Manuela Ferreira Leite parece que, agora, não sabe falar de outra coisa. Todos os seus discursos da campanha são focados no MEDO. No Medo das pressões que o Eng.º José Sócrates exerce no seio do funcionalismo público e nos meios empresariais, até na classe jornalística, na sociedade em geral, etc. & tal… E, por isso, fala de perseguições e “asfixia democrática”.
Para quem advoga só praticar uma “política de verdade”, que considera “uma inovação” de sua autoria (?), era bom que antes de proferir este tipo de acusações avivasse a memória (que, convenhamos, está bastante emperrada) e recordasse o clima que se viveu neste país durante os mandatos, em maioria absoluta, do excelentíssimo senhor Primeiro Ministro Cavaco Silva, hoje digníssimo e silencioso Presidente da República.
Eu sei que, entretanto, já se passaram muitos anos mas, em particular, é-me impossível esquecer (a mim e todos os meus colegas de trabalho à época) o que se passou no último trimestre de 1990 e primeiro semestre de 1991 aqui mesmo na Assembleia Distrital de Lisboa onde trabalho. Foram nove meses em que vivemos momentos de inqualificável terror (não, não foi antes do 25 de Abril, foi mesmo já em tempo de democracia), e não estou a exagerar, podem crer.
A Assembleia Distrital de Lisboa era, então, um órgão desconcentrado do Ministério da Administração Interna presidida pelo Governador Civil (Dr. Moura Guedes) que delegara essa função no seu Vice (Machado Lourenço) que “cozinhou” com o Secretário de Estado Nunes Liberato (agora, Chefe da Casa Civil da Presidência da República), o texto de um diploma que viria a retirar todo o património (móvel, imóvel e activos financeiros – avaliado em milhares de milhões de escudos) àquela entidade e a transferi-lo para uma Comissão de Gestão criada à sua “imagem e semelhança” para que pudesse continuar a geri-lo a seu bel-prazer depois da autonomização daquelas estruturas como órgãos descentralizados, dependentes apenas das autarquias do distrito, como viria a acontecer a partir de 08-03-1991 na sequência da regulamentação do artigo 291.º da CRP que assim o determinava.
Para que essa transferência de bens ocorresse “sem ondas” era necessário que fossem transferidos para o GC os serviços e o pessoal que havia na altura (Administração Geral, Cultura – Biblioteca e Museu Etnográfico e Assistência Social) devendo os funcionários assinar um requerimento a dizer que optavam, por sua livre e espontânea vontade, passar a pertencer à Administração Central e serem integrados no mal fadado “quadro de excedentes”.
As pressões exercidas por Machado Lourenço foram imensas, desde ameaças de despedimento (não renovação dos contratos a termo – e era nessa situação que eu e muitos mais nos encontrávamos) até ao prenúncio de virmos a ficar sem vencimento nos próximos meses, tudo serviu para “cativar” os indecisos. Claro que a maioria das dezenas de trabalhadores acabaram por não hesitar e assinar o referido documento. Quase todos, menos oito funcionários da Biblioteca dos Serviços de Cultura da ADL, entre os quais eu me encontrava.
A partir daí, as represálias não pararam. Desde impedir a limpeza do 3.º andar onde se situava a Biblioteca (convém esclarecer que o gabinete de Machado Lourenço era no 1.º andar do mesmo edifício), a cortar os cabos dos aparelhos de ar condicionado da sala de leitura (lembro que era Inverno pelo que esta vandalização acabou por fazer-nos passar uns gélidos meses de Inverno), até à violação de correspondência (que nos era entregue ostensivamente aberta) tudo aconteceu naqueles meses posteriores.
Mas houve mais, muito mais… O meu gabinete era no 4.º andar e um dia entram porta dentro dois funcionários, a mando de Machado Lourenço, e dão-me ordem de “despejo” (?). Como recusei sair, levam-me em ombros e, de seguida, trancam-me a sala lá ficando todo o meu trabalho e uma secretária com documentos pessoais. No dia seguinte, encontrei as minhas coisas no chão da entrada do 3.º andar ao lado dos sacos do lixo que se acumulavam por não serem recolhidos há semanas.
E a partir de 8 de Março de 1991 foi a machadada final: aqueles oito trabalhadores ficaram sem receber vencimento até Julho desse ano. Encetámos diversas diligências, solicitámos várias audiências, inclusive com o então Director Geral das Autarquias Locais (o hoje candidato a Presidente da Câmara Municipal de Almada, Dr. Pedroso de Almeida) – que também estava sedeado no mesmo edifico da ADL (5.º andar), mas todos foram insensíveis aos nossos argumentos… Sentíamo-nos cercados, ostensivamente abandonados (nem os sindicatos ousaram fazer fosse o que fosse), presos numa teia de enredos políticos manobrados pelo PSD.
