sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Almada: VBN quarta “força política” nas autárquicas.




Apesar de nas eleições autárquicas do passado dia 29 de setembro ter havido, em Almada, mais 2.192 eleitores inscritos do que em 2009, em 2013 foram às urnas menos 10.578 munícipes o que fez subir a abstenção de 52% para 59%.

Dos 41% que exerceram o seu dever de cidadania há, contudo, a salientar que o voto validamente expresso nos partidos concorrentes representou somente 32% pois 9% dos eleitores decidiu votar em branco ou optou por anular o seu voto.

No total, esta forma de protesto (que entre 2009 e 2013 subiu, em média, uns expressivos 93%) colheu o aval de 5.299 almadenses (em referência à votação para a Câmara Municipal) o que faz dos VBN – Votos Brancos e Nulos a quarta “força política” do nosso concelho, depois da CDU – 23.466 votos, do PS- 15.586 votos e do PSD – 8.440 votos, mas muito acima do BE – 3.250 votos, do CDS – 1.502 votos e do PAN – 1.408 votos.

O que nos pretendem mostrar todos os que se expressam desta forma (votando em branco ou anulando o seu voto)? Chego a pensar se o descrédito que os políticos atuais lhes merecem (por isso acharam que nenhum dos candidatos merecia a sua confiança) não será também uma forma subliminar de mostrar que querem uma solução alternativa às que se apresentaram, como se votassem numa espécie de “partido inexistente” (quem diz partido diz grupo de cidadãos) que não existe mas que está a fazer falta…

Para que possamos avaliar bem o peso dos VBN, vejamos o que eles representam relativamente à votação dos partidos: 23% dos votos da CDU, 34% dos votos do PS e 63% dos votos do PSD. E mesmo juntando a votação do BE e do CDS os VBN ultrapassam-nos em mais 547 votos.

Se estes dados não são um sinal claro de alerta e se a sua leitura e interpretação deixarem os partidos indiferentes então sim, devemos ficar seriamente preocupados com a saúde da nossa Democracia pois que, por mais legitimidade que os vencedores de atos eleitorais nestas condições tenha (e têm-na de forma inquestionável, cumpridas que foram todas as regras e procedimentos legais para o efeito) há uma larga maioria absoluta da população que se sente arredada do sistema e nele não confia.

Uma maioria absoluta conseguida que vale 39% dos votantes é uma vitória a celebrar. Já por diversas vezes aqui disse que a CDU de Almada merece os parabéns por tal facto. Mas não podemos esquecer que essa votação representa somente 16% do eleitorado (ainda assim uma vitória substancial quando comparada com os votos nos outros partidos que significam muito menos: PS – 10%, PSD – 6%; BE – 2% e CDS – 1%) e, por isso mesmo, não deixa de ser preocupante e não é suficiente, portanto, para as habituais soberbas e arrogâncias de quem acha que vindo de uma maioria relativa no mandato anterior, uma maioria absoluta espelha, sempre, um aumento da confiança do eleitorado no respetivo partido (lembro que a CDU em Almada, na votação para a Câmara Municipal, perdeu 4.055 votos).

Desse descontentamento generalizado dos almadenses são sintoma, por exemplo, a multiplicidade de “recados” que se podem observar em alguns boletins de voto destas últimas autárquicas, uns mais interessantes que outros é certo, mas reflexo, todos eles, de uma intenção única: anular o voto. Vejamos, então, algumas mensagens (segundo testemunho de um dos elementos que tem estado a participar na Mesa da Assembleia de Apuramento Geral, Luís Filipe Pereira, e que fez questão de o partilhar publicamente no seu mural na rede social Facebook):
- O Povo está primeiro;
- Não contam com o meu voto;
- Vão para o C......;
- São todos iguais;
- Queriam € 3;
- Todos a roubar;
- Queremos as árvores de volta;
- Abaixo os corruptos;
- Já não acredito nestes políticos;
- Contra A33;
- ECALMA X;
- Contra o aborto ortográfico;
- Não escolho ninguém para nos roubar;
- Limpem mais a cidade;
- Sempre juntos;
- 23 de Julho às escuras;
- Puta que vos pariu a todos;
- São todos uns merdas;
- São todos ladrões;
- Ninguém vai roubar nem mais 1€ do comer dos meus filhos;
- Chega de incompetência;
- Quero o meu país de volta;
- Votar só serve para mudar de amo, nunca para deixar de ser escravo;
- O meu sentido de voto é branco, voto nulo por segurança;
- Não aos contentores na Trafaria;
- Há crianças a sofrer! Vocês são culpados! Não valem nada!;
- São chulos do povo;
- Não ao roubo das nossas reformas;
- Arranjem-me um emprego;
- Amo-te Rute;
- Por uma CMA mais bonita, vota Hollywood;
- Trafaria;
- Voto em mim;
- Benfica;
- Obama X;
- Vão cavar;
- Qual eleição um gajo quer é arruaça;
- Bandidos;
- Olá malta adoro-vos;
- Tenho a família desempregada;
- Não obrigado!;
- Não há ninguém que mereça a minha cruz;
- Não voto em parasitas;
- Estamos perdidos.


Estas são apenas algumas pistas para que possamos encetar uma reflexão urgente e necessária.

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