Hoje, na coluna «Sobe e Desce» da rubrica «Semana Política» do jornal Público, os jornalistas que a subscrevem terminavam o item a propósito da substituição do Presidente da Câmara de Setúbal com a seguinte pergunta: «se Carlos de Sousa [que, segundo parece é da “ala renovadora” do PCP] fosse militante “venerado e obrigado” e nunca tivesse levantado dúvidas sobre orientações políticas, estaria ainda à frente da Câmara?».
Sendo certo que o afastamento de Carlos Sousa foi efectuado nos termos da lei, já a atitude do PCP levanta algumas questões pertinentes sobre a legitimidade política do acto (apesar desta não ser uma eleição unipessoal, todos sabem que muitos dos eleitores votaram no PCP porque o cabeça de lista era ele e não outro qualquer), nomeadamente após se conhecerem os argumentos invocados por Jerónimo de Sousa sobre a hipotética necessidade de o partido renuvescer a equipa... como se aquele edil (ainda há apenas um ano atrás considerado um autarca modelo), tivesse ficado senil de repente e, portanto, demasiado idoso para ocupar o cargo.
Embora no PCP ninguém o queira admitir, é por demais evidente que a razão do afastamento de Carlos de Sousa foi a retirada de confiança política na sequência da denúncia pública do caso das reformas compulsivas e das fortes suspeitas de atropelo à lei efectuadas com a conivência (talvez mesmo incentivo) da presidência da autarquia, apesar de todos os envolvidos serem presumíveis inocentes porque, além de nunca se terem declarado culpados, não foram, ainda, julgados nem condenados em tribunal.
Logo, afastar Carlos Sousa da Câmara de Setúbal nesta altura, parece-me tudo menos uma coincidência. Para mim, trata-se de uma clara fuga à assunção de responsabilidades políticas (caso viesse a haver uma condenação judicial), mas é, sobretudo, o não querer ser atingido pelos reflexos eleitorais negativos que a situação arrastaria, sempre superiores aos danos colaterais que o “voluntário despedimento à força” acaba por trazer. Além disso, há a secreta esperança de a nova presidente fazer um bom trabalho (tem três anos para isso), ganhar a confiança da população e levar a que os eleitores esqueçam que Carlos Sousa fazia parte do PCP (e que tinha o apoio do partido nessa altura) se ele vier a ser acusado.
Mas, agirá o PCP sempre desta forma expedita sempre que os seus autarcas cometem actos ilícitos? Pensam que sim? Pois enganam-se! Coerência é coisa que falha no comportamento deste partido se pensarmos na forma como o caso da Junta de Freguesia de Cacilhas está a ser encarado. Vejamos então:
Carlos Leal, Presidente do executivo, afirmou na última reunião da Assembleia de Freguesia que usara os dados do recenseamento eleitoral (confidenciais) para enviar postais de aniversário e cartas de boas-vindas aos fregueses, um acto ilegal e que pode levar, in extremis, à perda de mandato.
Ora, como não podia deixar de ser, o órgão deliberativo fez aprovar uma Moção no sentido de que fosse cumprida a legalidade, a qual foi votada favoravelmente pelo BE (partido proponente), pelo PS e pelo PSD (parceiro de coligação do PCP) mas obteve os votos contra do PCP. Sim, leram bem... por mais inacreditável que pareça, o PCP votou contra a verificação da legalidade, sim! São tudo documentos públicos e, portanto, os originais podem ser consultados, por qualquer cidadão, na respectiva sede da Junta de Freguesia. (para os mais curiosos fica AQUI a versão on-line).
Mais tarde, contudo, Carlos Leal terá reconsiderado (porque percebe a asneira que fez, o que duvido, ou terá sido forçado a tal pelas "circunstâncias", ou seja, o partido) e informa de que iria suspender aquela acção, conforme CARTA enviada pelo Presidente da Assembleia de Freguesia à representante do BE. Todavia, acaba por afirmar o contrário a um JORNAL local... ?!?! entrevista durante a qual mostra um total menosprezo pelo funcionamento do órgão deliberativo da freguesia e afirma, peremptoriamente, que vai continuar tudo na mesma, ou seja, insiste na prática do acto ilícito.
Sendo certo que o afastamento de Carlos Sousa foi efectuado nos termos da lei, já a atitude do PCP levanta algumas questões pertinentes sobre a legitimidade política do acto (apesar desta não ser uma eleição unipessoal, todos sabem que muitos dos eleitores votaram no PCP porque o cabeça de lista era ele e não outro qualquer), nomeadamente após se conhecerem os argumentos invocados por Jerónimo de Sousa sobre a hipotética necessidade de o partido renuvescer a equipa... como se aquele edil (ainda há apenas um ano atrás considerado um autarca modelo), tivesse ficado senil de repente e, portanto, demasiado idoso para ocupar o cargo.
