quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Avenças d'ouro na Assembleia Municipal de Lisboa



A propósito dos gastos milionários com assessores e secretariado de apoio à Assembleia Municipal de Lisboa, que no mandato anterior 2013-2017 importaram, só em prestações de serviços com pessoas singulares (entenda-se: boys and girls arregimentados por confiança política, através de ajuste direto) – isto além dos encargos referentes aos 17 trabalhadores com vínculo jurídico ao mapa de pessoal do município de Lisboa – na quantia de 92.425,50€ / mês (ou seja 1.109.106€ / ano, o que significa 4.436.424€ no global) não posso deixar de aqui manifestar a minha indignação com tamanho despesismo.

Para mim que entre 2013 e 2015 estive doze meses sem receber vencimento como consequência de um capricho de António Costa assumido quando ainda era presidente da câmara e decidiu que a autarquia iria deixar de pagar a contribuição à Assembleia Distrital de Lisboa (devida nos termos e para os efeitos previstos no artigo 14.º do Decreto-Lei n.º 5/91, de 8 de janeiro) para poupar a mísera quantia de 4.490€/mês – 53.770€ / ano, tendo obtido, apesar da flagrante ilegalidade e dos gravíssimos prejuízos sobre os trabalhadores, a conivência passiva do órgão executivo (que preferiu nunca se pronunciar sobre o assunto) e o apoio expresso do órgão deliberativo (que temeu sempre enfrentá-lo e numa atitude de subserviência rejeitou por diversas vezes moções do PEV e do BE sobre o assunto), esta situação, denunciada pelo semanário Sol no dia 2 do corrente mês e depois repescada por outros jornais, não é só escandalosa: é, sobretudo, IMORAL.

 Fonte da informação: Proposta de 2013 e Proposta de 2017 da CM de Lisboa.

E mais revoltada me senti ao saber que a proposta para o mandato 2017-2021 ainda teve um considerável acréscimo mensal de 9.182,75€ (mais 110.193€ / ano, o que representa 440.772€ no período de quatro anos), que foi aprovado por unanimidade (isto é, colheu os votos favoráveis de todos os partidos representados no órgão executivo: PS, PSD, CDS, PCP e BE na reunião realizada no dia 23 de novembro último) sem ter suscitado uma única intervenção, como se pode verificar (ver última página da Proposta n.º 661/2017).
Quando todos os funcionários públicos estavam com cortes nos seus vencimentos, sem receber quaisquer aumentos há anos e impedidos de progredir na carreira desde 2008, na Assembleia Municipal de Lisboa pagavam-se principescas avenças mensais com significativas atualizações quadrienais.

Um exemplo de que nem sempre o que é legal (presumindo que todas estas contratações obedeceram / obedecerão à lei) é ética e politicamente correta.

 Fonte da informação: Proposta de 2013 e Proposta de 2017 da CM de Lisboa.

É urgente uma reflexão séria sobre esta matéria.
Entre a cada vez maior necessidade de especialização devido à crescente complexificação da gestão autárquica (e, consequentemente, das matérias sobre as quais os deputados municipais necessitam de se pronunciar) e a "profissionalização da política" que pode levar à subversão do papel destes órgãos autárquicos naquela que é (ou devia ser) a sua principal tarefa (fiscalizar a atuação do executivo) que pode assim ficar comprometida na sua isenção (sabendo nós que os órgãos deliberativos não têm autonomia financeira e dependem do executivo para o efeito), há que pensar soluções alternativas que levem ao aprofundamento das competências de cada um dos autarcas.

