segunda-feira, 30 de outubro de 2017

A propósito da tomada de posse do novo executivo em Almada.


Não assisti à tomada de posse dos novos eleitos para os órgãos colegais do município (câmara e assembleia municipais) que decorreu no sábado passado.
Mas li o discurso da nova presidente da autarquia, Inês de Medeiros e, confesso, apesar de estar consciente de que na política há sempre “ventanias” que afastam as palavras ditas e impedem que se cumpram as promessas iniciais, gostei da postura que se pode antever sobre aquela que será a nova forma de gestão autárquica em Almada.
Talvez seja por limitação minha na interpretação do texto, ou talvez porque a palavra escrita não tenha correspondido à palavra falada, é certo que não consigo entender o rol de críticas (todas elas vindas da área da CDU, algumas mesmo subscritas por anteriores e atuais autarcas dessa coligação) que teimam em denegrir aquele discurso apontando-lhe supostas falhas e antevendo tempos negros (será esta uma nova versão do “diabo”?).
Exemplo dessa forma birrenta, ressabiada, vingativa e intolerante, de agir é o comentário que a seguir transcrevo publicado no grupo do Facebook “Democracia Local”:
«Maria Costa: Começou mal a senhora... e a primeira impressão marca-nos muito. E esta que resulta de um tão atabalhoado discurso não podia ser pior. Que tristeza. A continuar assim ainda vamos para eleições autárquicas intercalares, ai vamos vamos.:-(
“Lido no mural de Tiago Emídio Martins:
No fundo há quatro pequenas coisas a reter quando se vai fazer o primeiro discurso enquanto Presidente de Câmara:
1. Estuda o sítio onde estás a discursar e a pessoa que lhe deu nome, e di-lo bem;
2. Não refiras enquanto grandes medidas do futuro coisas que os executivos anteriores já fizeram, já projetaram, ou já puseram em andamento;
3. Aprende o nome do distrito onde estás, e, sobretudo, do concelho;
4. E nunca, mas nunca, digas aos teus munícipes que eles estão muito difíceis e/ou insuportáveis.
São quatro pequenos preceitos de bom senso. O único ponto positivo de não serem cumpridos é que sempre se pode rir um bocadinho, mais não seja para não se chorar.” (Margarida Luna de Carvalho)»
A terminar, e a propósito da composição do novo executivo, transcrevo o artigo do Diário de Notícias de onde retirei a imagem acima:
«Socialistas estavam dispostos a entregar funções executivas a todos os partidos. Comunistas recusaram na véspera da posse
O PS ensaiou uma grande coligação na Câmara Municipal de Almada, entregando pelouros aos vereadores de todas as forças políticas, mas à última hora esse entendimento falhou. Na véspera da tomada de posse de Inês de Medeiros, que ocorreu no sábado, o PCP fez mais exigências que os socialistas recusaram, apurou o DN. Sem acordo, o PSD foi o único partido a aceitar pelouros.
Os socialistas estavam dispostos a entregar a gestão da Casa da Cerca, Espaços Verdes, Mercados e SMAS (serviços municipalizados de água e saneamento) aos comunistas - que perderam para o PS as eleições autárquicas de dia 1 deste mês por 413 votos. As negociações que estariam bem encaminhadas soçobraram à última: o PCP pediu "pelouros impossíveis", como definiu fonte conhecedora do processo, incluindo a Cultura, que o PS já tinha indicado que fica nas mãos da nova presidente da câmara.
Socialistas e comunistas elegeram quatro vereadores cada, os sociais-democratas dois e os bloquistas uma. Como o BE não faz a diferença, perante o não acordo com o PCP, Joana Mortágua (a quem o PS poderia entregar a Habitação Social) preferiu ficar de fora da equação.
Já o PSD, que ficará com a rede viária e a iluminação pública, aceitou os pelouros, mas poderá ainda receber outros, depois de comunistas e bloquistas não terem funções executivas.
Na Assembleia Municipal, as contas serão igualmente complicadas: há 11 deputados para PS e PCP, cinco do PSD, quatro do BE e um do PAN e outro do CDS.»
Em conclusão:
Parece-me que a CDU continua sem conseguir digerir a derrota eleitoral e o BE não consegue ultrapassar o mimetismo comunista.
Ainda tive alguma esperança de que o BE tivesse aprendido a lição decorrente dos factos que levaram o partido a perder a vereadora no mandato anterior e voltei a dar-lhes o meu voto. Mas, sinceramente, dada a ausência de quaisquer explicações sobre as razões para tal procedimento, a desilusão voltou a instalar-se.

Vou estar muito atenta à forma como se irá processar a gestão autárquica e o comportamento da oposição nos dois órgãos colegiais autárquicos (executivo e deliberativo). E aqui darei notícia do que for observando.