Apoiada por alguns colegas, apresentei queixa à polícia, denunciei o caso à IGAT (hoje IGAL), contactei o Provedor de Justiça e dei entrevistas a vários jornais, entre eles, o Público, Diário de Notícias, Capital, O Independente, Tal & Qual e até o Diário Económico, onde toda a trama em volta desta situação foi sendo notícia regular.
Porque ousei desmascarar o que se passava, fui difamada e ostracizada (os colegas que haviam passado para o Governo Civil estavam proibidos de me falar), tentaram denegrir a minha imagem pessoal e profissional, testemunhei em tribunal, eu sei lá mais o quê… tanta coisa se passou… e eu aqui apenas vos relato uma pequena parte.
Foram tempos horríveis, que só me faziam lembrar “O processo” de Franz Kafka, mas numa versão ainda mais negra, e quase me fizeram desistir. Posso dizer-vos que até fome passei (na altura o meu ex-marido estava desempregado) e só não fiquei sem a casa e pude continuar a deslocar-me para o emprego todos os dias porque a minha ex-directora de Serviços fez o favor de me emprestar algum dinheiro para essas despesas básicas.
Felizmente resisti. E posso dizer-vos que valeu a pena. Mas se fosse hoje, não sei se teria tanta coragem.
Por isso, vir agora o PSD falar de medo e “asfixia democrática” deixa-me enojada. São manobras de política baixa, destinadas a desviar as atenções dos eleitores. Francamente… Medo tenho eu de voltar àqueles tempos.
Para quem advoga só praticar uma “política de verdade”, que considera “uma inovação” de sua autoria (?), era bom que antes de proferir este tipo de acusações avivasse a memória (que, convenhamos, está bastante emperrada) e recordasse o clima que se viveu neste país durante os mandatos, em maioria absoluta, do excelentíssimo senhor Primeiro Ministro Cavaco Silva, hoje digníssimo e silencioso Presidente da República.
Eu sei que, entretanto, já se passaram muitos anos mas, em particular, é-me impossível esquecer (a mim e todos os meus colegas de trabalho à época) o que se passou no último trimestre de 1990 e primeiro semestre de 1991 aqui mesmo na Assembleia Distrital de Lisboa onde trabalho. Foram nove meses em que vivemos momentos de inqualificável terror (não, não foi antes do 25 de Abril, foi mesmo já em tempo de democracia), e não estou a exagerar, podem crer.
A Assembleia Distrital de Lisboa era, então, um órgão desconcentrado do Ministério da Administração Interna presidida pelo Governador Civil (Dr. Moura Guedes) que delegara essa função no seu Vice (Machado Lourenço) que “cozinhou” com o Secretário de Estado Nunes Liberato (agora, Chefe da Casa Civil da Presidência da República), o texto de um diploma que viria a retirar todo o património (móvel, imóvel e activos financeiros – avaliado em milhares de milhões de escudos) àquela entidade e a transferi-lo para uma Comissão de Gestão criada à sua “imagem e semelhança” para que pudesse continuar a geri-lo a seu bel-prazer depois da autonomização daquelas estruturas como órgãos descentralizados, dependentes apenas das autarquias do distrito, como viria a acontecer a partir de 08-03-1991 na sequência da regulamentação do artigo 291.º da CRP que assim o determinava.
Para que essa transferência de bens ocorresse “sem ondas” era necessário que fossem transferidos para o GC os serviços e o pessoal que havia na altura (Administração Geral, Cultura – Biblioteca e Museu Etnográfico e Assistência Social) devendo os funcionários assinar um requerimento a dizer que optavam, por sua livre e espontânea vontade, passar a pertencer à Administração Central e serem integrados no mal fadado “quadro de excedentes”.
As pressões exercidas por Machado Lourenço foram imensas, desde ameaças de despedimento (não renovação dos contratos a termo – e era nessa situação que eu e muitos mais nos encontrávamos) até ao prenúncio de virmos a ficar sem vencimento nos próximos meses, tudo serviu para “cativar” os indecisos. Claro que a maioria das dezenas de trabalhadores acabaram por não hesitar e assinar o referido documento. Quase todos, menos oito funcionários da Biblioteca dos Serviços de Cultura da ADL, entre os quais eu me encontrava.
A partir daí, as represálias não pararam. Desde impedir a limpeza do 3.º andar onde se situava a Biblioteca (convém esclarecer que o gabinete de Machado Lourenço era no 1.º andar do mesmo edifício), a cortar os cabos dos aparelhos de ar condicionado da sala de leitura (lembro que era Inverno pelo que esta vandalização acabou por fazer-nos passar uns gélidos meses de Inverno), até à violação de correspondência (que nos era entregue ostensivamente aberta) tudo aconteceu naqueles meses posteriores.
Mas houve mais, muito mais… O meu gabinete era no 4.º andar e um dia entram porta dentro dois funcionários, a mando de Machado Lourenço, e dão-me ordem de “despejo” (?). Como recusei sair, levam-me em ombros e, de seguida, trancam-me a sala lá ficando todo o meu trabalho e uma secretária com documentos pessoais. No dia seguinte, encontrei as minhas coisas no chão da entrada do 3.º andar ao lado dos sacos do lixo que se acumulavam por não serem recolhidos há semanas.
