«A Assembleia Distrital de Lisboa disse recentemente que não vai conseguir pagar os salários desetembro aos seus quatro funcionários, porque as autarquias do distrito lhe
devem 94 mil euros.
O secretário de Estado da
Administração Local disse à Lusa que o Governo pretende "rever as regras
sobre as Assembleias Distritais (AD)" depois das eleições autárquicas mas
não antecipou cenários porque quer que esta reforma seja "discutida com os
autarcas".
"Este é um tema que para alguns autarcas é sensível. O momento prudente para mexer nesta matéria é
depois das eleições autárquicas", afirmou António Leitão Amaro, lembrando
que o Governo já iniciou a reforma das AD, tratando da reafetação patrimonial
destas entidades.
O secretário de Estado
lembrou que, logo que entrou em funções, "este Governo mostrou uma visão
muito própria sobre as Assembleias Distritais, dizendo que, no respeito da
Constituição, que as prevê, estas instituições são estruturas que não estão
adaptadas à organização administrativa e às necessidades maiores do país".
No entanto, e embora tenha
garantido que depois das autárquicas de 29 de setembro haverá novidades sobre
esta matéria, preferiu não antecipar cenários sobre que forma vão tomar estas
novas regras.
Formalmente existem 18
Assembleias Distritais, mas, lembrou Leitão Amaro, "outra questão é quais
estão ativas". Quando o Governo pediu às AD que reportassem o seu
património, obteve três respostas, de Beja, Lisboa e Viseu.
Isto, considerou, "é
muito demonstrativo da situação das AD no país".
Apesar de terem autonomia
administrativa, financeira e patrimonial, as AD vivem das contribuições das
autarquias que as constituem e estão impedidas de contrair empréstimos, mesmo
perante graves problemas de tesouraria, o que dificulta a gestão e a
recuperação do património que possuem, maioritariamente herdado das estruturas
equivalentes anteriores, como as Juntas Distritais, extintas em 1976.
A Assembleia Distrital deLisboa (ADL), por exemplo, disse à Lusa que não vai conseguir pagar os salários de setembro aos seus quatro funcionários, porque as autarquias do distrito lhe
devem 94 mil euros.
Até 1991, as AD eram
presididas pelo governador civil e serviam como plataforma de encontro entre os
autarcas e o representante do Governo no distrito, para esclarecimentos e
sugestões sobre os projetos governamentais.
Atualmente o seu papel está
reduzido e até já houve distritos que decidiram esvaziar estas estruturas, como
Faro e Santarém. O secretário de Estado estima que haja cerca de 50
funcionários afetos a estas entidades.
"Há, de facto, uma ou
outra AD que tem trabalho e presta serviços efetivos. Mas a verdade é que os
serviços que presta não são os serviços que a Constituição lhe atribui. As AD
são órgãos deliberativos - discutem assuntos, e, eventualmente, tomam
posições. Os serviços que existem [hoje] numa ou outra AD são serviços do tipo
executivo e administrativo. Isto não é o que Constituição lhes pede, [mesmo que
possam ser] serviços importantes", concluiu.»
Fonte: Jornal I
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E
é por causa desta falta de conhecimento atroz sobre as assembleias distritais (que
não é desculpável a nenhum título) que o Governo demonstra que eu fico
preocupada, e muito, com essa reforma que aí vem (entre outros motivos que não
vale a pena aqui enumerar por serem demais conhecidos de todos nós).
Afirmar:
«Há, de facto, uma
ou outra AD que tem trabalho e presta serviços efetivos. Mas a verdade é que os
serviços que presta não são os serviços que a Constituição lhe atribui. As AD
são órgãos deliberativos - discutem assuntos, e, eventualmente, tomam posições.
Os serviços que existem [hoje] numa ou outra AD são serviços do tipo executivo
e administrativo. Isto não é o que Constituição lhes pede, [mesmo que possam
ser] serviços importantes».
