Não era a primeira vez que Maria
fazia uma viagem de avião. Contudo, nem o hábito regular dos trajetos entre
Lisboa e o Funchal, sempre por motivos profissionais nos últimos dez anos, a
fazia gostar deste meio de transporte.
Mas que alternativa tinha? Viajar
de barco é que nem pensar! Um cruzeiro pelo oceano adentro ao sabor das ondas
ainda a horrorizava mais. E uma viagem aérea sempre tinha a vantagem de ser
muito mais rápida transformando o tormento do percurso no instante de uma boa
soneca, sempre com a ajuda da amiga valeriana.
Chovia. A água desenhava um
bailado acelerado e irrequieto no vidro da janela e tornava a visão do exterior
turva. Ainda assim, e apesar do olhar ensonado, Maria não deixou de apreciar a
beleza do estuário do Tejo ao entardecer, com a luz do sol a dourar o casario
da capital que das colinas até à margem parecia abraçar o rio num namoro
envergonhado.
E de pouco mais além da filigrana
de estradas e viadutos, da ponte Vasco da Gama a bordejar a linha do horizonte
e da foz do rio Trancão, se conseguia lembrar pois, entretanto, fechou os olhos
e foi já em sonhos que prosseguiu pelas ruelas do seu bairro (Alfama) sentindo
o cheiro a sardinha assada na porta da tasca do velho Luís, ouvindo o cantar
canoro da neta da D. Lurdinhas ou apreciando o sorriso maroto do proprietário
do Retiro do Fado.
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