«Exmo
Senhor Presidente da República
Vou
usar um meio hoje praticamente em desuso mas que, quanto a mim, é a forma mais
correcta de o questionar, porque a avaliar pelas conversas que vou ouvindo por
aqui e por ali, muitos portugueses gostariam de ver esclarecidas as dúvidas que
vou colocar a V/Exa e é por tal razão que uso a forma “carta aberta”, carta que
espero algum dos jornais a que a vou enviar com pedido de publicação dê à
estampa, desejando que a resposta de V/Exa fosse também pública.
Tenho
74 nos, sou reformado, daqueles que descontou durante 41 anos, embora tenha
trabalhado durante 48, para poder ter uma reforma e que, porque as pernas já me
não permitem longas caminhadas e o dinheiro para os transportes e os
espectáculos a que gostaria de assistir não abunda, passo uma parte do meu dia
a ler, sei quantos cantos há nos Lusíadas, conheço Camilo, Eça, Ferreira de
Castro, Aquilino, Florbela, Natália, Sofia e mais uns quantos de que penso
V/Exa já terá ouvido falar e a “navegar na net”.
São
precisamente as “modernices” com que tenho bastante dificuldade em lidar que
motivam esta minha tomada de posição porquanto é aí que circulam a respeito de
V/Exa afirmações que desprestigiam a figura máxima do País Portugal, que, em
minha opinião, não pode estar sujeita a tais insinuações que espero V/Exa
desminta categoricamente.
Passemos
à frente das insinuações de que V/Exa foi 1º Ministro de Portugal durante mais
de dez anos, época em que V/Exa vendeu as nossa pescas, a nossa agricultura, a
nossa indústria a troco dos milhões da CEE, milhões que, ao contrário do que
seria desejável, não serviram para qualquer modernização ou reforma do nosso
País mas sim para encher os bolsos de alguns, curiosamente seus
correligionários senão mesmos seus amigos. Acredito que esse tempo que vivemos
sob o comando de V/Exa e que tanto mal nos fez foi apenas fruto de
incompetência o que, sendo lamentável, não é crime, os crimes foram praticados
por aqueles que se encheram à custa do regabofe, perdoe-me o popularismo, que
se viveu nessa época e que, curiosamente, ou talvez não, continuam sem prestar
contas à justiça.
Entremos
então no que mais me choca, porque nesses outros comentários,
a
maioria dos quais anónimos mas alguns assinados, é a honestidade de V/Exa que é
posta em causa e eu não quero que o Presidente da República do meu país seja o
indivíduo que alguns propalam pois que entendo que o cargo só pode ser ocupado
por alguém em quem os portugueses se revejam como símbolo de coerência e
honestidade, é assim que penso que nesta carta presto um favor a V/Exa, pois
que respondendo às questões que vou colocar, findarão de vez as maledicências
que, quero acreditar, são os escritos que por aí circulam.
1ª
Questão:
Circula
por aí um “escrito” que afirma que V/Exa, professor da Universidade Nova de
Lisboa, após ser ministro das finanças, foi convidado para professor da
Universidade Católica, cargo que aceitou sem se ter desvinculado da Nova o que
motivou que lhe fosse movido um processo disciplinar por faltar
injustificadamente às aulas da Nova, processo esse conducente ao despedimento
com justa causa, que se teria perdido no gabinete do então ministro da educação,
a quem competiria o despacho final, João de Deus Pinheiro, seu amigo e
beneficiado depois de V/Exa ascender a 1º Ministro com o lugar de comissário
europeu, lugar que desempenhou tão eficazmente que o levou a ficar conhecido
como “comissário do golfe”.
Pergunta
directa:
Foi
ou não movido a V/Exa um processo disciplinar enquanto professor da
Universidade Nova de Lisboa?
Se
a resposta for afirmativa, qual o resultado desse processo?
Se
a resposta for negativa é evidente que todas as informações que andam por aí a
circular carecem de fundamento.
2ª
Questão:
Circulam
por aí vários escritos sobre a regularidade da transacção de acções do BPN que
V/Exa adquiriu.
Sendo
certo que as referidas acções não estavam cotadas em bolsa e portanto só
poderiam ser transaccionadas por contactos directos, vulgo boca a boca, faço
sobre a matéria várias perguntas:
1ª
- Quem aconselhou a V/Exa tal investimento?
