domingo, 24 de abril de 2011

A manada!

«Os chefes partidários não têm dado o exemplo. Nem aos políticos nem à população. Eles não têm dado o exemplo de que estão absolutamente convencidos de que é necessário fazer um esforço comum e que é necessário por em cooperação e em colaboração ... não se trata de fazer unidades nacionais, nem de uniões nacionais - isso são conversas fiadas de algumas pessoas... Mas convergência, no essencial, para resolver alguns problemas imediatos.»

...

«Em política, para o bem dos outros, as pessoas não têm só de falar com quem gostam. Não se pede que namorem, para irem ao cinema, para irem jantar juntos. Pede-se para se entenderem em nome das pessoas que representam. Estão ali porque receberam umas centenas de milhar de votos. E eles têm de falar com quem está na frente deles, quer queiram quer não. Eles têm de dar o exemplo.»

...

«Eu nunca fui contra a política nem sou contra os políticos. Sou contra os maus políticos. E nós estamos, actualmente, a ser governados por muitos maus políticos. É contra estes que eu me enervo, não é contra a política... essa ideia não me passa pela cabeça. A política é das artes mais nobres que existem. É o serviço público. É servir os outros, também.»

...

«Ainda há liberdade de expressão. Mas a expressão livre do pensamento está muito condicionada.»

...

«Os políticos não podem tratar o povo, os cidadãos, como animais. Têm que os tratar com todo o respeito que eles merecem. Têm que lhes dizer o que é que se passa, têm que os informar.
Querem sacrifícios? Têm que, primeiro, dar o exemplo. Fazer eles os próprios sacrifícios.
Os partidos têm de fazer sacrifícios. Têm de dar o exemplo. Têm que os informar do que querem fazer, do que podem fazer e do que devem fazer. Se eles não fizerem isso, e além disso não houver equilíbrio social, eu receio o pior para Portugal.»

...

«O problema é que os partidos, mais uma vez, e eu não sou contra os partidos (de todo)... os partidos, graças à disciplina de voto, graças à ditadura absolutamente obscena dos chefes dos partidos, graças à eleição directa dos chefes dos partidos, sem discussão, sem congressos a sério para discutir políticas, os partidos afastaram as pessoas que têm um mínimo de dignidade pessoal.
Você já viu como se vota no parlamento?
Uma manada!
Levanta-se um grupo de 50. Senta-se um grupo de 50. Levanta-se um grupo de 70... Já nem se contam os votos. Nem se pergunta quantos votam a favor ou contra. Não! O PS votou contra, o PSD votou a favor... É uma pequena manada que se levanta, só. São uma espécie de robots automáticos.
Como é que você quer que, com um sistema político destes, com um parlamento destes... como é que você pode pedir às pessoas que têm alguma dignidade, alguma inteligência, alguma seriedade, alguma honestidade, que se submetam como cãezinhos a dar e dar com o rabinho e as orelhas?
Não pode ser!»

...

«O essencial é respeitar a dignidade e a independência das pessoas. E uma pessoa, um homem que é profissional, que é um advogado, que é um médico, que é um electricista, que é um marceneiro, que é um estudante, que é um artista, que é um escultor... essas pessoas têm dignidade própria, não estão para se submeter àquela espécie de manada, robotizada, automática, que se levanta e se senta no parlamento.»

...




António Barreto na RPT1, entrevistado por Fátima Campos Ferreira no programa "Portugal e o Futuro", em 21-04-2011.

20 comentários:

Fernando Antolin disse...

A entrevista dada por António Barreto, que ouvi com atenção, deu-nos a exacta medida da degradação que atingimos.
Uma pena.
Boa Páscoa.

Anónimo disse...

QUANDO OS SÓCRATES FOREM APENAS FILÓSOFOS;
OS ALEGRES APENAS CRIANÇAS;
OS CAVACOS APENAS INSTRUMENTOS MUSICAIS;
OS PASSOS APENAS OS DE DANÇA;
OS LOUÇÃS APENAS ERROS ORTOGRÁFICOS;
OS JERÓNIMOS APENAS MONUMENTOS NACIONAIS;
E PORTAS SÓ DE ABRIR E FECHAR...