E a partir de 8 de Março de 1991 foi a machadada final: aqueles oito trabalhadores ficaram sem receber vencimento até Julho desse ano. Encetámos diversas diligências, solicitámos várias audiências, inclusive com o então Director Geral das Autarquias Locais (o hoje candidato a Presidente da Câmara Municipal de Almada, Dr. Pedroso de Almeida) – que também estava sedeado no mesmo edifico da ADL (5.º andar), mas todos foram insensíveis aos nossos argumentos… Sentíamo-nos cercados, ostensivamente abandonados (nem os sindicatos ousaram fazer fosse o que fosse), presos numa teia de enredos políticos manobrados pelo PSD.
Apoiada por alguns colegas, apresentei queixa à polícia, denunciei o caso à IGAT (hoje IGAL), contactei o Provedor de Justiça e dei entrevistas a vários jornais, entre eles, o Público, Diário de Notícias, Capital, O Independente, Tal & Qual e até o Diário Económico, onde toda a trama em volta desta situação foi sendo notícia regular.
Porque ousei desmascarar o que se passava, fui difamada e ostracizada (os colegas que haviam passado para o Governo Civil estavam proibidos de me falar), tentaram denegrir a minha imagem pessoal e profissional, testemunhei em tribunal, eu sei lá mais o quê… tanta coisa se passou… e eu aqui apenas vos relato uma pequena parte.
Foram tempos horríveis, que só me faziam lembrar “O processo” de Franz Kafka, mas numa versão ainda mais negra, e quase me fizeram desistir. Posso dizer-vos que até fome passei (na altura o meu ex-marido estava desempregado) e só não fiquei sem a casa e pude continuar a deslocar-me para o emprego todos os dias porque a minha ex-directora de Serviços fez o favor de me emprestar algum dinheiro para essas despesas básicas.
Felizmente resisti. E posso dizer-vos que valeu a pena. Mas se fosse hoje, não sei se teria tanta coragem.
Por isso, vir agora o PSD falar de medo e “asfixia democrática” deixa-me enojada. São manobras de política baixa, destinadas a desviar as atenções dos eleitores. Francamente… Medo tenho eu de voltar àqueles tempos.
36 comentários:
Ermelinda.
Vou divulgar este seu texto em blogues que sigo com regularidade e tenho pena se muitas pessoas não tiverem acesso a ele.
Mª Odete Alexandre
Minda
Não nos podemos esquecer que um dos venenos "democráticos" desta vergonhosa campanha tem nome: José Pacheco Pereira.
Minda,
Este Analista(não se sabe de quê), nao lê o post, "amanda" uma boca tipo Oraculo e vai andando.
Se não está dentro do assunto, porque tem peguiça de ler, ou não compreende, mais vale estar calado, pelo menos não dá nas vistas.
Atazanador
Pois é são todos iguais. Informar-se do que se está passar em Salvaterra de Magos, onde quase nenhum trabalhador é do BE.
Quem acha que é escolhido nos concursos e quem é marginalizado?
Nesta porca politica portuguesa só mudam as moscas.
Odete:
Obrigada pela divulgação que, acredito, irá fazer. Mas, se não se importar, gostava que me indicasse onde (pode ser para o meu e-mail pessoal).
Também acho que era importante muita gente saber do que se passava naquela época. E o que eu aqui conto é uma ínfima parte do que aconteceu.
Analista:
Penso que percebo o que pretende dizer (que terá sido JPP o mentor desta "teoria do medo" veiculada por MFL).
Todavia, pouco importa que assim seja. Ao fim e ao cabo o que eu aqui conto é para desmistificar a questão da "asfixia". E sirvo-me do exemplo do que aconteceu lá pelas bandas do meu trabalho e, aí, o JPP nada tem a ver com o assunto: os responsáveis são, entre outros rostos menos visíveis, aqueles que cito - Cavaco Silva, Nunes Liberato, Pedroso de Almeida, Moura Guedes e Machado Lourenço.
Ah e ia-me esquecendo: os então ministros da Administração Interna e do Planeamento e Administração do Território (Manuel Pereira e Valente de Oliveira, respectivamente), além do Ministro das Finanças (Miguel Beleza), também têm culpas no cartório.
Na Câmara de Almada, em particular no sector do ambiente, existem alguns trabalhadores que têm sofrido na pele perseguições e maus tratos. Muitos mesmo.
O aparelho politico é todo igual, não fossem eles todos amigos, PCP; PSD, CDS e PS, são todos uma cambada de oportunistas e numa palavra mais brejeira uma cambada de chulos. Viva a liberdade. vamos votar Bloco nas legislativas, aqui em Almada mesmo sabendo que o PS nacional fez um pacto com o PCP para a Emilia ganhar novamente, vamos votar PS. Perante o que li no post, ainda bem que conseguiste vencer Minda. És uma pessoa honesta e corajosa.Tens um forte sentido, de camaradagem, solidariedade e de justiça.Para além disto, és uma pessoa evoluída culturalmente. Ao pé de ti os agentes culturais deste concelho são uma nódoa. Assim se vê....
