No jornal Expresso do último fim-de-semana (29-08-2009) vinha um artigo cujo tema é um desafio interessante para reflexão, se quiserem aceitar o desafio:
Passo, então, a citar a introdução:
«As democracias, tal como as conhecemos, terão os dias contados? Os cidadãos deixaram de confiar nos políticos e a geração que está a crescer com a net vai ter dificuldade em permitir que outros tomem decisões por si. As novas tecnologias de comunicação vão ter impacto nos regimes? O presidente dos EUA, Barack Obama, usou as redes sociais da net para mobilizar os eleitores; uma jovem deputada municipal na Suécia vota de acordo com as instruções que recebe no site do partido; na Suíça, os cidadãos são anualmente chamados para referendar decisões do Governo, e alguns já votam através do computador. Os partidos sobreviverão? Em Portugal autarcas eleitos em listas independentes não escondem as vantagens de não ter de responder a estruturas partidárias desgastadas. O que vai mudar na relação entre eleitores e eleitos? Os políticos terão de usar todas as ferramentas para ouvir os eleitores. As democracias representativas estão ameaçadas pelo desgaste dos partidos e pelas tecnologias interactivas. A Web cria mediadores e reforça políticos que forem capazes de orquestrar a inteligência colectiva.»
4 comentários:
Os partidos sobreviverão? Clar que sim! Mas têm de se adaptar, obviamente.
Mais não seja fazem falta pela estrutura de base, de suporte, financeiro e organizacional, necessária à preparação das campanhas sem a qual as listas de cidadãos muito dificilmente conseguem aguentar... ou, então, torna-se quase partidos.
Mas vou voltar ao tema mais tarde... tem muito que se lhe diga e eeu estou, agora, com pressa.
Até breve.
Em Portugal, apesar da crescente visibilidade de alguns movimentos de cidadãos (quase sempre liderados por dissidentes dos partidos e já com larga experiência política), nomeadamente em termos autárquicos, não existe tradição de participação cívica a nível político.
Infelizmente, as pessoas preferem alhear-se da realidade, abster-se de votar (para não terem de optar), acomodam-se, delegam nos outros a responsabilidade de escolher (não por confiança mas por puro desinteresse).
Contudo, a maioria indiferente gostam de ser críticos de sofá, de mesa de café (comentando sempre nos bastidores, de forma pejorativa, a actuação dos políticos mas nada pretendendo fazer para que a situação melhore). Exaltam-se e dizem-se revoltados mas não agem, acabando por ser coniventes com aquilo que tão acaloradamente criticam.
A maior parte dos que criticam os partidos recusam-se a integrá-los e a tentar mudar seja o que for a esse nível. E contra mim falo que não me revejo em nenhum dos actuais. Sinceramente, nem no Bloco de Esquerda. Mas nunca me ouvirão dizer nunca. Digamos que estou em período de meditação alargada até um dia destes.
As novas formas de comunicação (a blogosfera e as redes sociais online) permitem uma intervenção mais democrática, dando oportunidade àqueles que, por motivos diversos, se escusam a participar na vida política activa. São espaços privilegiados para discussão mais ou menos formal, que deixam as pessoas à vontade pela possibilidade de poderem manifestar-se anonimamente. Embora eu considere que o anonimato alimenta a cobardia e fomenta o desrespeito, reconheço que pode ser, também, um incentivo à participação dos mais tímidos e isso não é negativo, muito pelo contrário.
Na minha opinião, se a política for encarada como sendo uma manifestação de cidadania e se apostar no envolvimento das pessoas através da participação em fóruns desta natureza (blogues, por exemplo), levando-as a exprimirem o que sentem, e promovendo encontros informais para debater questões do quotidiano onde a questão cultural deve ser uma constante, julgo que a política seria encarada de forma mais positiva.
Mais, muito mais, haveria para dizer. Mas fico-me por aqui. Para início de reflexão já chega. Outros que contribuam também.
Maria:
Dou-te razão. A nossa democracia representativa tem por base os partidos e eu acredito que eles ir-se-ão adaptar.
Aliás, o BE, por exemplo (e falo do que conheço melhor, como é óbvio), já aderiu quer à blogosfera, ao youtube, ao twiter e até a diversas redes sociais online.
Mas não basta aos partidos saber utilizar estes instrumentos de comunicação, é preciso inovar também ao nível da oganização interna e, aí, mais uma vez o BE tem sido uma "lufada de ar fresco" no panorama político nacional.
Rui:
Não posso deixar de me congratular por este teu longo comentário. E tenho a dizer-te que concordo, genericamente, com tudo o que dizes a começar pelo desinteresse das pessoas face à política.
Mas, na minha opinião, não é tanto em relação à política que as pessoas se sentem indiferentes. Esse comportamento tem mais a ver com o descrético com que os cidadãos acabam por olhar para os políticos... consequência da forma despudorada com que prometem hoje uma coisa e fazem o seu inverso amanhã.
Mais do que mudar os partidos (cujos "aparelhos" são, na maioria das vezes, estruturas centralizadoras e de funcionamento retrógrado) se calhar era necessário dar formação ética e cívica a muitos dos nossos políticos.
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