Aí sim, VOLTAREMOS A SER A FELIZES!

Boa Páscoa.

Belzebu disse...

Que gritaria!
Gritar só mostra falta de razão!

Almerindo Simpício das Neves (Mindo para os mais amigos) disse...

Patéticas, estas palavras de António Barreto. Como patética foi a triste imagem que pretendeu transmitir aos seus concidadãos na entrevista aqui citada, e ao que parece transformada em qualquer coisa de muito importante pela dona deste blog.

Também eu ouvi com atenção o "traidor" à Revolução de Abril, que agora não tem vergonha em vir perorar (aparentemente) contra aquilo que andou a fazer e a promover ao longo de anos e anos.

Hipocrisia pura! Santa e absoluta hipocrisia.

Que pena, de facto. Melhor que Barreto, só Mário Soares. Que anda para aí feito "barata tonta", sob um manto falso de um bafiento anonimato e secretismo que todos, afinal, descobrem sem a mínima dificuldade, elogiando tudo e todos quantos (com ele e a seu lado) trabalharam anos a fio para destruir o nosso país, para tentar manter o "status quo" dos poderosos que tanto ele como Barreto tanto admiram e a quem tanta vassalagem prestam.

Mas a luta dos povos indicará, inexoravelmente, o caminho do caixote do lixo da história a estas personagens de pacotilha, traidores e vendilhões do povo.

E já chega deste discurso pré-fascista anti-política e antio-partidos políticos. Por muito que António Barrero o desminta, foi isso mesmo que ele passou o tempo todo a fazer. E essa é, não tenhamos dúvidas, a antecâmara da ditadura e do fascismo!

Churchill disse...

Mindo
Creio que tem razão quando chama ao Barreto traidor da revolução de Abril, mas apenas para a perspectiva comunista do que gostavam de ter sido.
Podia no entanto ir mais atras, à tal reforma agrária, que mais não foi que pegar em grandes propriedades e dividir o que havia. O espirito de cooperativa nunca funcionou, os antigos trabalhadores não quiseram fazer comunidades, mas antes passarem eles próprios a proprietários, com os tiques dos patrões.
E o partido comunista tem aqui um papel muito negativo, andou a prometer o eldorado, mas esqueceu-se de dizer que era preciso continuar a trabalhar, e que tinham de ser os mesmos a fazê-ló (alguns pensaram que iam ter os antigos patrões de foice nas searas, ao sol).
Isto foi uma absoluta destruição até chegarem os fundos comunitários, e aí andou o Cavaco a distribuir dinheiro para investir, mas as pessoas na maioria dos casos foram comprar jipes e Mercedes, e passado pouco tempo não havia produção nenhuma. A conversa de terem dado dinheiro para não produzir talvez sirva para enganar os manifestantes de cidade, no Alentejo toda a gente sabe que é falsa, isso só sucedeu nas pescas, e mesmo assim porque muitos pescadores foram gulosos, e preferiram receber logo.

Sobre a questão da carneirada parlamentar, estou em total acordo com o Barreto. Salvo a questão do orçamento, e mais uma ou duas questoes estratégicas que sejam compromissos de programa eleitoral, acho uma miséria o comportamento dos deputados, que votam sempre em grupos, e nos poucos casos em que não sucede, são imediatamente corridos na primeira oportunidade (vocês no PCP a este respeito não podem falar muito, pois há uma ideia estranha de atribuir a posse do mandato ao partido, o que é contrário ao principio de democracia parlamentar), como agora o PS fez as deputada católicas, e o PSD ao Pacheco Pereira, etc.

PS. do que se passa há 35 anos no Alentejo tenho conhecimento de causa.
Até logo

pinto da costa disse...

Este tal e qual Almerindo Simplicio parece ser um bom observador cheio de reflexos de candeias às avessas consigo.
Penso eu de que...

Almerindo Simpício das Neves (Mindo para os mais amigos) disse...

