ELOGIO
DA DIALÉCTICA
A injustiça avança hoje a
passo firme.
Os tiranos fazem planos para
dez mil anos.
O poder apregoa: as coisas
continuarão a ser como são.
Nenhuma voz além da dos que
mandam.
E em todos os mercados
proclama a exploração: isto é
apenas o começo.
Mas entre os oprimidos muitos
há que agora dizem:
Aquilo que nós queremos nunca
mais o alcançaremos.
Quem ainda está vivo nunca
diga: nunca.
O que é seguro não é seguro.
As coisas não continuarão a
ser como são.
Depois de falarem os dominantes.
Falarão os dominados.
Quem pois ousa dizer: nunca?
De quem depende que a
opressão prossiga? De nós.
De quem depende que ela
acabe? Também de nós.
O que é esmagado, que se
levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou,
que há aí que o retenha?
Porque os vencidos de hoje
são os vencedores de amanhã.
E nunca será: ainda hoje.
BERTOLT BRECHT (1898-1956)
(do livro «Beltolt Brecht –
Poemas», Editorial Presença, Janeiro de 1976)
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