Embora no PCP ninguém o queira admitir, é por demais evidente que a razão do afastamento de Carlos de Sousa foi a retirada de confiança política na sequência da denúncia pública do caso das reformas compulsivas e das fortes suspeitas de atropelo à lei efectuadas com a conivência (talvez mesmo incentivo) da presidência da autarquia, apesar de todos os envolvidos serem presumíveis inocentes porque, além de nunca se terem declarado culpados, não foram, ainda, julgados nem condenados em tribunal.
Logo, afastar Carlos Sousa da Câmara de Setúbal nesta altura, parece-me tudo menos uma coincidência. Para mim, trata-se de uma clara fuga à assunção de responsabilidades políticas (caso viesse a haver uma condenação judicial), mas é, sobretudo, o não querer ser atingido pelos reflexos eleitorais negativos que a situação arrastaria, sempre superiores aos danos colaterais que o “voluntário despedimento à força” acaba por trazer. Além disso, há a secreta esperança de a nova presidente fazer um bom trabalho (tem três anos para isso), ganhar a confiança da população e levar a que os eleitores esqueçam que Carlos Sousa fazia parte do PCP (e que tinha o apoio do partido nessa altura) se ele vier a ser acusado.
Mas, agirá o PCP sempre desta forma expedita sempre que os seus autarcas cometem actos ilícitos? Pensam que sim? Pois enganam-se! Coerência é coisa que falha no comportamento deste partido se pensarmos na forma como o caso da Junta de Freguesia de Cacilhas está a ser encarado. Vejamos então:
Carlos Leal, Presidente do executivo, afirmou na última reunião da Assembleia de Freguesia que usara os dados do recenseamento eleitoral (confidenciais) para enviar postais de aniversário e cartas de boas-vindas aos fregueses, um acto ilegal e que pode levar, in extremis, à perda de mandato.
Ora, como não podia deixar de ser, o órgão deliberativo fez aprovar uma Moção no sentido de que fosse cumprida a legalidade, a qual foi votada favoravelmente pelo BE (partido proponente), pelo PS e pelo PSD (parceiro de coligação do PCP) mas obteve os votos contra do PCP. Sim, leram bem... por mais inacreditável que pareça, o PCP votou contra a verificação da legalidade, sim! São tudo documentos públicos e, portanto, os originais podem ser consultados, por qualquer cidadão, na respectiva sede da Junta de Freguesia. (para os mais curiosos fica AQUI a versão on-line).
Mais tarde, contudo, Carlos Leal terá reconsiderado (porque percebe a asneira que fez, o que duvido, ou terá sido forçado a tal pelas "circunstâncias", ou seja, o partido) e informa de que iria suspender aquela acção, conforme CARTA enviada pelo Presidente da Assembleia de Freguesia à representante do BE. Todavia, acaba por afirmar o contrário a um JORNAL local... ?!?! entrevista durante a qual mostra um total menosprezo pelo funcionamento do órgão deliberativo da freguesia e afirma, peremptoriamente, que vai continuar tudo na mesma, ou seja, insiste na prática do acto ilícito.
Terá sido "convidado" a afastar-se da Junta de Freguesia de Cacilhas? Temos um novo presidente? Não! Ao contrário de Carlos Sousa (que sempre negou as acusações de que é alvo), Carlos Leal (que admitiu, publicamente, na Assembleia de Freguesia e à imprensa local que cometera os actos, embora faça uma interpretação sui generis da lei e se julgue acima dela) mantém-se de pedra e cal no lugar, com a confiança política e a solidariedade do seu partido. E continua a desempenhar o seu papel como dirigente na Câmara Municipal de Almada (também do PCP) , como se nada se tivesse passado...
Agora comparem as duas situações: Carlos Sousa, em Setúbal, e Carlos Leal, em Cacilhas, e digam lá se não é caso para concluir que o PCP tem “dois pesos e duas medidas”?
E deixo-vos uma pergunta que é o inverso daquela apresentada pelos jornalistas do Público: será que Carlos Leal se manteria à frente da Junta de Freguesia de Cacilhas se, tal como o seu camarada de Setúbal, fosse um militante que questionasse as opções e orientações políticas do PCP?
Agora comparem as duas situações: Carlos Sousa, em Setúbal, e Carlos Leal, em Cacilhas, e digam lá se não é caso para concluir que o PCP tem “dois pesos e duas medidas”?
E deixo-vos uma pergunta que é o inverso daquela apresentada pelos jornalistas do Público: será que Carlos Leal se manteria à frente da Junta de Freguesia de Cacilhas se, tal como o seu camarada de Setúbal, fosse um militante que questionasse as opções e orientações políticas do PCP?
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