Caro Churchill,

Uma vez mais vou ter que discordar de si. É de uma profunda injustiça qualificar os trabalhadores rurais alentejanos que construíram e defenderam enquanto puderam a Reforma Agrária de 1974/1975 como "calões", ou como meros "candidatos a patrões". É profundamente injusto e é absolutamente falacioso.

Nunca o nosso país produziu tanto em termos agrícolas como nos tempos da Reforma Agrária. Não sou eu quem o afirma, são os números oficiais, as estatísticas do País. Como seria isso possível se os tais trabalhadores "calões" ou tivessem como objectivo transformar-se em "proto-patrões"?

Cometeram-se erros naquele período e naquele processo? Claro, é evidente que se cometeram erros! Mas qual é o processo profundamente transformador, revolucionário, isento de erros? Não há, nem jamais haverá.

Mas que se trabalhou de forma árdua para o desenvolvimento do País naqueles tempos, isso ninguém poderá alguma vez desmentir. Pode não se gostar. Pode ser-se ideologicamente contra o processo. Mas é indesmentível que do ponto de vista da produção, nunca o país tinha atingido os resultados que atingiu naqueles anos.

E ao contrário do que diz, foi a Europa - uma vez mais a Europa, sempre a Europa - que com os seus fundos comunitários nos obrigou a abandonar plantações, a destruir vinha, a eliminar explorações pecuárias, no fundo a deitar abaixo praticamente todo o sistema produtivo nacional (não apenas na agricultura, também nas pescas e naíndústria aconteceu o mesmo), em defesa dos inbteresses dos poderosos dessa mesma Europa que estava repleta de excedentes e precisava de os escoar de alguma forma.

António Barreto foi - com Mário Soares - um dos responsáveis por esta política de traição ao interesse nacional. Não de traição aos comunistas, mas de traição a todo o Povo Português. Esta é a história que não querem que se conte, mas é a verdadeira história. Numa coisa, no entanto, você tem razão: o que se passou (e continua a passar) no Alentejo nos últimos 35 anos é, obviamente, criminoso. Mas são 35 anos; não são 37!

José Eduardo disse...

Caro Simplício: leia o que o Otelo diz dos Social Fascistas do PCP: ‎"Foi o secretariado do PCP que, quando em 84 anunciei que ia ser cabeça-de-lista da FUP [Força de Unidade Popular] por Lisboa ao parlamento, resolveu meter-me na prisão para impedir outro desastre eleitoral, como em 1976. E tenho dito isto sem que exista da parte da direcção do PCP alguma palavra em contrário."

Veja o que ele diz do Cunhal: "Tivemos um bate-papo violento. Ele começou a fazer críticas ao MFA e a dizer que o MFA devia fazer isto e aquilo. E eu disse-lhe: 'Ó doutor, eu não lhe vou dizer o que é que deve fazer no Partido Comunista. Eu considero que o PC tem tido acções muito más, por vezes, que são prejudiciais à revolução e se quiser eu faço aqui uma lista do que é que o seu partido tem feito, mas não lhe admito que me dê orientações, porque o MFA não tem nada a ver consigo, nem com nenhum partido, e se eu precisar de orientações peço ao Melo Antunes...' "

Continua: "No prazo de um ano o objectivo era realizar eleições e até fiquei feliz, porque vi que o PCP, que se arvorava em dono da verdade e líder das massas, ficou em terceiro lugar."
Fonte: ionline (http://www.ionline.pt/conteudo/119121-otelo-o-regime-esta-criar-condicoes-ser-abatido-como-aconteceu-com-o-fascismo?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter)

Simplício: está na hora de tomar o chá e acautelar-se com os 'paulitos'!

Almerindo Simplício das Neves (Mindo para os mais amigos) disse...

Oh sr. José Eduardo, agora já vai no Otelo? Já chegou aí? Não dá para mais?

