segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

À Joacine: uma crítica sem cor, sem género e sem problemas de dicção.


Cara Joacine Katar Moreira,
Dirijo-lhe estas palavras ciente de que, possivelmente, não terá interesse em lê-las. Hesitei bastante antes de as redigir, ponderando se valeria a pena perder tempo com tal missiva. Mas resolvi que, em breves linhas, tinha de lhe dizer umas quantas “coisinhas”.
Nas últimas legislativas votei no LIVRE porque concordava, na generalidade, com as ideias do seu programa eleitoral. Como resido em Almada, o meu apoio foi para a médica Ana Raposo Marques, cabeça de lista por Setúbal. E tal como eu, 60% (34.2002) do total dos que votaram LIVRE (56.940) fizeram-no noutros candidatos que não a Joacine.
Mesmo sabendo que no Parlamento representa (ou deveria representar) o país no seu todo e não apenas o círculo eleitoral de Lisboa pelo qual foi eleita, não a considero “dona” do meu voto: não foi a si que o entreguei, mas ao LIVRE confiando que, se fosse eleita, a cabeça de lista do distrito de Setúbal, pugnaria pela defesa do programa sufragado pois quem vai a eleições, como sabe, é o coletivo partidário e não o candidato a título individual.
Por isso, mesmo os 22.738 eleitores do LIVRE no distrito de Lisboa (40% do total nacional), e cujo voto permitiu a sua eleição à Assembleia da República, votaram num programa partidário e não na agenda política pessoal da Joacine, a qual antes das eleições de outubro de 2019 nem sequer era conhecida da população.
A maioria das críticas de que é alvo depois da tomada de posse como deputada, nada têm a ver com cor de pele, género ou problemas de dicção e resultam, sim, da arrogância como se passou a comportar (muito mais do que a impreparação política que referiu no último fim de semana). Falta-lhe, isso sim, um pouco de humildade.
E, já agora, falta-lhe também um pouco de ética, porque se é verdade que, legalmente, tem direito a manter-se como deputada, sabendo que, ao contrário do que afirma foi eleita por um partido e não sozinha (se não fosse integrada nas listas do LIVRE não estaria a ocupar o lugar atual), em termos políticos deveria abdicar da representação parlamentar e permitir que o LIVRE exercesse o mandato cujo programa foi sufragado.


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