quinta-feira, 7 de setembro de 2006

Carta a uma jovem amiga

Hoje estou sem inspiração para escrever. Por isso, resolvi ir, mais uma vez, ao "baú da memória" e de lá retirei esta carta/desabafo escrita há uns tempos atrás e que aqui publico alguns excertos:

«(...) Sei que nenhum laço familiar nos liga, é bem verdade. Mas considero-te “um pedacinho minha”, expressão que utilizo para demonstrar o muito carinho que sinto por ti... A filha que não tive, é bem verdade, mas, principalmente, a jovem que admiro sobremaneira, pela inteligência, pela coragem de assumir a diferença, pelo à vontade em discutir temas habitualmente arredados do léxico juvenil e, principalmente, por me identificar com o carácter dessa jovem tímida, de riso espontâneo, com uma sensibilidade muito acima da média.

Nunca tentei ocupar o lugar da tua mãe, como bem o sabes. Tive, sempre, o cuidado de separar os papéis que cabem a cada uma e, ontem, como hoje, tentei ser, simplesmente, amiga... Porque esse estatuto não usurpa nenhum outro: cada amigo tem o seu cantinho especial, que é só dele, e eu pensei que me tivesses reservado um, tal como eu tenho um que será sempre teu, aconteça o que acontecer daqui para a frente.

Reconheço, agora, que talvez tenha errado ao pensar que os meus actos, ao longo destes anos em que nos conhecemos, tinham sido suficientes para que tivesses percebido que o meu único desejo, mesmo que nunca o tenha exprimido por palavras, era o de poder partilhar contigo uma amizade construída passo a passo, sem imposições de qualquer espécie, solidificada em interesses comuns, ao ritmo e necessidades de cada uma de nós, assente em emoções vividas em conjunto, numa cumplicidade que pensei inabalável.
(...)
Não quero pensar na hipótese, algo provável tenho de o admitir, de alguma vez teres interpretado mal as minhas intenções. Não quero pensar, sequer, que o teu crescente silêncio dos últimos meses, mais do que mera dificuldade em expressar sentimentos íntimos (que julgava perceber tão bem... também eu, na tua idade, era assim calada e introvertida), possa ter sido fruto de uma qualquer dúvida quanto aos meus sentimentos por ti, como se, inexplicavelmente, passasse a ser alguém que se tolera apenas por obrigação.
(...)
Recuso-me a aceitar que esse teu comportamento fechado (que aceitei como sendo uma característica da tua personalidade, típica das crises da adolescência pelas quais todos os jovens na tua idade passam, e que, a seu tempo, seria ultrapassada como aconteceu comigo) possa ser a expressão de um desinteresse que foi quebrando os fortes laços de respeito e confiança mútua que acreditei termos construído e, hoje, reste apenas indiferença, ou a necessidade egoísta de aproveitares certos momentos para atingires meros objectivos pessoais, cuja satisfação final vale o sacrifício de gramares uma companhia que não aprecias, fingires atitudes que não sentes, ou mascarares sentimentos, apenas para obteres o que queres.
(...)
Com esta carta, não pretendo pressionar-te a assumir nenhuma atitude ou a admitir seja o que for, sei que somos amigos apenas de quem queremos e não de quem se nos impõe (por isso, respeitarei o teu silêncio se essa for a tua opção)… Mas quero que saibas que continuo a mesma que conheceste há seis anos atrás, que gosta muito de ti, se preocupa contigo e quer, acima de tudo, o teu bem-estar e que te sintas feliz. Todavia, só ajudarei no que puder, ou, melhor dizendo, naquilo que me deixares ajudar, e, podes crer, nunca me intrometerei onde não queiras, como sempre fiz até aqui.
(...)
Sabes que podes contar comigo para o que der e vier. A esse nível, nada mudou. Estou disponível para te ouvir quando quiseres, à hora que for preciso. Pretendo continuar a agir como antes e, por isso, partilharei contigo tudo o que resulte de um acto voluntário e inequívoco da tua parte. (...)»

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