O sr. por acaso lembra-se de quem é Otelo? Ou melhor, quem foi Otelo? O que fez e não fez Otelo? E por acaso ouviu Otelo dizer, bem recentemente, que aquilo de que precisamos é de alguém "inteligente como Salazar"? E ouviu Otelo dizer, também, que se soubesse o que sabe hoje nunca teia feito o 25 de Abril (como se o homem tivesse feito o que quer que seja, mas enfim ...)?

Por outro lado, será que você não consegue mesmo perceber que vindas do Otelo, as palavras que você cita são genuínos elogios ao PCP? (sabe, assim como os elogios que você tanto gosta de me dirigir a mim, entende?) É difícil perceber isto? Precisa de um bonequinho?

Sabe, apetecia-me ser mal educado. A sua conversa já me enerva, e mandá-lo a uma certa parte esteve quase na ponta dos meus dedos. Mas não, não lhe darei, pelo menos por enquanto, esse prazer. Até porque cada vez mais estou convencido de que o óptimo é que você aqui venha e abra a boca muitas vezes. Por isso até lhe dou força e ânimo: continue assim, caro doutor quase doutor. Quinto, não é? Quinto é o seu lugar, não é? Pois bem, vá lá continuando por esse caminho, que vai ver que ainda lá consegue chegar - seja onde for que queira chegar ... - em primeiro e destacado ... Ou melhor, destacado talvez não, porque lhe ficará muito melhor chegar "lá" ao lado do ... Otelo! Boa viagem!

PS: você quando sai do seu registo do "social-fascismo" perde-se completamente. Não é que não ande também perdido nesse seu registo, mas quando o abandona ó tio, ó tio, é uma tragédia completa!

Churchill disse...

Mindo
Vamos lá por partes.
Não sei onde foi buscar esses números, os da FAO são muito diferentes, e mesmo que não fosse, numa actividade não se pode ver apenas um ou dois anos, muita da produção agrícola tem ciclos maiores (não se planta oliveiras e se fica com azeite no ano seguinte, nem vinha, nem cortiça, nem muitos outros produtos).
Agora uma coisa lhe garanto, no alto alentejo no verão de 74 só o que se fez foi pilhar com violência, com armas entregues a criminosos que as usaram para exercer pressão e obrigar a fugir, muitas pessoas que tinha propriedades e famílias.
Lembro que tinham sido muitos anos de estado novo, baseado numa produção agrícola barata, que fornecia produtos alimentares baratos, e que obrigava a pagar mal aos trabalhadores. Esse é um dos pilares do pensamento de Salazar, que veio da sua tese de doutoramento, e que também se aplica até hoje por muito lado, por exemplo na PAC (paga-se mais aos trabalhadores, mas para os produtos não ficarem caros dão-se subsídios, que implica mais impostos, ou seja na pratica vai dar ao mesmo).

De volta ao que se passou, logo em 76 se começou a ver que as herdades estavam muito abandonadas, a ideia de cooperativa não vingou, pois as pessoas não tinham a preparação para investir em conjunto, criar sinergias de grupo, o que pode funcionar mas precisa de pessoas preparadas, e não havia, era uma população muito ml preparada (é um facto, não um juízo de valor).

O que lei Barreto procurou foi reverter a situação, e tentar voltar aos níveis de produção anteriores. Para mim ainda teria a outra virtude de devolver aos donos o que tinha sido roubado (desculpe lá o termo mas para mim foi mesmo assim).

Mais recentemente, essa ideia de que pagaram para arrancar vinhas ou abandonar culturas é uma falsidade dita muitas vezes, mas nem por isso passará a facto. Houve efectivamente mudança de apoios, nuns anos havia subsídios para umas coisas, noutros para outras, em função das necessidades da comunidade (com muitos erros, claro!), e isso se for bem feito é gerir. Há na agricultura um risco considerável, inerente à actividade, que se prende com a incerteza da produção e até da comercialização dos produtos que muitas vezes são perecíveis.

Os fundos são sempre discricionários, bons para uns e maus para outros, e por isso eu prefiro uma sociedade liberal, sem essa forma de decisão burocrática, que vai sempre favorecer alguns, e muitas vezes os piores.

