Fernando Nobre vai ser cabeça de lista do PSD no circulo de Lisboa. Contra um homem de convicções - mesmo que não sejam as minhas - como Ferro Rodrigues, o PSD aposta num ziguezagueante populista. O ex-candidato estava no mercado e Passos Coelho pagou o preço que lhe foi pedido: dar-lhe a presidência da Assembleia da República. As contas foram de merceeiro: Nobre vale 600 mil votos. Errado. Se os votos presidenciais nunca são transferíveis para legislativas, isso é ainda mais evidente neste caso. Todas as vantagens competitivas de Nobre desapareceram quando ele aceitou este lugar.
O PSD vai perder mais do que ganha. Porque este convite soa a puro oportunismo. Porque quando Fernando Nobre começar a falar o PSD vai ter de se virar do avesso para limitar os danos. Porque a esmagadora maioria dos eleitores de Nobre nem com um revólver apontado à cabeça votará em Passos Coelho. Porque ele afastará eleitorado que desconfia de gente com tanta ginástica política.
Quem também não fica bem na fotografia é Mário Soares, que, na última campanha, por ressentimento pessoal, alimentou esta candidatura. Fica claro a quem ela serviu. Agora veio o agradecimento.
Quanto a Fernando Nobre, é tudo muito banal e triste. Depois da campanha que fez, este é o desfecho lógico. Candidatos antipartidos, que tratam todos os eleitos como suspeitos de crimes contra a Pátria - ainda não me esqueci quando responsabilizou Francisco Lopes pelo atual estado de coisas, apenas porque é deputado - e que julgam que, por não terem nunca assumido responsabilidades políticas, têm uma qualquer superioridade moral sobre os restantes acabam sempre nisto. A chave que usam para abrir a porta da sala de estar do sistema é o discurso contra o sistema. Não querem "tachos", dizem eles, certos de que todos os eleitos apenas procuram proveitos próprios. Eles são diferentes. Depois entram no sistema para mudar o sistema, explicam. E depois ficam lá, até vir o próximo com o mesmo discurso apontar-lhes o dedo. É tudo tão antigo que só espanta como tanta gente vai caindo na mesma esparrela.
Quem tem um discurso sem programa, sem ideologia, sem posicionamento político claro e resume a sua intervenção ao elogio da sua inexperiência política tem sempre um problema: só é diferente até perder a virgindade. E quando a perde fica um enorme vazio. Porque não havia lá mais nada. Porque a política não se faz de bons sentimentos, faz-se de ideias, projetos e programas políticos. Ideias, projetos e programas que resultam do pensamento acumulado pela experiência de gerações, que se vai apurando no confronto e na tentativa e erro. A tudo isto chamamos ideologias. Quem despreza a ideologia despreza o pensamento. Quem despreza o pensamento despreza a política. Quem despreza a política dificilmente pode agir nela com coerência e dignidade.
Para além do discurso contra os políticos, este político teve outra bandeira: as suas preocupações sociais. Nada com conteúdo. Para ele bastava mostrar o seu currículo de ativista humanitário. E a quem aceita ele entregar a sua virginal e bondosa alma? Ao candidato a primeiro-ministro mais selvaticamente liberal que este País já conheceu. Não sou dos que acham que toda a gente tem um preço. Mas ficámos a saber qual é o de Fernando Nobre: um lugar com a dimensão da sua própria vaidade.
Tudo isto tem uma vantagem: é uma excelente lição de política para muita gente. Quem diz que não é de esquerda nem de direita, quem tem apenas a sua suposta superioridade moral como programa e quem entra no combate político desprezando quem há muito o faz nunca é de confiança. Um dia terão que se decidir. E Nobre decidiu-se: escolheu a direita ultraliberal em troca das honras de um lugar no Estado. Na hora da compra, os vaidosos têm uma vantagem: saem mais baratos. Não precisam de bons salários ou de negócios. Basta dar-lhes um trono e a sensação de que são importantes. Vendem a alma por isso.
