Maio é o nono mês em que não irei
receber vencimento. Mas sei já que junho será o décimo, havendo ainda a juntar
aos salários em atraso o subsídio de férias de 2014 que ainda não recebi e o de
2015 que não irei receber.
A partir de julho não sei sequer
o que me irá acontecer sendo que o mais certo é entrar “em processo de requalificação”
devido à mais do que provável recusa da Assembleia Municipal de Lisboa em
aceitar que a Universalidade da Assembleia Distrital venha a integrar-se no
Município de Lisboa.
Confesso que este não é o futuro
que imaginei depois de quase
trinta anos na Assembleia Distrital, onde tenho exercido com zelo e
dedicação as minhas funções e por isso fui sempre obtendo o devido reconhecimento
pelo valor do meu trabalho como o demonstram as menções de mérito excecional (1996
e 2000),
a avaliação do desempenho de excelente (2009)
e o voto de louvor (2014)
atribuídos, entre outras formas de avaliação ao longo dos anos.
Custa-me imenso ver a Assembleia Distrital
terminar desta forma indigna mas mais ainda ver os seus Serviços de Cultura
(Arquivo Distrital, Biblioteca, Núcleo de Investigação, Museu Etnográfico e
Setor Editorial) desprezados como lixo.
Tenho de reconhecer, contudo, que
muito provavelmente a minha situação é o resultado de erros que terei cometido
já que os meus colegas que aceitaram pedir mobilidade para a Câmara de Lisboa em
novembro de 2014 ao contrário de mim, têm tido o seu ordenado assegurado e
manterão o posto de trabalho.
Quando a Assembleia Distrital entrou
em falência em agosto de 2013 devido à recusa da Câmara de Lisboa em pagar as
quotas que legalmente lhe cabiam (por decisão pessoal do Dr. António Costa), terei
errado por entender que o meu dever como diretora era assegurar
o salários aos meus subordinados e só depois pensar no meu: por isso eles
nunca deixaram de receber ordenado e eu fiquei sete meses consecutivos sem
vencimento.
Quando o Secretário-geral da Câmara
de Lisboa visitou a Assembleia Distrital em novembro de 2014 e amedrontou
os trabalhadores com a ameaça do impasse que iria ser criado com a recusa
da autarquia em aceitar a Universalidade e das consequências que daí adviriam,
terei errado por entender que o meu dever como diretora não podia ser abandonar
o Presidente do órgão e os Serviços de Cultura havendo ainda compromissos
assumidos por regularizar e sem conhecer qual era o destino do património
cultural pelo qual era responsável.
Terei ainda errado ao considerar ser
minha obrigação como funcionária pública exigir que, tal como a Constituição
assim o determina e o CPA regulamenta, todos os atos da Administração fossem
devidamente fundamentados no estrito cumprimento da lei e, por isso, ousei solicitar
explicações a quem de direito.
É verdade. Posso até ter errado. Mas
não me arrependo. E não mudaria um milímetro da minha atitude se pudesse voltar
atrás. Porque, acima de tudo, tenho a minha dignidade. Se tiver de ir para a requalificação
faço-o de cabeça levantada, com sentido do dever cumprido e com muito orgulho
por ter conseguido resistir a tanta injustiça, contra a qual continuarei a
lutar porque não sou mulher de cruzar os braços.
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