Rita Costa nunca tinha ido a uma
assembleia municipal, mas naquele dia resolveu fazê-lo para assistir à
intervenção da sua amiga Dulce Paiva.
Chegou já a sessão estava a
decorrer. O presidente da mesa fazia a chamada e, apesar de falar ao microfone,
mal se conseguia fazer ouvir tal era o burburinho na sala. A agitação entre os
deputados municipais, de todas as bancadas, era evidente, prenúncio do debate
acalorado que a ordem de trabalhos fazia prever.
Sentou-se na última fila e quando
entre o público vislumbrou o perfil do seu chefe, inexplicavelmente, sentiu um
frio na espinha. Agarrou com força o livro que levava na mão e olhou em seu
redor como se temesse um ataque inesperado. De repente, sentiu uma mão sobre o
ombro e, assustada, tremeu na cadeira ao ouvir, num sussurro irado, a voz
sardónica da sua colega:
— Se pensas que te safas desta,
estás muito enganada amiga. Põe-te a pau!
Rita nem teve tempo de reagir. Assim que levantou os olhos, já Joaquina ia na direção do amante ao lado de quem se sentou. Cochichou-lhe algo que o fez virar a cabeça para trás e com um sorriso zombeteiro levantou a mão e fez um gesto obsceno que a deixou envergonhada e a pensar se fizera bem vir até ali naquela noite. Como o iria encarar amanhã no serviço?
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