2
ª- A quem adquiriu V/Exa as referidas acções?
3ª-
Em que data, de que forma e a quem vendeu V/Exa as acções?
4ª-
Sendo V/Exa um renomado economista não estranhou um lucro de 140% numa aplicação de tão curto prazo?
3ª
Questão
Tendo
em atenção o que por aí circula sobre a Casa da Coelha, limito-me a fazer
perguntas:
1ª-
É ou não verdade que o negócio entre a casa de Albufeira e a casa da Coelha foi
feito como permuta de imóveis do mesmo valor para evitar pagamento de impostos?
2ª-
Se já foi saldada ao estado a diferença de impostos com que atraso em relação à
escritura se processou a referida regularização?
3ª-
É ou não verdade que as alterações nas obras feitas na casa da Coelha,
nomeadamente a alteração das áreas de construção foram feitas sem conhecimento
da autarquia?
4ª-
A ser positiva a resposta à pergunta anterior se já foi sanado o problema
resultante de obras feitas à revelia da autarquia, em que data foi feita tal
regularização e se foi feita antes ou depois das obras estarem concluídas?
5ª-
Última pergunta, esta de mera curiosidade, será que V/Exa já se lembra do
cartório em que foi feita a escritura?
4ª-
Questão
Esta
não circula na Net, é uma questão que eu próprio lhe coloco:
Ouvi
V/Exa na TV dizer que tinha uma reforma de 1300 €, que quase lhe não chegava
para as despesas, passando fugazmente pela reforma do Banco de Portugal. Assim
pergunto:
1ª-
Quantas reformas tem V/Exa?
2ª-
De que entidades e a que anos de serviços são devidas essas reformas?
3ª-
Em quantas não recebe 13º e 14º mês?
4ª-
Abdicou V/Exa do ordenado de PR por iniciativa própria ou por imposição legal?
5ª
Recebe ou não V/Exa alguns milhares de euros como “despesas de representação”?
Fico
a aguardar a resposta de V/Exa com o desejo de que a mesma seja de tal forma
conclusiva e que, se V/Exa o achar conveniente, venha acompanhada de cópias de
documentos, que provem a todos os portugueses que o que por aí circula na Net,
não passam de calúnias e intrigas movidas contra a impoluta figura de Sua Exa o
Senhor Presidente da República de Portugal.
A
terminar e depois de recordar mais uma das suas afirmações na TV, lembro uma
frase do meu avô, há muito falecido, alentejano, analfabeto e vertical: “ NÃO
HÁ HOMENS MUITO OU POUCO SÉRIOS, HÁ HOMENS SÉRIOS E OUTRAS COISAS QUE PARECEM
HOMENS”. Por mim, com a idade que tenho já não preciso, nem quero nascer outra
vez, basta-me morrer como tenho vivido, sério.
Com
os meus melhores cumprimentos.
José
Nogueira Pardal
Lisboa, 2012/02/01»
1 comentário:
O monólogo do vaqueiro.
Tal como Gil Vicente, tambem aqui o autor da carta se traveste de um idoso de 70 anos, com o objectivo de dar uma maior credibilidade ás dúvidas e questões.
Não existem dúvidas que uma esquerda que se auto intitula de guardiã de uma certa intelectualidade e seriedade, onde a defesa dos valores considerados mais humanos se torna numa arma,"dita moral",pretende bradar bem alto a sua diferença.
Frequenta tertúlias, ouve declamações de poemas, vai ao teatro, viaja pelo país e estrangeiro e ostenta uma aura de escol que, pretende ser distanciada do comum dos mortais enlatados em transportes públicos, frequentadores de tascas onde o futebol é o assunto rei.
A descodificação desta maneira de estar começa com o assunto tratado na carta aberta e é muito simples.
Os valores questionados são na sua essência, O VIL METAL.
Reduzem-se assim os valores imateriais citados acima, a um profundo sentimento de pretender ter conseguido o que outros conseguiram. Camões resume tudo isto na última palavra da sua mais conhecida obra, "... inveja".
Não é de somenos importãncia reparar que um parasita nascido a 5 de Maio de 1818, que se casou por conveniência, tenha escrito uma obra sobre o dinheiro e não sobre o trabalho.
Enviar um comentário