Mas convidava-o a visitar nestes dias o Alentejo, e a ver que algumas produções estão outra vez em alta, mas que o sucesso se prende com a escala, com a capacidade exportadora, com a criação de valor após cultivo, no fundo com a evolução. Mas isso precisa de trabalhadores preparados, não chega saber cavar.

Enfim, para lá de algumas questoes ideológicas, para mim caras, como a propriedade e a sua posse, acho que passados 30 anos os partidos deviam olhar para tudo o que falhou, e pensar num novo paradigma, e de caminho dar real formação aos agricultores, e de uma vez eliminar essa tristeza que é admitir que a agricultura é para os que não querem estudar, mas que depois querem ser remunerados como os que foram esforçados, e que tiveram sucesso na fase preparatória da vida.

Bye

José Eduardo disse...

Caro Simplício: a sua conversa bacoca e bafienta merece-me um sorriso de satisfação :).

Vá lá tomar o cházinho já que não tem capacidade para mais nada!

Amanhã há mais.

Anónimo disse...

Ah pois, o AB não tem razão. Claro que não... Mas que é assim mesmo que as coisas acontecem é. Ai se é.
Vejamos um exemplo:
Qual é a força política que obriga os seus deputados e autarcas a entregarem uma parte significativa do salário (ou da reforma no caso dos aposentados) ao partido?
Qual é a força política que obriga os membros dos órgãos autárquicos e até aqueles que indica para integrarem as assembleias de voto nas eleições, a entregarem ao partido o valor das senhas de presença recebidas?
Qual é a força política que quando um(a) autarca ou deputado(a) expressa, publicamente, opinião pessoal, de imediato é-lhe retirada a confiança política e aplicada a pena de expulsão?
Qual é a força política que, na Assembleia da República, utiliza a disciplina de voto como condição prévia em todas as votações e, por isso, todos os deputados(as) votam sempre de forma idêntica e nunca se assistiu, desde 1976, a votações diferentes dentro do seu grupo parlamentar?

Almerindo Simplício das Neves (Mindo para os mais amigos) disse...

Caro Churchill (de novo tem que ir em duas partes ...),

Não vou discutir números consigo, é óbvio, porque eles são os que são. Da FAO, de outros organismos, da nossa cabeça, seja do que forem. Ambos sabemos que, entrando numa discussão dessa natureza, jamais dela sairemos. E é estéril, absolutamente estéril.

Prefiro, por isso, o "desafio" ideológico. Não sem antes lhe dizer que penso que você exagera manifestamente (para não dizer outra coisa) ao afirmar que o que se passou em 1974 no alto Alentejo foi pura pilhagem, com bandos de criminosos armados por todo o lado. Houve acções extremadas? Houve sim senhor! Houve erros? Houve sim senhor. Agora uma situação generalizada de roubos e pilhagens como a que resulta das suas palavras, não isso não foi o que aconteceu, você sabe muito bem que não foi, e não é claramente isso que a História regista.

Mas vamos então à questão ideológica. Ao contrário do que talvez lhe possa parecer, e certamente pensa, eu não sou contra a propriedade privada. Não tenho a sua visão sacrossanta da propriedade privada, mas não sou radicalmente contra a apropriação privada de bens de utilização manifestamente individual, nem sequer contra a gestão privada de alguns bens e meios de produção.

Essa ideia de que os comunistas são contra a propriedade privada "tout court" tem servido apenas como papão agitado pela minoria daqueles que detém, efectivamente, a esmagadora maioria dos recursos disponíveis, acumulando riqueza sobre riqueza à custa da grande maioria que nada tem e vive, em muitos e muitos casos, na miséria mais absoluta. E é uma falácia completa, mentira retinta, que visa explorar a ignorância e o medo mais instintivos das pessoas, empurrando-as para a descrença, quando não a rejeição pura e simples, das teses mais progressistas e revolucionárias.

[Continua]

Almerindo Simplício das Neves (Mindo para os mais amigos) disse...