Na Cmara de Almada à casos semelhantes. Quando existir liberdade nesta Câmara serão dados a conhecer em livro.
Atazanador:
O texto é longo e talvez não motive a sua leitura integral é certo. Mas também acho que é preciso cuidado nos comentários que se fazem.
Ao Atanazador" aconselho prudência no que escreve.
Apenas isso.
Se você é tão inteligente - o que não parece - poderia perder um pouco do seu tempo a explicar em vez de ... atazanar.
É curioso.
Anónimo das 16:05
Todos iguais? não são, não, felizmente.
E se os políticos são assim, muita da culpa é dos eleitores que se abstêm de votar e de participar na vida política, preferindo cruzar os braços e acomodar-se...
Está a insinuar que em Salvaterra de Magos existem na autarquia situações como a que descrevo? Isso é muito grave... e se assim fosse porque se calam os trabalhadores e os sindicatos?
Para fazer acusações é necessário saber do que se fala, ter provas... caso contrário trata-se de perjúrio.
Assim se vê:
É verdade, venci. Mas muito me custou esta luta. Porque os "ataques" duraram até 1995... e só pararam quando o PS venceu as eleições nesse ano.
E, já agora, obrigada pelos elogios.
Ex-trabalhador...:
Acho importante que se reunam em livro esses testemunhos, a sue tempo.
Mas é fundamental que se reunam forças para desmascarar os responsáveis enquanto é tempo para que os trabalhadores não continuem a sofrer injustamente.
Anónimo das 17:02
A política só é porca porque quem lá anda é que o é. E se só lá estão porcos é porque os eleitores lhes conferem o respectivo mandato.
Portanto, já é mais do que tempo dos eleitores deixarem de se lamentar e porem as mãos à obra, ou seja, passarem a participar activamente na vida cívica (porque, ao fim e ao cabo, tudo é política).
Minda,
Os factos que relata são condenáveis. Mas não sejamos ingénuos, há casos de "asfixia democrática" em todas as épocas e em todos os partidos quando dotados de poder absoluto.
É por isso que não gosto de maiorias absolutas de ninguém a começar pelo meu próprio partido.
Mas podia-lhe contar como militantes da esquerda radical que depois fundaram o BE (PSR e Política XXI) tratavam aos berros por "filhos da puta" e agrediam estudantes nas RGA de arquitectura no tempo do "não pagamos" só porque não condenavam com eles.
Mas não culpo o Louçã por isso, ou devia?
Ou podia contar-lhes histórias de saneamentos sumários em muitas empresas no PREC...
Ou podia contar-lhe do medo de opinar que hoje se vive na CMA e o que acontece a quem, mesmo assim, ousa dizer que há medo.
Mas não culpo e Jerónimo por isso, ou devia?
Mas a Minda acha que MFL é culpada de todos os males que lhe aconteceram, mesmo não tendo participado neles, e portanto não poderá falar da "asfixia democrática" actual.
Mas que ela há não tenha dúvidas e espalhada por todo o país, ora por culpa do PSD, ora por culpa do PS, ora por culpa do PCP.
E como será com o BE se um dia chegar ao poder (cruzes canhoto...), tem dúvidas de que será a mesma coisa?
Tantas histórias da minha militância na UDP que eu tinha para contar...
E repare que nada me move contra o PS, até tenho muito prazer democrático em colaborar com a candidatura de Paulo Pedroso em Almada, como estou a fazer, mesmo contra o meu partido.
Como já votei em Edite Estrela, em Sintra, no passado.
Mas, tal como a maioria absoluta de Cavaco "asfixiou" o país o mesmo está a acontecer com a maioria absoluta de José Sócrates.
E eu ficarei muito satisfeito se as maiorias absolutas caírem no dia 27 de Setembro e depois no dia 11 de Outubro, em particular se novas maiorias forem possíveis com os partidos democráticos
No passado: militância na UDP. No presente: é do PSD, mas apoia Paulo Pedro (PS) em Almada? Que raio de confusão! Será que li bem?
Coerência política, já se vê! Por isso consegue ver acusações onde não as há. Mas numa coisa concordo com o Carlos: "asfixia democrática", mesmo que seja apenas a nível interno, há em todos os quadrantes políticos, da esquerda mas radical, ao centro e à direita extremista. Ou seja, mesmo os que lutam pela democracia acabam presos nas teias da ditadura. Porque sabe bem (para alguns) mandar e que os outros obedeçam sem contestar.
Não costumo responder a anónimos que não têm cara para dar por aquilo que dizem, mas desta vez aqui vai.
