sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Entre a utopia e a realidade

Por Paulo Ataíde

Andei a arrumar uns papéis do tempo da faculdade e eis que encontrei este pequno trabalho já nem me lembro para que disciplina. Escrevi-o há mais de vinte e cinco anos. Todavia, penso que tem interesse suficiente para trazê-lo ao vosso conhecimento hoje. Trata-se de uma pequena recensão sobre o livro A Cidade do Sol, de Tommaso Campanella, filósofo renascentista italiano, poeta e teólogo dominicano, nascido em 1568 e falecido a 1639:

Entre a utopia e a realidade media a vontade humana, livre das correntes que cerceiam o pensamento e limitam as opções individuais, como o demonstra Tommaso Campanella no seu livro A Cidade do Sol, de cujo texto iremos fazer uma pequena análise, enquadrada numa perspectiva de reflexão acerca do modelo de cidade ideal apresentada pelo autor e no qual podemos encontrar, por analogia, elementos fundamentais à compreensão dos problemas sociais do presente, como seja a organização administrativa apoiada num sistema binominal de base educacional dos cidadãos (informação – participação) apesar da aparente exclusão da liberdade, razão de ser de qualquer democracia.

Sendo a paisagem urbana o reflexo da vivência quotidiana dos seus habitantes, esta cidade, de horizonte físico limitado, à semelhança de uma prisão, espaço fechado que oprime e impede a livre expressão do indivíduo, de planta rádio-concêntrica e muralhas edificadas, sobretudo, por questões de ordem militar, é apenas a imagem prática da filosofia pitagórica, de carácter especulativo, e que tentava compreender o cerne da evolução da humanidade através de teorias intemporais, independentes dos condicionalismos pessoais.

A influência de Platão, discípulo de Pitágoras, é pois evidente na importância concedida aos números e à geometria das formas arquitectónicas mas, também, pela atenção dispensada aos elementos culturais e religiosos da civilização descrita.

Assim, a implantação territorial da Cidade do Sol, em sete círculos e eixos orientados para os quatro pontos cardeais da Terra, demonstrando o rigor e o alcance metafísico do simbolismo utilizado como forma de explicar as possíveis consonâncias entre o mundo dos nossos sentidos e a realidade, na procura de uma harmonia cósmica geral, imutável e eterna, não corruptível, cuja essência, apesar de indiciar uma sociedade de hábitos comunitários profundos, apresenta fundamentos que desvalorizam o Homem enquanto ser social independente, na medida em que todas as suas acções são reguladas por uma rígida organização administrativa, desde o nascimento até à morte, e o comportamento dos indivíduos controlado a nível da hierarquia da própria estrutura selectiva da comunidade.

Igualmente importante é a defesa de conceitos como a verdade, o conhecimento científico e a justiça, que têm por detrás uma ideologia que transcende a compreensão real dos fenómenos terrenos, em perpétua mutação, e relativiza o conhecimento.

Noções comuns como a semelhança, a diferença e a igualdade, foram facilmente assimiladas por todos os membros desta cidade em que “todos, sem distinção, são educados em todas as artes”, da qual se pretende esteja ausente qualquer forma de tirania, porque “perdido o amor próprio fica, sempre, o amor da comunidade”, onde é desconhecida a opressão e se assiste a uma estratificação social do trabalho que “por ser igual a distribuição dos mestres, das artes, dos empregos, das fadigas, cada individuo não trabalha mais de quatro horas por dia” podendo consagrar o restante tempo disponível “ao estudo, à leitura, às discussões científicas, ao escrever, ao conversar, ao passear, enfim, a toda a espécie de exercícios agradáveis e úteis, tanto ao corpo como à mente” para satisfação e felicidade dos habitantes solares.

Finalmente, apenas diremos que a agricultura, praticada nos terrenos planos da periferia, constitui a actividade produtiva mais valorizada porque fornece a subsistência alimentar da população: as técnicas de cultivo são baseadas na observação da meteorologia e dos astros, não fazem uso de fertilizantes e praticam o pousio, originando que “cada palmo de terra dê lucro”.

1 comentário:

Anónimo disse...

já tou farto de ti, deves sentir uma grande frustação de não seres o que gostarias, só procuras destruir, não procuras construir, nem podes, é a sina dos frustados. Defendes o que não é defensável e promoves o que é errado. Tás no caminho errático, o caminho que procura o conflito, a confusão,a manipulação, a desonestidade e recordas o passado com 30 anos onde descobres que nunca serás aquilo que gostarias de ter sido. Tem vergonha...
AL

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