«Estes amam o povo, mas não desejariam, por interesse do próprio amor, que saísse do passo em que se encontra; deleitam-se com a ingenuidade da arte popular, com o imperfeito pensamento, as superstições e as lendas; vêem-se generosos e sensíveis quando se debruçam sobre a classe inferior e traduzem, na linguagem adamada, o que dela julgam perceber; é muito interessante o animal que examinam, mas que não tente o animal libertar-se da sua condição; estragaria todo o quadro, toda a equilibrada posição; em nome da estética e de tudo o resto convém que se mantenha.
Há também os que adoram o povo e combatem por ele mas pouco mais o julgam do que um meio; a meta a atingir é o domínio do mesmo povo por que parecem sacrificar-se; bate-lhes no peito um coração de altos senhores; se vieram parar a este lado da batalha foi porque os acidentes os repeliram das trincheiras opostas ou aqui viram maneira mais segura de satisfazer o vão desejo de mandar; nestes não encontraremos a frase preciosa, a afectada sensibilidade, o retoque literário; preferem o estilo de barricada; mas, como nos outros, é o som do oco tambor retórico o último que se ouve.
Só um grupo reduzido defende o povo e o deseja elevar sem ter por ele nenhuma espécie de paixão; em primeiro lugar, porque logo reprimiriam dentro em si todo o movimento que percebessem nascido de impulsos sentimentais; em segundo lugar, porque tal atitude os impediria de ver as soluções claras e justas que acima de tudo procuram alcançar; e, finalmente, porque lhes é impossível permanecer em êxtase diante do que é culturalmente pobre, artisticamente grosseiro, eivado dos muitos defeitos que trazem consigo a dependência e a miséria em que sempre o têm colocado os que mais o cantam, o admiram e o protegem.
Interessa-nos o povo porque nele se apresenta um feixe de problemas que solicitam a inteligência e a vontade; um problema de justiça económica, um problema de justiça política, um problema de equilíbrio social, um problema de ascensão à cultura, e de ascensão o mais rápida possível da massa enorme até hoje tão abandonada e desprezada; logo que eles se resolvam terminarão cuidados e interesses; como se apaga o cálculo que serviu para revelar um valor; temos por ideal construir e firmar o reino do bem; se houve benefício para o povo, só veio por acréscimo; não é essa, de modo algum, a nossa última tenção.»
Agostinho da Silva, in Considerações
12 comentários:
Obrigado Ermelinda
Um belo texto, para que os cidadãos da plataforma possam reflectir.
Suspeito que os Zé Du, as Lenitas, e outros ressabiados já devem estar a mudar de rumo.
Até logo
A lucidez de Agostinho da Silva a denunciar quem do povo se serve para o explorar.
Infelizmente são muitos os que se servem da governação a qualquer nível, para o roubar, ao mesmo tempo que dizem ter como primeira prioridade defendê-lo e proporcionar-lhe bem estar económico-social
Gostei de saber que também se interessa pela ciência política trazendo-nos este belo texto de Agostinho da Silva que como o Pe. António Vieira pertence ao património comum da lusofonia e penso serem admirados nas terras de Portugal e Brasil onde puderam expreessar os seus pensamentos procurando fazer-nos melhores.
Um admirador do pensamento destes dois vultos da cultura que se expressaram em português.Obrigado
PCP o partido da demagogia. Os operários coitados. Câmara de Almada operários tratados com chicote.
EmAlmada:
Agostinho da Silva era um livre pensador, um filósofo que conhecia muito bem a essência do comportamento humano.
Anónimo das 19:37h
Citar Agostinho da Silva é, apenas, uma forma de com ele tentar aprender a reflectir sobre a vida, de forma livre.
Não tem de me agradecer.
Anónimo das 21:34h
Se tem conhecimento de situações ilegais, ganhe coragem e faça denúncia. Se precisar de ajuda contacte-nos.
"Citar Agostinho da Silva é, apenas, uma forma de com ele tentar aprender a reflectir sobre a vida, de forma livre......"
E, porque não, "tentar aprender" que viver a experiência integral da vida, é, também, saber não cavar "cisões", "exclusões" e "parcialidades".?!!.......
Caro Churchill. você não tem emenda! Gostava de conhecê-lo um destes dias, assim, poderia explicar melhor o seu acinte! Tenha uma boa noite!
Zé Du
É verdade, sou assim uma espécie de Agostinho.
Mas começo a estar preocupado consigo. Não ficará a Grande Timoneira aborrecida por me estar a responder?
Veja lá bem, senão quando ela for a nova presidente não lhe vai arranjar o tal cargo com que sonha!
E da maneira que vai o BE, cheira-me que na proxima oportunidade vão levar mais tareia que o poeta.
Até logo
José Eduardo, quem parece andar enervado comigo, com o churchill e outras pessoas que não tocam a mesma musica do força força companheiro vasco, são vocês. De modo especial você. Enervado, Curioso. Se pudesse de forma pidesca chegar aos nossos computadores, à muito que estávamos presos.
Caros Churchill e Roosevelt: descansem e vão aproveitando bem o tempo, que vos resta na chulice à conta de todos nós, via CMA/SMAS! Vai ser "engraçado", ver como reagirão, quando constatarem, que foram liminarmente "apeados" das tetas do poder instalado na CMA/SMAS! Bem podem continuar a proceder, com os munícipes de Almada, como o Kadhafi está a fazer na Líbia! De uma coisa tenho a certeza: a vossa hora de desespero, aproxima-se a passos largos e, como diz o velho ditado português: "o último a rir é quem ri melhor! Já faltou mais...eheheheh.
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