O meu artigo de ontem, A
propósito da tomada de posse do novo executivo em Almada, que divulguei na
rede social Facebook, gerou alguma polémica sobretudo pela conclusão final:
«Parece-me que a CDU continua sem conseguir digerir a derrota eleitoral
e o BE não consegue ultrapassar o mimetismo comunista.»
Dos comentários trocados destaco:
Comentário 1 – «Então agora cada uma das organizações políticas não tem o direito a
decidir o que aceitar ou não dentro de um quadro de negociações, onde
naturalmente a assunção das responsabilidades será sempre dos próprios, e ainda
estás a fazer comparações e relações estranhas tentando por 'os outros à bulha'
entre si???!!!! – Agora todos iriam aceitar 'Ad hoc, um qualquer poder relativo
e encapotado que lhes se fosse oferecido, só para cumprir calendário!?»
«Do texto original só retiro duas ideias, uma, que as organizações políticas
deviam de aceitar tudo o que lhes é oferecido, duas, que o BE é mímico do PC.»
Resposta 1 – «A frase que destaquei, resultou da interpretação que fiz da afirmação
do jornalista do DN: "Como o BE não faz a diferença, perante o não acordo
com o PCP, Joana Mortágua (a quem o PS poderia entregar a Habitação Social)
preferiu ficar de fora da equação." Ou seja, dá-se aqui a entender que a
posição do BE veio na sequência da do PCP fazendo-nos presumir que já não
haveria problema em aceitar o pelouro se o PCP também o tivesse feito.»
Comentário 2 – «Não creio que a posição do BE decorra da do
PC, mas sim do facto de não chegar para fazer maioria com o PS. Seria 5 contra
6.»
Resposta 2 – «Não se trata de crer (ou não)... A minha opinião é que a posição do BE
se não resultou da do PCP com ela está relacionada na medida em que não fosse
essa recusa dos comunistas o BE também teria aceite o pelouro, como a notícia
dá a entender. Por isso, a essa razão (de o BE não fazer maioria com o PS)
acrescem outras que até terão sido mais ponderosas, como já li algures por estas
bandas: não tendo o PCP aceite pelouros e o PSD sim, ficar num executivo
partilhado com este partido era inaceitável para o BE em termos ideológicos.
Contudo, caso todos tivessem aceite pelouros, essa já não seria uma questão
importante?»
Comentário 3 - «Mas os pelouros não se aceitam só porque
sim, e não se pode reduzir a análise à relação meramente matemática, para isso
é que há negociações, e para essas negociações conta a coerência das
orientações de cada partido, ou não será assim!?»
Resposta 3 - «Obviamente que não. E na minha opinião, os pelouros também não se
deviam rejeitar apenas porque sim. Ou porque em termos matemáticos aceitar um
pelouro não faz maioria absoluta sobretudo quando se passou a campanha a dizer
que esse era o principal objetivo: é certo que era retirar a maioria à CDU e
não se esperava a volta que o resultado das autárquicas acabou tendo, mas
afinal parece que apenas é importante desempenhar cargos executivos quando se
faz a diferença na votação (para dispor de uma espécie de ameaça permanente
como "arma de pressão política"? tipo, ou aceitam as minhas
exigências ou não vou votar o orçamento a favor?). E eu a pensar que o
interesse das populações se sobrepunha a esse tipo de questões... Enfim,
ingenuidade minha.»
Comentário 4 – «Não sei se o pelouro que os novos
responsáveis da Câmara pretendiam dar ao BE não seria um presente envenenado.
Faltam-me elementos para fazer um juízo definitivo. Mas deixo aqui a dúvida que
me assaltou.»
Resposta 4 – «Segundo o DN, o pelouro seria o da habitação social. Fácil? Não!
Envenenado? Não mais do que outro qualquer quando o orçamento depende de
orientações de outro partido o que limita a ação nesse campo. Mas para fazer
parte da solução (nesta área ou noutra), estando dentro ter-se-ia talvez mais
hipótese de trabalhar e fazer diferente. O que não significa que se aceite tudo
a qualquer preço... E se o PCP à última hora não tivesse desistido, o BE já
aceitaria o presente, certo? Então já não se importava que fosse envenenado? Há
que ter um mínimo de coerência, digo eu!»
Comentário 5 – «Sinceramente, não vejo porque motivo a
Joana devia ser vereadora num Executivo onde o seu voto não ia valer de nada. Vamos
ser racionais, ninguém se atira num acordo suicida do qual não pode tirar
dividendos. Joana ia fazer o acordo para fazer obra na habitação social com um
orçamento e com medidas sobre as quais não ia ter influência se o PS assim
quisesse? Ninguém é ingénuo a este ponto a bem de uma suposta missão que o
próprio titular da pasta não controla. Ainda lhe podia fazer ricochete!»
Resposta 5 - «Vamos ser racionais? Evidentemente. Falemos da "colheita de
dividendos" porque é aí que reside o problema. Mas será que esses
"frutos" apenas se colhem quando o voto pode ser usado como
"arma de pressão" (quiçá mesmo chantagem política)? Tipo: ou cedem às
nossas exigências ou votamos contra o orçamento? E não será por causa desse
tipo de "jogos de bastidores", usados e abusados em detrimento da
defesa do interesse das populações, que as pessoas cada vez acreditam menos na
classe política? Por outro lado, será que é mesmo impossível marcar a diferença
não dispondo desse poder?»
À data (ontem) não conhecia o
comunicado do BE: Almada
– Bloco de Esquerda rejeita pelouros nem tão pouco o da CDU: Almada
distribuição de pelouros – CDU considera que a questão ainda não está fechada.
Sendo certo que ambos os
documentos trazem explicações adicionais àquilo que o jornalista do Diário de Notícias escreveu, na
essência nada muda relativamente à posição de cada um dos partidos, apesar da
CDU informar que as negociações afinal ainda estão (ou estavam) em aberto.
A prová-lo está o facto de ter
acabado de saber, “de fonte segura”, que os acordos já estão mesmo encerrados (em 31-10-2017) e
apenas os dois vereadores do PSD aceitaram pelouros sendo que Nuno Matias
ficava a meio-tempo e Miguel Salvado a tempo inteiro.
Apesar de a minha opinião ser
conforme as respostas aos comentários que acima assinalei devo, no entanto,
referir que apesar de não concordar com ela considero compreensível a posição
do BE atendendo à justificação apresentada.
Quanto ao PCP… Bem, talvez lhe
faça bem passar por uma espécie de “período de reflexão” sem ocupação de
quaisquer cargos executivos nem liderança do órgão deliberativo. Afinal a
democracia é mesmo assim e uma “cura de oposição” nunca fez mal a ninguém,
muito pelo contrário, pode até ser o remédio para a prepotência dos últimos
anos.
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