Daniel Oliveira (http://www.expresso.pt/)
Antes pelo Contrário 8:00 Segunda feira, 11 de abril de 2011
8 comentários:
Minda e outros asidu@s a este blogue, já ter-se-ão dado conta como funciona o comunismo nesta terra, puseram ao Simplicio e ao outro para dar cabo do blogue e o conseguiram.
Pagar multas de estacionamento só para quem é parvo
http://www.ionline.pt/mobile/117338-camaras-podem-passar-multas-mas-nao-instruir-processos-contraordenacao-rodoviaria
O Nobre é um fiasco, de facto.
Já o poeta Alegre, aquele humanista apoiado pela Ermelinda, descobriu em Matosinhos que afinal adora o Sócrates.
E por falar no poeta Alegre, há 3 meses era apoiado pelo Louçã, não foi GT?
De coerência, vaidade, e outros mimos, parece-me que há por aqui poucas razoes para atirar pedras aos telhados dos outros. E isto inclui a Ermelinda, que já foi UDP, BE, e sabe-se lá o que ainda ira ser.
Bye
Ò WC vá desinfectar essa cabecinha.
Então não sabe que a UDP está integrada no BE? Ter sido UDP e BE não é incoerente coisa nenhuma. Deixe de ser parvo e se quer criticar a Ermelinda arranje outros pretextos que esse é mesmo estúpido.
Faz hoje 3 semanas, Fernando Nobre dizia em entrevista ao jornal Expresso q só falaria em Maio.
Já falou, tomou decisões, deu um grande chuto na cidadania.
Haveria muito a dizer sobre isto. Porém, por aqui me fico.
O mais importante já lho disse por escrito para a AMI, instituição riscada da minha lista para onde de vez em quando enviava o chequezito (vai tudo corrido a 10 euros).
O mundo está mais perigoso ainda do q eu pensava.
O gajo "bestial", e que passaria a besta, mostrou a sua verdadeira face.
Almerinda Teixeira
Esqueci-me:
Citando Daniel Oliveira:
"....Porque a política não se faz de bons sentimentosd, faz-se de ideias, projectos e programas políticos."
Não é verdade, já lho disse por e-mail. Sem sentimentos, o que somos?
Robots? Isso é um ponto de vista muito esquecido da esquerda, onde se cometem muito mais do que asneiras, atrocidades mesmo. Sei do que falo.
Almerinda Teixeira
Anónimo às 10:30
Aí sim, então e como explica apoiar o poeta Alegre, e depois dizer o diabo do PS, e de seguida o poeta dizer que está como sempre esteve com o PS?
Isto tudo no espaço de 2 meses.
É coerência?
Almerinda
Do Daniel Oliveira, sabe que o homens defende que a solução para a crise é deixar de pagar aos credores!, concorda com isso
Bye
Como militante do PSD não me parece que o caso Nobre tenha sido bem gerido. Não por ter sido e ter aceite o convite. Desde sempre que o PSD integra independentes nas suas listas locais e nacionais. Só aqui em Sintra temos 3 presidentes de junta independentes eleitos nas listas da Coligação Mais Sintra.
Mas o que Daniel Oliveira verdadeiramente não suporta é que alguém possa fugir ao apertado controlo estalinista bloquista, porque o BE e Daniel Oliveira detestam independentes vaidosos que não sejam os seus independentes vaidosos.
Mesmo que este Nobre seja o mesmo que antes apoiou o BE, no mesmo ano em que apoiou Capucho em Cascais, de pois ter estado com Mário Soares e antes ainda com Durão Barroso.
Mas para o BE/Daniel Oliveira só é independente que se mantém alinhadinho com o BE...
Mas, se fosse futebol, o PSD estava a ganhar por 3, contra 1 do PS e 1 do BE... :-)
Mas para Daniel Oliveira este mesmo Nobre é bestial se andar de braço dado como BE, mas uma nobre besta se ousar fugir ao controleiro de serviço bloquista e oferecer a sua vaidade a outros...
Já não há pachorra para tanto ressabiamento estalinista, porra!
Carlos Pinto,
de Sintra com um bj para a Ermelinda
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