Só os burros não mudam e eu de burro não tenho nada, garanto-lhe. Como muitos outros (Mário Soares, Durão Barroso, José Sócrates, Ana Gomes, Jorge Sampaio, Pacheco Pereira e mais uns milhares de portuguesea anónimos...) tive um partido na minha juventude quando acreditava que ia mudar o mundo duma penada... e agora tenho outro, muitos anos depois, já bem adulto e mais realista.
Como dizia Guterres (que foi do MES para o PS, cá está...) é a vida.
Só o meu glorioso Benfica é uma filiação emocional desde o berço... e assim será a vida toda. Porque a emoção não se explica. A razão sim.
Incoerência ser do PSD e apoiar Paulo Pedroso. Para os militantes fanáticos, que pensam mais no partido do que no país, será.
Mas sabe que eu aprendi com Sá Carneiro que acima da social-democracia, está o país. E é em nome do desenvolvimento de Almada que eu apoio Paulo Pedroso, com todo o gosto e convicção.
Mas porque raio de sectarismo eu não poderia apoiar um candidato democrata que tem um projecto e uma equipa para empurrar Almada para o futuro e é o que está melhor posicionado para derrotar a CDU?
E eu até nem voto em Almada porque sou de Sintra, mas fui durante 10 anos funcionário da CMA e sei bem que a CDU está velha, gasta e esgotada.
Carlos:
Ingénua? Pode crer que não sou!
Além disso deixei bem claro no meu texto quem são os culpados daquela situação e que volto a repetir para que não haja enganos:
- O Vice-governador Civil Machado Lourenço, que foi quem cometeu os actos.
- E os membros do Governo que, conhecedores do que se estava a passar (escrevi a todos os intervenientes, houve processos em tribunal e até a audiências com todos os Grupos Parlamentares fui), o continuaram a apoiar calando-se (consentindo, portanto) nas retaliações sobre a ADL e os seus funcionários, a saber: o Secretário de Estado Nunes Liberato, o Governador Civil, Moura Guedes e os Ministros da tutela de ambas as entidades.
Nunca referi que Manuela Ferreira Leite era culpada daquela situação ou fosse do que fosse em relação ao conteúdo do meu texto. Seria ridículo. Apenas disse, e volto a afirmar: enoja-me a ênfase que o PSD está a dar à questão da “asfixia democrática” como se fossem impolutos e mais ainda por basear o discurso em factos que, afinal, se estão a revelar uma fraude política, sem esquecer a forma como vêm tentando branquear o que se passa na Madeira. Sejamos coerentes.
Mas, numa coisa concordo consigo: “asfixia democrática”, infelizmente, não é apanágio do PSD. Ela existe, de facto, noutros quadrantes políticos, como é exemplo o que se passa na Câmara Municipal de Almada (CDU) e não duvido que existam casos no PS. Atrevo-me a dizer que mesmo nos partidos que nunca foram governo terão, a nível interno, alguns problemas a esse nível. Maus exemplos existem em todo o lado. Não podemos, é fazer campanha dando a entender que só os adversários sofrem desse mal. Para mim, uma política de verdade não é isto!
Quanto aos excessos que os outros cometem, só lhe posso dizer uma coisa: não servem para lavar a nossa face.
A finalizar, digo-lhe que também eu ficarei muito satisfeita “se as maiorias absolutas caírem no dia 27 de Setembro e depois no dia 11 de Outubro, em particular se novas maiorias forem possíveis com os partidos democráticos”.
Anónimo:
Sobre as opções políticas de cada um não me cabe a mim responder-lhe até porque o visado já veio a terreno dizer de sua justiça e muito bem.
Quanto à falta de democracia (porque é a isso que nos estamos a referir quando falamos em "asfixia democrática"), tenho a lamentar que os partidos não saibam, ainda, lidar com a Liberdade e revelem tiques de preocupante totalitarismo em todos os quadrantes políticos... sobretudo no caso das maiorias absolutas que são, quase sempre, "meio caminho" para a ditadura.
Muito bem Minda, mas em campanha eleitoral não há quem não resvale para a demagogia.
Os exageros de MFL dum lado estão sobejamente compensados pelos de José Sócrates e Louçã do outro, quando lhe metem na boca coisas que não disse, quando retiram do programa coisas que não estão lá, quando mentem e deturpam as suas declarações, quando a pretendem enfiar na extrema-direita, etc.
Ao pé destes dois MFL é uma menina de coro de igreja, em matéria de demagogia.
Fico muito contente por considerar Paulo Pedroso um bom candidato, com qualidades para ser presidente da CMA, porque fiquei um bocadinho preocupado por ver no video de Helena Oliveira ela defender a derrota do PS e a continuação da CDU com ela própria para fazer maioria. É que sem a derrota da CDU, mesmo com um vereador do BE eleito, nada de essencial se altera na gestão municipal.
Carlos:
Depois do que acabou de escrever, sinceramente, não esperava de si as afirmações sobre o declarado apoio da Helena Oliveira à CDU. Não acho nada honesto dizer uma coisa dessas quando isso não é verdade mas uma deturpação da realidade.