Em muitos casos, estas assessorias servem mais para satisfazer clientelas partidárias do que para prestar um efetivo serviço público pois, na prática, parece que pouco valor acrescentado trazem à qualidade do trabalho autárquico dos eleitos... servem, quiçá, um outro grande objetivo: o da subserviência pois, como em Lisboa já tivemos provas disso sempre que o assunto em discussão era a Assembleia Distrital de Lisboa, tantas mordomias tornam as bancadas “mais serenas” e colaborantes.
Aliás, exemplo de que um investimento desta dimensão (em alegadas prestações de serviços técnicos especializados) não trás, necessariamente, melhoria na qualidade do trabalho produzido é a própria redação da proposta aprovada que no ponto 7 acaba citando legislação já revogada e ninguém se terá apercebido desse facto (quem subscreveu e quem aprovou), o que é triste e lamentável.
E é uma leiga, sem formação jurídica, com salário muito inferior ao da avença mensal paga pela Câmara Municipal de Lisboa ao técnico que terá redigido tal documento, que numa leitura superficial feita no autocarro durante a deslocação do emprego para casa, acaba descobrindo o lapso: que a referência ao artigo 35º da Lei n.º 12-A/2008, de 27 de fevereiro, está incorreta porque as disposições relativas à celebração de contratos de prestação de serviços se encontram no artigo 32.º da Lei n.º 35/2014, de 20 de junho, e não na legislação citada.
Termino voltando a insistir que, na minha opinião, uma proposta desta é escandalosamente IMORAL.
E confesso que a APROVAÇÃO POR UNANIMIDADE (ou seja, com os votos a favor não só do PS, PSD e CDS mas também do PCP e BE) na reunião da CML de 23-11-207 sem uma justificação política de suporte é chocante.
Sinceramente, não consigo compreender... e custa-me sobretudo aceitar o silêncio do PCP e do BE sobre a matéria.
##########

Vereador João Paulo Saraiva:
«Há um erro na formulação do ponto 4 que eu gostava de propor que fosse corrigido para depois ser ratificado em câmara: no fim da segunda linha acaba em contratação, e depois há uma formulação que é “contratação de assessores dos gabinetes de apoio aos grupos municipais com representação na assembleia” e a redação que eu propunha era que fosse aditada é, a partir de contratação, “contratação de prestação de serviços de apoio técnico, político e administrativo, nos gabinetes de apoio e à mesa da assembleia, aos grupos municipais com representação na assembleia e aos deputados independentes bem como” e depois continua, ao presidente e vereadores da câmara municipal de Lisboa.
Penso que terão tomado boa nota desta alteração.
Como sabem, o que se trata é do apoio, da definição dos encargos, que está associada à definição do apoio técnico, político e administrativo da mesa da assembleia municipal, dos grupos municipais, dos deputados independentes e do gabinete do presidente e vereadores, que é uma proposta que tem sido submetida aos órgãos municipais ao longo de mais, quase de duas décadas, mais de uma década e meia, e que faz parte de um conjunto de propostas que possibilitam que o município de Lisboa, município que tem seis vezes mais orçamento e complexidade, diria eu, do que o município que se nos segue que é o do Porto, tenha um conjunto de pessoas que prestam apoio quer à câmara municipal (com o seu presidente e vereadores) quer aos deputados municipais, e que que possibilitam que tenhamos uma assembleia municipal que não tem paralelo no panorama nacional, em número de documentos analisados, propostas feitas, reuniões realizadas, de comissões e, portanto, com responsabilidade e profissionalismo ao nível daquilo que são as necessidades deste município e, portanto, da análise que se faz dessa mesma documentação que depois é traduzida em decisões que importam à cidade de Lisboa.
Esta proposta também possibilita, como é evidente, que a assembleia municipal, ao contrário da maioria das assembleias municipais deste país, tenha a possibilidade de escrutinar de forma real aquilo que é a atividade do executivo aumentando, com certeza, dessa forma o escrutínio, a transparência daquilo que são os atos municipais.
Importa, também, e antes de terminar, dizer que quem quer fazer contas sobre quanto é que a democracia e, neste caos, o apoio técnico, político e administrativo custa ao município, tem que as fazer bem.
Portanto, eu recomendo àqueles que as fazem que as façam com verdade e que façam verdadeiras comparações e não tentativas de demagógicas de enlamear tudo e todos.
Muito obrigado»

E tal como aconteceu na Câmara Municipal, não houve intervenções sobre a matéria e a proposta foi aprovada por unanimidade.

Sem comentários:

Related Posts with Thumbnails