Carta enviada a um camarada em 17-07-2011 (já
depois de ter renunciado aos cargos autárquicos mas ainda antes de ter saído,
definitivamente, do BE) a cujo texto foram, por razões de privacidade,
retirados os excertos que poderiam identificar a pessoa a quem se dirigia:
«Dirijo-te esta missiva em virtude de me terem
feito chegar uma tua mensagem onde sou citada (dela
extrai o parágrafo necessário e que adiante
transcrevo). E porquê decidi não ficar calada? Simples: o teu texto, no enquadramento que lhe dás, pressupõe um
juízo errado sobre mim que não posso
deixar passar sem comentar por ele me parecer o reflexo de uma análise precipitada, quiçá influenciada por formulações
opinativas de terceiros, deliberadamente
tendenciosas. E porque essa mensagem foi
enviada a um conjunto de pessoas, também a elas darei conhecimento desta minha resposta.
Confesso que, sinceramente, não esperava de ti
um comentário deste estilo (encerrando na sua
formulação preconceitos graves) pois, apesar das tuas muitas ausências (…) sempre te considerei uma pessoa frontal e alguém capaz de pensar pela própria
cabeça.
Lembro, a propósito, a tua carta/desabafo de
Dezembro de 2006 (que remeteste a vários aderentes do
BE Almada, entre os quais eu própria) e onde fazias o balanço da actuação do BE
na Assembleia Municipal de Almada, (…),
ousando dizer aquilo que muito poucos se
tinham, então, apercebido: a inexplicável
subserviência do BE em relação à CDU (algo que hoje, afinal, parece
já não te incomodar, muito pelo contrário).
Pese embora houvesse muita matéria que gostaria
de comentar, vou focar-me apenas no seguinte
parágrafo:
«Tod@s temos direito às nossas opiniões, prova
disso foram as
propostas construtivas apresentadas já por
diferentes camaradas para alteração da
composição deste grupo de debate, mas sejamos construtiv@s... primeiro, o problema é a constituição do grupo... depois
o problema é o facto de ele não ser abrangente... depois é o facto de não prever quaisquer mecanismos inequívocos
de alargamento... e aparentemente será sempre assim até que
todos tenhamos voz de forma deliberativa
(mesmo os que, por exemplo, participam de forma activa na blogosfera a apoiar partidos como o CDS-PP e o seu
envolvimento na purificação da política
concelhia... e sim estou a falar da Ermelinda Toscano, eleita pelo Bloco de Esquerda, para que não restem dúvidas).»
Antes de continuar, todavia, tenho de te deixar
um pequeno reparo. Trata-se da confusão que fazes entre decisão
(acto de uma pessoa isolada), deliberação
(acto que expressa uma vontade colectiva) e capacidade deliberativa (competência legal dos órgãos colegiais) o
que, desculpa a sinceridade (são “ossos do meu
ofício” e não consigo deixar de o
referir), é imperdoável num autarca com vários anos de experiência como tu e que deveria saber distinguir
estes conceitos não os aplicando
indevidamente como fazes.
Passando ao conteúdo do teu texto…
Começo por agradecer a tua benevolência em
relação à minha pessoa, dada como exemplo do excepcional pluralismo do
BE… que até vai ao ponto de tolerar no
seu seio os aderentes a quem acusam de apoiar, activamente, um partido de
direita. A seguir, dois pormenores a ter em consideração antes de avançar… Primeiro: é feita uma afirmação grave,
dada como um facto consumado, sem que se
especifique quaisquer elementos
probatórios. Segundo: para sustentar uma certa ideia de democracia incorre-se, na minha opinião, numa
incoerência insustentável – a de que faz
sentido um partido de esquerda aceitar que
uma militante sua possa apoiar activamente (como fazes questão de frisar) um partido de direita sem que seja proposta a
sua expulsão.