Perdoe a sinceridade mas foi longe demais… Diga-me, se conseguir, com transcrição exacta, onde é que a candidata do Bloco de Esquerda declara uma coisa dessas ou, sequer, dá a entender uma barbaridade como a que você afirma.
E quanto a MFL parecer uma “menina de coro de igreja, em matéria de demagogia”, vou ali e já venho. .. Além de não ser ingénua, também não sou parva e muito menos surda. Acho melhor cada um ficar na sua e parar por aqui antes que se diga o que não se deve e o diálogo que tem sido divergente, mas profícuo, acaba por azedar, o que não é pretensão de nenhum de nós.
No que toca à minha posição pessoal sobre o Paulo Pedroso, não tenho nenhum problema (e já aqui o disse por diversas vezes) em afirmar, publicamente, que o considero o único candidato com reais possibilidades de destronar a Maria Emília e que espero que consiga vencer as eleições em 11 de Outubro, pois também acho que o lugar da CDU, depois de tantos anos no poder e destas sucessivas e nefastas maiorias absolutas, é na oposição.
Só os burros velhos é que não mudam. È muito difícil destronar a Emilia do poleiro. Existem muitos interesses com a sua manutenção. Existe muita gente, a enriquecer. Bons lugares na Câmara, empresas a facturarem etc.
Ela controla o PS nacional, controla o Povo, controla a Igreja, controla os comerciantes, controla os trabalahdores. É por isso uma ditadora. Não compreendo como é que os comunistas conseguem ir votar nesta ditadora. Ou têm umas talas como os burros e por isso nunca mudam, ou se o partido mandá-los atirarem para um poço, é de imediato. O PS não merece, pois nunca apresentou alguém com a capacidade de tirar de imediato a Cãmara a esta mulher autoritária e invejosa, pois no mandato anteiro apresentou o anónimo Rubém Raposo quando qualquer outra figura ganhava a Câmara a este bando de facínoras. Mesmo assim, deve_se votar PS nas autárquicas e Bloco nas legislativas para acabar com as maiorias. Como o PC afirma as maiorias são ditaduras.
Minda, se não acredita pode consultar o video no meu bloque.
A candidata Helena Oliveira, passa quase todo o tempo do presente video a criticar a gestão local da CDU e quando se esperava que o corolário fosse o natural desejo da derrota comunista, termina dizendo que "Almada é uma autarquia de esquerda desde o 25 de Abril, maioria CDU desde essa altura, portanto há 35 anos, mas a nossa presidente deixou de ouvir as pessoas e deixou de ouvir a oposição. Portanto é importante que ela perca a maioria absoluta mas que se mantenha uma autarquia de esquerda. Portanto nós não queremos que nem o PS nem o PSD ganhem as eleições, queremos que a autarquia continue a ser de esquerda e que o Bloco de Esquerda conte para mudar e que Almada passe a ser Almada para as pessoas".
Helena Oliveira não podia ser mais clara, o importante é manter lá a CDU e somar-lhe o BE. Tudo menos os malandros do PS e do PSD. Que o BE não queira lá o PSD é natural, apesar da representação social-democrata ser maior que a bloquista em todos os orgãos autárquicos.
Mas o radicalismo do BE vai ao ponto que limitar a esquerda apenas a eles próprios e à CDU, empurrando o PS para a direita mesmo sabendo que o candidato do PS é uma importante figura da ala esquerda do PS. Está claro como água o BE que substituir a maioria absoluta da CDU por uma maioria absoluta CDU/BE.
Quem sabe um dia ainda vai integrar a coligação, não seria a primeira vez, a UDP já a integrou no passado.
O Carlos não precisa de procuração. Porque é um homem sério e sabe o que diz.
Na realidade, já tinha visto o vídeo a que se refere e é essa a sensação/certeza que transmite.
Houve, não tenhamos dúvidas, um erro de "casting" ao escolher HO.
Já o tínhamos percebido no debate (aquilo foi um debate?) na TVI24.
God bless her.
Gouveia:
De facto é muito difícil vencer a CDU em Almada. Todos temos consciência disso. Os interesses são muitos e alguns resultam de manobras de bastidores pouco claras e, portanto, difíceis de combater.
Que a Maria Emília tem influência no concelho de Almada, admito. Que ela faz chantagem no interior do PCP para conseguir o que quer, não duvido. Agora que ela consiga controlar o PS nacional (o quê? Fazer frente a José Sócrates?) já acho uma aberração, embora concorde que ela “controla” (ou controlava) os comerciantes de Almada. Em contrapartida tenho a certeza de que subjuga os trabalhadores, e de que maneira, e que consegue manobrar a Igreja.
Mas daí a dominar o Povo, vai uma grande distância… É que, não podemos esquecer que a votação autárquica no PCP já não é o que era nas duas primeiras décadas após o 25 de Abril. As maiorias absolutas têm sido conseguidas apenas porque a abstenção atingiu níveis inqualificáveis: 53% em 2001 e 53% em 2005, isto a nível concelhio, enquanto houve freguesias, como Cacilhas, por exemplo, onde quase 60% dos eleitores se recusaram a ir às urnas. E não me venham dizer que é, apenas por pura indiferença.
