quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Viagem de avião

Imagem retirada DAQUI.
 


Não era a primeira vez que Maria fazia uma viagem de avião. Contudo, nem o hábito regular dos trajetos entre Lisboa e o Funchal, sempre por motivos profissionais nos últimos dez anos, a fazia gostar deste meio de transporte.

Mas que alternativa tinha? Viajar de barco é que nem pensar! Um cruzeiro pelo oceano adentro ao sabor das ondas ainda a horrorizava mais. E uma viagem aérea sempre tinha a vantagem de ser muito mais rápida transformando o tormento do percurso no instante de uma boa soneca, sempre com a ajuda da amiga valeriana.

Chovia. A água desenhava um bailado acelerado e irrequieto no vidro da janela e tornava a visão do exterior turva. Ainda assim, e apesar do olhar ensonado, Maria não deixou de apreciar a beleza do estuário do Tejo ao entardecer, com a luz do sol a dourar o casario da capital que das colinas até à margem parecia abraçar o rio num namoro envergonhado.

E de pouco mais além da filigrana de estradas e viadutos, da ponte Vasco da Gama a bordejar a linha do horizonte e da foz do rio Trancão, se conseguia lembrar pois, entretanto, fechou os olhos e foi já em sonhos que prosseguiu pelas ruelas do seu bairro (Alfama) sentindo o cheiro a sardinha assada na porta da tasca do velho Luís, ouvindo o cantar canoro da neta da D. Lurdinhas ou apreciando o sorriso maroto do proprietário do Retiro do Fado.


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