quarta-feira, 20 de maio de 2015

Errei? Talvez! Mas não me arrependo!


Maio é o nono mês em que não irei receber vencimento. Mas sei já que junho será o décimo, havendo ainda a juntar aos salários em atraso o subsídio de férias de 2014 que ainda não recebi e o de 2015 que não irei receber.
A partir de julho não sei sequer o que me irá acontecer sendo que o mais certo é entrar “em processo de requalificação” devido à mais do que provável recusa da Assembleia Municipal de Lisboa em aceitar que a Universalidade da Assembleia Distrital venha a integrar-se no Município de Lisboa.
Confesso que este não é o futuro que imaginei depois de quase trinta anos na Assembleia Distrital, onde tenho exercido com zelo e dedicação as minhas funções e por isso fui sempre obtendo o devido reconhecimento pelo valor do meu trabalho como o demonstram as menções de mérito excecional (1996 e 2000), a avaliação do desempenho de excelente (2009) e o voto de louvor (2014) atribuídos, entre outras formas de avaliação ao longo dos anos.
Custa-me imenso ver a Assembleia Distrital terminar desta forma indigna mas mais ainda ver os seus Serviços de Cultura (Arquivo Distrital, Biblioteca, Núcleo de Investigação, Museu Etnográfico e Setor Editorial) desprezados como lixo.
Tenho de reconhecer, contudo, que muito provavelmente a minha situação é o resultado de erros que terei cometido já que os meus colegas que aceitaram pedir mobilidade para a Câmara de Lisboa em novembro de 2014 ao contrário de mim, têm tido o seu ordenado assegurado e manterão o posto de trabalho.
Quando a Assembleia Distrital entrou em falência em agosto de 2013 devido à recusa da Câmara de Lisboa em pagar as quotas que legalmente lhe cabiam (por decisão pessoal do Dr. António Costa), terei errado por entender que o meu dever como diretora era assegurar o salários aos meus subordinados e só depois pensar no meu: por isso eles nunca deixaram de receber ordenado e eu fiquei sete meses consecutivos sem vencimento.
Quando o Secretário-geral da Câmara de Lisboa visitou a Assembleia Distrital em novembro de 2014 e amedrontou os trabalhadores com a ameaça do impasse que iria ser criado com a recusa da autarquia em aceitar a Universalidade e das consequências que daí adviriam, terei errado por entender que o meu dever como diretora não podia ser abandonar o Presidente do órgão e os Serviços de Cultura havendo ainda compromissos assumidos por regularizar e sem conhecer qual era o destino do património cultural pelo qual era responsável.
Terei ainda errado ao considerar ser minha obrigação como funcionária pública exigir que, tal como a Constituição assim o determina e o CPA regulamenta, todos os atos da Administração fossem devidamente fundamentados no estrito cumprimento da lei e, por isso, ousei solicitar explicações a quem de direito.

É verdade. Posso até ter errado. Mas não me arrependo. E não mudaria um milímetro da minha atitude se pudesse voltar atrás. Porque, acima de tudo, tenho a minha dignidade. Se tiver de ir para a requalificação faço-o de cabeça levantada, com sentido do dever cumprido e com muito orgulho por ter conseguido resistir a tanta injustiça, contra a qual continuarei a lutar porque não sou mulher de cruzar os braços.

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