Por isso, dia 11 é preciso combater, sobretudo, a abstenção. E se se conseguir vencer este flagelo democrático, estou ciente de que o PS conseguirá ultrapassar a CDU. É este o meu sincero desejo. E até acredito que Paulo Pedroso será um bom Presidente de Câmara, embora não venha a ser eleito com o meu voto pois continuo a acreditar que o Bloco de Esquerda faz falta no executivo (vamos eleger uma vereadora) e na Assembleia Municipal (onde vamos conseguir um grupo municipal reforçado) para que haja, efectivamente, uma oposição construtiva e séria ao poder autárquico.
Carlos:
Quando li o seu comentário anterior pensava que se estava a referir ao debate da TVI24. Nele, a nossa candidata não fez quaisquer declarações semelhantes. Reconheço que eu não tinha, ainda, observado esse vídeo que refere (apesar de ser produção interna) e, por isso, fiquei tão surpreendida com as suas palavras.
Obviamente que não posso negar a evidência da transcrição que faz. E muito menos vou fazer aqui aquilo que muitos outros partidos são peritos em fazer, que é reinterpretar as palavras da Helena Oliveira. A minha dose de demagogia (um mal que em período eleitoral acaba por atingir todos, não vale a pena negá-lo) não chega a tanto e tenho-me como uma pessoa frontal, de princípios e sem problema de assumir o que penso (por isso nunca me escondi atrás do conveniente manto do anonimato para expressar as minhas opiniões, como muitos que por aqui têm passado – o que não é o caso do Carlos, faço notar).
No Bloco de Esquerda existem muitas contradições, é verdade. Mas não acho que devamos encarar essa constatação como um aspecto negativo. Muito pelo contrário. Faz-nos ser um partido plural, que sabe unir esforços em torno da diferença, sendo que dessa união tem vindo a resultar uma mais-valia efectiva e saudável que é a essência da nossa força.
Mal seria se todas as nossas posições fossem unânimes, mesmo que à força e depois de engolidos uns quantos sapos (como acontece no PCP onde quem se atreve a discordar ou sai de sua vontade ou acaba sendo expulso). O Bloco de Esquerda nunca escondeu que, no seu seio, há muita gente que pensa de forma diversa daquela que é a posição oficial (no fundo a que representa, tão só e apenas, a maioria dos bloquistas sem obedecer, contudo, ao estigma do “pensamento único”), mas ao contrário de muitos outros partidos, também ditos de democráticos, tem sabido ultrapassar essas divergências e fazer delas a substância que lhe tem vindo a conferir credibilidade junto da população.
Por isso, não estranhe que a minha opinião, aqui sempre assumida frontalmente, seja diversa daquela que a Helena Oliveira expressou no vídeo em causa e nem tão pouco pense que, por causa disso, ela deixará de ser a “minha candidata” (querendo com esta frase eu dizer, que é nela que eu acredito, em particular na sua capacidade de trabalho e na sua vontade férrea em defender os princípios preconizados no nosso programa municipal, construído com os contributos de um notável trabalho de equipa no qual tive a honra de participar).
Eu, ao contrário dela, de facto, acho que a CDU (como ouvi alguém dizer) deve fazer uma “cura de oposição” e quero muito que perca não só a maioria absoluta mas as eleições. Como o único candidato que tem condições para o fazer é o Paulo Pedroso, só posso mesmo desejar que venha ele a ser o próximo Presidente da Câmara Municipal de Almada.
Agora não fique é a pensar que apoio o PS. Apenas sou realista e acho que a CDU já está há tempo demais no poder autárquico em Almada, tendo acabado por ganhar todos os vícios de uma perfeita ditadura… algo que eu abomino.
Analista:
Alguém aqui colocou em dúvida a seriedade do Carlos? Não confundamos as coisas.
Se você já tinha visto o vídeo em causa eu, confesso, ainda não. E agora que o fiz, até concordo consigo que as palavras finais da Helena Oliveira prestam-se às certezas que têm estado a ser discutidas nos últimos comentários/respostas.
Mas não vou adiantar muito mais do que aquilo que já disse ao Carlos. Apenas acrescento:
Erro de casting? Se calhar o problema está em querer transformar a política numa passagem de modelos pré-formatados de políticos que nunca erram, que são feitos à imagem e semelhança de um líder absolutista e por isso apenas autorizados a papaguear aquilo que lhes ensinam. Sem vontade própria, esses políticos de algibeira, são de facto sempre coerentes e nunca se contradizem… mas também são inumanos e desprovidos de quaisquer sensibilidades.
Salve-nos deus sim, mas da falsidade, da mentira, do oportunismo, da incompetência etc & tal, coisas que existem em demasia por estas bandas de Almada.