É
de arrepiar! Asneira do princípio ao fim! Ou seja, para o senhor Secretário de
Estado,
O
Museu Rainha D. Leonor, da Assembleia Distrital de Beja,
O
Museu de Arqueologia e Etnografia, da Assembleia Distrital de Setúbal,
Os
Serviços de Cultura (Arquivo Distrital, Biblioteca, Setor Editorial, Núcleo de
Investigação e Museu Etnográfico), da Assembleia Distrital de Lisboa,
São
simples “serviços de tipo executivo e administrativo”? Ora bolas! E nós a
pensarmos que eram serviços culturais!
E
por acaso será que o senhor Secretário de Estado conhece mesmo o texto do
artigo 291.º da Constituição da República Portuguesa? É que esse artigo apenas
refere que até à criação das regiões administrativas manter-se-á a divisão
distrital e que haverá em cada distrito uma assembleia deliberativa composta
por representantes dos municípios nos temos a definir por lei. Não existe uma
única atribuição ou competência enunciada. Acho que o senhor Secretário de
Estado está bastante confuso…
Conhecerá
o senhor Secretário de Estado o Decreto-Lei n.º 5/91, de 8 de janeiro? Nomeadamente
o teor do seu artigo 6.º? Parece-me que não! Caso contrário não diria tanta
asneira.
Estabelece
o artigo 6.º do diploma atrás citado que compete à assembleia distrital,
nomeadamente:
«Deliberar
sobre a criação ou manutenção de serviços que, na área do distrito, apoiem
tecnicamente as autarquias locais»;
«Deliberar
sobre a criação e manutenção de museus etnográficos, históricos e de arte local»;
«Deliberar
sobre a investigação, inventariação e conservação dos valores locais e
arqueológicos, históricos e artísticos e sobre a preservação e divulgação do
folclore, trajos e costumes regionais».
Assim
sendo, mantém o senhor Secretário de Estado que a missão cultural que os
serviços atrás identificados desenvolvem (Museu Regional de Beja, Museu de
Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal e Serviços de Cultura da
Assembleia Distrital de Lisboa) não cumpre com as atribuições que cabem aos
respetivos órgãos tutelares (as assembleias deliberativas que a Constituição
prevê)?
Saberá,
por ventura do que é que está a falar quando se refere às Assembleias
Distritais? Terá noção de que, no país, a realidade é muito diversa e cada
distrito é um caso?
Perante
as declarações ao jornal I é evidente que desconhece o que se passa mas também
não se coibiu de mentir. Mentir. Sim! Porque, seguramente, não é por falta de informação… estou em crer que é mesmo por intenção deliberada em lançar poeira
sobre a opinião pública que este tipo de afirmações são veiculadas, já que o
tema tem sido tabu e muito pouco (ou mesmo nada) interessa à maioria das
pessoas que desconhece o que são as Assembleias Distritais, apesar de muitos usufruírem
dos serviços prestados por estas entidades.
Mas
ainda há mais.
Afirma
o senhor Secretário de Estado que «o Governo já iniciou a reforma das AD,
tratando da reafetação patrimonial destas entidades». Deve estar a brincar, com
certeza.
Já
tratou da reafetação patrimonial? Como é isso possível sem que tenha havido
alteração do artigo 291.º da Constituição e se mantenha inalterado o regime
jurídico estabelecido pelo Decreto-Lei n.º 5/91, de 8 de janeiro?
Querem
lá ver que o confisco que este Governo pretendia fazer ao património predial das Assembleias Distritais (passando-o automaticamente para a posse do Estado e
sem pronúncia dos seus legítimos proprietários), conforme assim vinha expresso
na proposta de lei do OE 2013, e que depois foi corrigido na versão final (após
pressão da ANMP e das Assembleias Distritais), acabou mesmo por acontecer?
Se
para a maioria das assembleias distritais isto não é preocupação pois não são
detentoras de bens imobiliários que despertem a cobiça do Governo, o mesmo já
não se pode dizer das Assembleias Distritais de Castelo Branco, Porto e Santarém,
mas em especial a de Lisboa cujo património predial (distribuído pelos concelhos da Amadora, Lisboa, Loures e Odivelas) está avaliado em quase meia
centena de milhão de euros.
Sobre
esta matéria irei ainda escrever mais em detalhe porque a situação é deveras
complexa. Pelo que fico-me por aqui. Até breve.
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