[Parte II]

A questão é que a posse privada da propriedade levada ao absoluto como no sistema capitalista que nos tem governado, está muito longe de constituir uma solução para os problemas da humanidade, bem pelo contrário, tem-se afirmado como factor de geração de novos e mais complexos problemas.

O inegável e dramático alargamento do fosso entre os muito pobres e os muito ricos - o número daqueles crescendo a um ritmo assustador, e o número dos últimos diminuindo também a um ritmo assustador -, com a agravante do aumento, também dramático, dos que não sendo muito pobres são, de facto, pobres, pode bem ser o exemplo mais acabado das nefastas consequências que a defesa exacerbada da propriedade privada provoca na Humanidade em termos gerais.

A defesa “cega, surda e muda” das virtudes da propriedade privada, o primado absoluto do privado sobre o colectivo, comporta uma contradição insanável com a tese, também ela liberal, que você citou há uns tempos. De facto como pode ser assegurada a igualdade de oportunidades à partida a todos, e ser depois a selecção feita a partir dos “mais competentes”, quando as regras, à partida, estão já viciadas pelo facto da propriedade ser, desde logo, totalmente privada? A menos que os “competentes” sejam sempre os mesmos – os detentores da propriedade – tendo por isso todos os outros, os “incompetentes”, que se contentar para sempre com essa sua condição de... “incompetentes”.

Esta é, entre outras, uma das contradições insanáveis do sistema capitalista, que ao assentar indissoluvelmente não apenas na apropriação privada da riqueza, mas sobretudo na acumulação privada dessa mesma riqueza, promove inexoravelmente o alargamento do fosso entre ricos e pobres e as consequentes injustas e insustentáveis desigualdades sociais, conduzindo directamente ao dramático aumento do número de pobres e de excluídos.

É essa realidade a que assistimos desde o início do desenvolvimento do sistema capitalista: a concentração da riqueza num cada vez menor grupo de pessoas, que são cada vez mais ricas e poderosas, que se traduz, na outra face da moeda, de cada vez mais seres humanos a viver abaixo do limiar da pobreza, em condições mais que precárias. Isto é, o capitalismo foi incapaz de resolver os problemas da humanidade, antes contribuiu e contribui activamente para o seu aprofundamento e agravamento.

E apenas existe o Capitalismo, não existe um “capitalismo selvagem” e um “capitalismo menos selvagem”. Este é um eufemismo para tentar mascarar os efeitos de uma realidade que é inexorável no sistema capitalista, que se traduz na exploração desenfreada e progressiva dos recursos e dos próprios seres humanos, que não tem controlo possível dentro do próprio sistema uma vez que aquela exploração desenfreada é a Lei essencial, fundadora, do próprio sistema capitalista.

O capitalismo jamais terá um rosto humano e jamais será universal. Porque é um sistema de organização concebido, estruturado e desenvolvido em torno do conceito que caracterizaria, de forma ligeira reconheço, como um “sistema de alguns Homens (poucos, a minoria) contra outros Homens (neste caso, a maioria)”. Enquanto assim for, jamais poderá ser um sistema universal, jamais poderá ser um sistema de todos os Homens, Universal!

Miguel disse...

"O capitalismo jamais terá um rosto humano e jamais será universal. Porque é um sistema de organização concebido, estruturado e desenvolvido em torno do conceito que caracterizaria, de forma ligeira reconheço, como um “sistema de alguns Homens (poucos, a minoria) contra outros Homens (neste caso, a maioria)”.

Senhor Almerindo, você que me parece tão instruído, explique-me lá então como foi possível na ex-URSS a existência de regimes comunistas tão bárbaros e de má memória? Não eram estes governos, também, de uma elite (minoritária) que dominava e explorava uma maioria que vivia na miséria (o povo)? O que distinguiu esses regimes comunistas do capitalismo que condena, em relação à exploração e à miséria em que viviam as populações por contraste com a ostentação e riqueza dos governantes?
Tinha mais perguntas para lhe fazer, se tiver oportunidade as farei, por enquanto fico-me por estas.
Anteceipadamente muito obrigado.
E viva a Democracia e a Liberdade.

