sábado, 4 de novembro de 2017

Afinal havia outra razão para o PCP não aceitar pelouros em Almada!


«”O exame concreto das condições não permitiu”. É assim que o PCP explica a ausência de qualquer acordo com o PS para viabilizar o governo das câmaras conquistadas pelos socialistas sem maioria absoluta.
A lista não é grande, mas muito simbólica. Inclui Lisboa e alguns dos bastiões comunistas da chamada cintura industrial, como Barreiro, Almada, Alcochete e Alandroal. Em nenhum destes casos os comunistas aceitaram dar a mão aos autarcas socialistas. Coincidência ou um novo ciclo na vida da ‘geringonça’?
A derrota autárquica fez mudar a atitude do PCP face ao PS. Os comunistas provaram, um mês depois das eleições, que já não estão dispostos a viabilizar maiorias de esquerda, nem acreditam que “o PS só não forma Governo se não quiser”, como disseram logo após as legislativas. Agora, o tempo mudou. E se o primeiro-ministro se mostrou disposto a abrir “um novo ciclo” com a procura de consensos alargados e uma piscadela de olho aos partidos de direita, os comunistas pagam com a mesma moeda. Em cada um dos executivos autárquicos em que o PS precisou dos vereadores comunistas para assegurar a governabilidade da Câmara, o PCP recusou acordos.

‘GERINGONÇA’ SÓ MESMO A NÍVEL NACIONAL

A “falta de condições concretas” é um modo de dizer. Jerónimo de Sousa tinha sido bem mais claro. No final da reunião do Comité Central onde os resultados das eleições de 1 de outubro foram analisados, o líder do PCP avisou logo que a ‘geringonça’ política inaugurada com António Costa não era para repetir a nível local. “Em Lisboa não existirá esse modelo”, disse, e nos outros concelhos, “veremos”.
E viu-se. “A CDU não detém pelouros em câmaras municipais onde se encontra em minoria ou porque o exame concreto das condições não o permitia (Lisboa, por exemplo) ou porque simplesmente a força maioritária nem sequer examinou a possibilidade (o caso de Alcochete). Ou seja, nas autarquias que o PS conquistou aos comunistas nas últimas eleições e nas quais não tem maioria absoluta, o PCP recusou fazer acordos. E a maioria passou para as mãos do bloco central. Em resposta escrita enviada ao Expresso, os comunistas sublinham, no entanto, que “os órgãos executivos municipais não carecem de qualquer viabilização. Estão viabilizados pela eleição direta”. Quer isto dizer que se isentam da responsabilidade de assegurar a ‘governabilidade’ das autarquias através da assunção de pelouros na gestão camarária. E garantem que os eleitos comunistas assumiram “competências em Câmaras de outros” (Matosinhos, por exemplo) e até que distribuíram “pelouros a eleitos de várias forças políticas (PS, PSD e BE) em câmaras onde têm maioria”, como são exemplos Seixa, Moita ou Palmela.
A geometria autárquica é muito variável. O Expresso fez o ponto da situação em alguns dos principais bastiões comunistas que ficaram nas mãos do PS. Ou mesmo nas mãos do bloco central.

ALMADA PS E PSD INVESTIGAM CONTAS

Inês de Medeiros “ofereceu bons pelouros” a todas as forças políticas que ganharam lugares de vereação no novo executivo camarário de Almada. A ex-deputada do PS foi uma das maiores surpresas da noite eleitoral, conquistando um bastião que há mais de 40 anos pertencia aos comunistas. Os socialistas ficaram com três vereadores, a CDU com dois, o PSD com outros dois e o BE elegeu um. Contas feitas, Inês de Medeiros precisava de um acordo para garantir a maioria no executivo. Abriu o jogo e negociou com todos. Diz que as conversas com os comunistas decorreram de “boa fé”, mas terminaram sem qualquer resultado. O tiro no porta-aviões foi difícil de digerir pelo PCP e, mesmo que localmente houvesse vontade de não fechar portas, acabou por prevalecer a decisão do comité central de evitar ‘geringonças’ locais para não facilitar a vida ao PS. Resultado: os socialistas viraram-se para o PSD e só ontem o acordo ficou fechado. O social-democrata Nuno Matias explica que “enquanto partido responsável, tínhamos de garantir condições de governabilidade” e, por isso, aceitaram ficar com dois pelouros: Ambiente e Rede Viária; Iluminação, Transportes e Logísticas. Garantiram ainda um lugar na administração dos serviços municipalizados e ajudaram o PS a conquistar a presidência da Assembleia Municipal. O bloco central instalou-se em Almada e, por iniciativa do PSD, a autarquia vai promover de imediato uma auditoria às contas da Câmara. Ainda não está claro quantos anos de gestão autárquica estarão sob análise, mas a vontade de acertar contas com os comunistas parece evidente. É a primeira vez que o PSD tem assento no governo almadense e o inédito acordo camarário teve, desde logo, uma consequência: o afastamento do BE. “Não somos flor na lapela de nenhum bloco central”, diz Joana Mortágua, eleita vereadora pelo BE. Além do mais, “nunca poderíamos executar políticas definidas com Maria Luís Albuquerque”. A ex-ministra das Finanças de Passos Coelho foi candidata à presidência da Assembleia Municipal de Almada nas últimas eleições e, ironia do destino, o PSD teve nestas eleições o melhor resultado de sempre no concelho.» (…)


O texto integral deste artigo, com os exemplos de outros casos estudados pelo semanário, pode ser lido AQUI.

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