Lamento, contudo, que tenha sido necessário
recorrer à deturpação dos factos para sustentares aquela
tua tese. Não havia necessidade de o fazer.
Ou será que te limitaste a acreditar numa descrição feita por terceiros? Sem a preocupação de ouvir a versão do
outro lado? Uma posição que, confesso,
esperava de muitos, mas não de ti, por quem tinha bastante consideração… o que não acontece em relação àqueles
que, publicamente, na blogosfera e nas redes
sociais, me têm apelidado de traidora,
cobarde, hipócrita, vendida (umas vezes ao CDS, outras ao PSD e até ao PS, conforme a conveniência do discurso
do momento), fascista, pide, merecedora de menos respeito do que as prostituas
e por aí adiante, denotando uma grande
falta de carácter e um estilo trauliteiro
que só serve para denegrir a imagem do BE junto da comunidade e contribuir para afastar os eleitores.
Aquilo a que chamas apoiar activamente o CDS-PP
é, tão só e apenas, manifestar a minha concordância
com algumas posições do deputado municipal
Fernando Pena. Em áreas como a exigência de maior transparência na gestão autárquica, o respeito pelas
decisões dos tribunais, mais rigor na
justificação da aplicação dos dinheiros públicos
ou até a defesa dos direitos dos trabalhadores da CMA, em particular das vítimas de mobbing (como o caso que
levou à recente criação de uma comissão
eventual da AMA). Não sei se sabes, mas são tudo matérias consignadas no programa eleitoral do BE sufragado em
2009… Ou este foi mais um documento que, apesar
de candidato e autarca eleito pelo BE,
ainda não leste?... como aconteceu, aliás, com (…) que me confessaste ter
votado a favor sem sequer ter lido uma
única linha?
Tal como tu, que não quiseste deixar dúvidas
quando te referias a mim, também eu quero que todos fiquem cientes de uma
coisa: pela parte que me toca, estarei sempre ao lado
de todos aqueles que na Assembleia ou na
Câmara Municipal de Almada estejam solidários com os trabalhadores da autarquia na defesa intransigente dos seus
direitos, contra todas as formas de
discriminação. E nunca me calarei só por esses abusos serem cometidos por um suposto partido de esquerda (a
CDU). O meu compromisso é com a verdade e
a justiça! Não duvides: para mim, não há razões
ideológicas e/ou de solidariedade partidária que possam servir para dar cobertura a actos criminosos… por isso, podes
crer, procederia de forma idêntica se na gestão da
CMA estivesse o PS, o PSD ou o CDS-PP
(até mesmo o BE) e os seus autarcas cometessem os crimes que têm vindo a ser por mim denunciados. Deixo-te esta
pergunta: Como actuaria o Bloco de
Esquerda se a CDU fosse apenas mais um partido da oposição e não a coligação que, em Almada, está no
poder?
Quanto àquilo que designas como o meu
“envolvimento na purificação da política concelhia” e que é
apresentado como algo condenável: será que te
apercebeste como essa confissão dá uma muito má imagem do BE? Faz algum sentido um partido que pretende ser uma espécie
de esquerda moral, que diz ter a JUSTIÇA
como valor inalienável, preferir ter em Almada
uma “política poluída” por um sem número de ilegalidades? A troco de que princípios está o BE em Almada a
hipotecar a credibilidade do partido
junto da população almadense?
Como a mensagem já vai longa, fico-me por aqui…
apesar do muito que precisa, ainda, de ser dito.
Talvez um dia tenha oportunidade de to dizer.
Saudações bloquistas.»
1 comentário:
ntersuniAcabo de chegar a Almada, após 3 semanas de ausência. E de muito pouco descanso.
Não sou bruxa, mas parece-me q estou a adivinhar o filme...
Penso vir a comentar a carta,e a fazê-lo será dentro de poucos dias. Porém, de momento nãotenho a cabeça fresca.
Boa noite, até breve.
Almerinda Teixeira
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