cavar;
- Qual eleição um gajo quer é
arruaça;
- Bandidos;
- Olá malta adoro-vos;
- Tenho a família desempregada;
- Não obrigado!;
- Não há ninguém que mereça a
minha cruz;
- Não voto em parasitas;
- Estamos perdidos.
Estas são apenas algumas pistas
para que possamos encetar uma reflexão urgente e necessária.
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