4 comentários:

flash disse...

Quanto à "ausência de qualquer explicação", da parte do BE, tenha em conta o comunicado deste partido, publicado, precisamente, às 12:15, de 30/10, dia e mês em que a Ermelinda fez a afirmação, entre aspas.
Quer a CDU, quer o PSD, quer o BE, têm vindo a tornar públicas as suas posições. Comunicados do PS, a havê-los, não os conheço. Conhece-os a Ermelinda? Eu conheço o que a comunicação social revela sobre as andanças da definição da vereação, inclusivamente aquelas que resultam do despacho da presidente eleita. Desta nada conheço, publicado, na 1.ª pessoa, sobre a questão, nem por antecipação, nem por acompanhamento, sobre o que se vai sabendo através da comunicação social. Em cúmulo, a resposta que a CDU afirmou esperar, é dada, publicamente, pelo Observador, sendo que este não é, não deve ser, o porta-voz de Inês Medeiros, que acaba por "alienar" a sua resposta, neste órgão de comunicação social.
E, já agora, porque não foi pública a primeira reunião camarária?
Vamos assistir a mais do mesmo, quando ao esclarecimento devido aos munícipes, para além de falta de transparência, ocultação dos factos, e desrespeito perante o prestar de contas, devidas a todos, e, que a todos devem ser acessíveis, livre e generalizadamente?

Fernando Miguel

Minda disse...

Caro Fernando Miguel,

No dia e à hora em que escrevi a notícia que agora comenta não tinha conhecimento de qualquer comunicado (do BE ou do PCP) sobre a matéria.

No dia seguinte escrevi sobre o assunto fazendo referência a ambos os comunicados:
http://metoscano.blogspot.pt/2017/10/ainda-sobre-composicao-do-orgao.html.

E hoje, acabei de divulgar uma notícia do semanário Expresso acerca da questão:
http://metoscano.blogspot.pt/2017/11/afinal-havia-outra-razao-para-o-pcp-nao.html.

Que razões levaram a que a 1.ª reunião da CMA não fosse pública? Não sei! Nos termos da lei o executivo apenas está obrigado a fazer uma reunião pública por mês. Poderia optar por fazê-las todas públicas? Talvez pudesse. Contudo penso que ditará o bom-senso que nem todos os assuntos sejam discutidos de portas abertas, o que não significa que se esconda da população os resultados, muito pelo contrário (aliás, existem regras e leis a cumprir nessa área).

Por isso julgo que, no imediato, e tendo presente que todos os assuntos que constavam da OT em causa têm de ser divulgados publicamente, julgo que não estará em causa a transparência na gestão autárquica apenas por esse facto. E extrapolar para uma eventual ocultação de factos no futuro, nomeadamente em relação às contas do município (que aqui nem sequer foram abordadas) é um tanto ou quanto abusivo.

Fernando Miguel disse...

O meu comentário a que responde centrava-se num facto que a Ermelinda não questiona: O silêncio institucional, em forma de esclarecimento publico, versus o comunicado da CDU, que declarava não estar a distribuição de pelouros encerrada, visto que, segundo a CDU,esta não tinha obtido resposta, da presidente eleita, à sua proposta. Há que situar esta questão no tempo, bem como no tempo considerar a resposta que é dada à CDU-Almada, não pela presidente, como seria curial, em equivalência de procedimentos e meios, mas pela comunicação social, nomeadamente, pelo Observador e pelo Expresso, posterior e publicamente.
O que há, invocando o próprio bom-senso, a ocultar na "coisa" pública, a não ser o miserabilismo que a todo o custo, os que deveriam ser transparentes, ousam praticar para seu próprio benefício e deleite?
E o que tem de abusivo estabelecer uma indução, um dos métodos de raciocínio há muito estabilizado e credível? Uma indução tem a ver com o método indutivo, não tem a ver com uma "extrapolação", coisa diversa.

Minda disse...

Caro Fernando Miguel,

O artigo do semanário Expresso é de hoje (dia 4) e a notícia do Observador de ontem (dia 3). A 1.ª reunião da câmara foi na quinta-feira (dia 2).Logo, em última instância (isto se não foram informados antes, entre o dia 30 de outubro - data do comunicado da CDU e o dia da reunião do executivo), a CDU terá sabido da decisão final através da própria presidente nesse dia 2 e não através dos jornais (que escreveram as notícias tendo por base o resultado daquela sessão).
E entre deduções e extrapolações, pode-se sempre dar a volta ao texto lendo nas entrelinhas, segundo a capacidade de raciocínio e de imaginação de cada um, acabando por se concluir o que se quer.

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