Pianoman disse...

Parabéns pelo blogue e força na sua luta.
Só queria fazer um reparo idiota:
O título não corresponde à imagem.
Um conjunto de ovelhas é um rebanho e não uma manada.

José Eduardo disse...

Caro Simplício: então agora os "comunistas" já não são contra a propriedade privada? Hum, deve ser porque agora já têm alguma coisa a defender, o que será?

Estava aqui a lembrar-me do tempo das ocupações selvagens e tento imaginar como reagiria o famigerado Simplício se resolvesse ocupar a sua casa de férias?

Quem os viu e quem os vê!

O Otelo é que vos conhece bem e não foi nas vossas "cantigas"...

Almerindo Simplício das Neves (Mindo para os mais amigos) disse...

Caro Miguel,

O sr. está enganado, não faz perguntas nenhumas. Faz afirmações, profissões de fé, e exprime ódio. Tenta justificar o mal do sistema que é o nosso com o mal de outros sistemas, ou de outras experiências, e mesmo assim revelando um desconhecimento confrangedor relativamente à realidade.

O sr. limita-se a reproduzir aqui aquilo que ouviu dizer, que lhe impingiram como verdade absoluta, mas que você não confirmou, não pode confirmar, nem jamais alguém confirmará. O que é muito diferente daquilo que eu digo relativamente ao sistema capitalista que critico, de forma objectiva e com factos reais, palpáveis, indesmentíveis.

Sabe, digo-lhe mais sr. Miguel. Miséria é o que esses povos conhecem agora, com o triunfo do capitalismo nos seus países. Agora é que esses povos conhecem a miséria, embora, como é óbvio, o sr. não acredite em mim. Acredita noutros, paciência. Mas havemos de lá chegar; havemos de chegar à verdade.

Agora pergunto-lhe eu: o sr. é capaz de contestar, objectivamente, nem que seja um dos aspectos que eu refiro relativamente aos efeitos sociais do capitalismo? Não, não é capaz. A sua capacidade esgota-se na afirmação de que outros foram iguais ou piores do que o capitalismo.

Perguntas, isso o sr. não faz nenhuma. Portanto não sei como lhe responder.

Lamento.

Almerindo Simplício das Neves (Mindo para os mais amigos) disse...

Sr. José Eduardo,

Este comentário é a prova acabada de duas coisas: a primeira é que os seus insultos e ameaças não me intimidam, não tenho medo de si; a segunda é que eu sou capaz de descer ao seu nível (quando e se quiser), ao passo que o sr. é absolutamente incapaz de se guindar a níveis elevados (mesmo que queira, muito ...).

A verdade é que o sr. é um ignorante. Puro e refinado ignorante. E faz gáudio em ostentar a sua ignorância, como atesta de forma indesmentível o comentário fascistóide que aqui nos quis deixar apenas para me tentar atingir pessoalmente (consta que o sr. é socialista; mas nem isso, mesmo sabendo o que isso significa, me cheira muito ...).

Digo-lhe o mesmo que disse ao Miguel, mas a si com total desprezo: o sr. é incapaz de contrariar um que seja dos meus argumentos. Não tem "bagagem" para isso. Daí o ataque pessoal que sistematicamente me dirige. Por isso é que eu não consigo perceber, sequer, como é que você consegue ser 5º. Só o entenderei porque seguramente o total daqueles com quem se compara é cinco ... Não vejo outra forma.

José Eduardo disse...

Caro Simplício: quem é que consegue ter "bagagem" para si?

Um refinado absolutista da "verdade" do Social Fascismo do PCP!

Você é um iluminado e está a fazer falta em Cuba, para reeducar o Raul Castro na sua saga de adesão ao capitalismo puro e duro!

Quanto a mim: descanse, não é das suas avaliações que dependo; já de si não poderá vir a dizer o mesmo…

"UMA PANCADA NA TESTA FAZ VER"

P.S. Veja lá essa coisa dos "Paulitos"; ainda se vai dar mal com a coisa...

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