Minda,
Há quem não consiga distinguir entre Governo Central e Governo Autárquico, por isso é bom que pelo menos neste blog isso fique esclarecido.
Ser de Esquerda não é um estatuto adquirido e apropriado de qualquer forma por qualquer um, é preciso alimentá-lo, não o abandonar.
No entanto, foi isso que a MES e a CDU fizeram em Almada.
Se perderem a maioria absoluta veremos se não tentarão fazer na CMA uma aliança (cruzes canhoto) como a que têm há 8 anos com o PSD em Cacilhas.
Portanto correr com eles da CMA e deixar o PS mostrar se é de esquerda no governo autárquico só fará bem a Almada. E se não for também poderá ser corrido nas eleições seguintes.
Assim, que ganhe o Paulo Pedroso, que tem hipóteses, embora não possa contar com o meu voto que é para o BE, portanto para a Helena Oliveira, que estará na CMA para “fiscalizar” quem quer que seja.
Esta será a forma de Almada continuar a ser uma autarquia de Esquerda!
A eleição de um elemento do BE (Helena Oliveira) só para fiscalizar quem quer que seja?
Meu caro Barnabé!
Que o senhor tenha uma opinião formada e escolha quem por bem entender, tudo bem. Agora sugerir a eleição de um elemento do BE só para fiscalizar?
Perdoará mas por esta não esperava.
Barnabé:
Não podia estar mais de acordo com as suas palavras.
Durante estes quatro anos de mandato na Assembleia de Freguesia de Cacilhas, pude verificar que, à excepção do BE, a maioria dos assuntos tratados são de âmbito nacional e/ou concelhio. O que é preocupante, sendo este o órgão deliberativo que está mais próximo da população...
Mas percebi, também, que a grande maioria dos autarcas (e não só em Cacilhas) desconhece quais são os seus direitos enquanto tal, logo, também não sabe quais são as suas obrigações... é que o papel de um autarca não se esgota na presença trimestral nas reuniões da AF.
Mas esta era conversa que daria "pano para mangas" e o melhor é ficar para outra ocasião que hoje não tenho muito tempo disponível. Todavia, fico à espera que regresse brevemente para que o assunto volte à liça.
Analista:
O papel de um qualquer autarca da oposição num órgão colegial autárquico (seja vereador no executivo, sem pelouro - Câmara Municipal, ou membro do deliberativo - Assembleia Municipal) deve ser, além de outras funções (obviamente), o de fiscalizar a actuação não só do próprio órgão como do órgão executivo em funções.
E esta competência fiscalizadora é uma decorrência da lei (não uma invenção do Barnabé). Aliás, se todos os autarcas cumprissem, efectivamente, o seu papel, em particular os da oposição, o governo municipal em Almada não tinha chegado à situação actual. As arbitrariedades cometidas teriam sido travadas há muito mais tempo, pode crer...
Cá minha opinião a função de fiscalização da acção do executivo municipal está atribuída na Lei à Assembleia Municipal.
Os vereadores da "oposição" não são um órgão municipal autónomo com competências próprias. A questão é que a prática é de facto outra e, em regra, os vereadores das oposições acabam por fiscalizar politicamente as maiorias.
De qualquer modo não está escrito na Lei que os vereadores minoritários não possam assumir pelouros. Dou o conhecido exemplo de Sintra, mas há mais, em que mesmo com maioria absoluta a Coligação Mais Sintra chamou todos os vereadores da oposição, do PS e CDU, a partilhar pelouros.
É uma outra forma de entender a democracia local, mais a pensar nos interesses locais do que em utilizar os municípios para as batalhas políticas nacionais.
Estamos com formas diferentes de interpretar o termo "fiscalizar", Minda.
Não tem interesse levar esta conversa mais adiante em face da sua irrelevância.
A Minda e o Barnabé estão de acordo. E daí? Não têm esse direito?
Carlos:
No âmbito do quadro de competências dos órgãos dos municípios e das freguesias (a Lei n.º 169/99, de 18 de Setembro, na redacção da Lei n.º 5-A/2002, de 11 de Janeiro), a fiscalização cabe, de facto, ao órgão deliberativo, relativamente ao executivo – alínea e) do n.º 1 do artigo 17.º (nas assembleias de freguesia) e alínea c) do n.º 1 do artigo 53.º (nas assembleias municipais).
Quanto aos órgãos colegiais executivos, todos sabemos que, na maioria dos casos, apenas assumem funções executivas uma parte dos seus membros, os vereadores do partido vencedor (raros são os casos em que são atribuídos pelouros à oposição – no meu entender de uma forma inteligente, como acontece aí em Sintra), que ficam comprometidos com as acções de governo no seu conjunto, o que deixa aos restantes um papel mais na área da fiscalização do que da governação, se é que me faço entender.
E é nessa óptica que eu entendo o que o Barnabé disse, e que eu apoio inteiramente. Até porque, se bem que a palavra fiscalizar possa ser forte para algumas pessoas que a vestem com um manto pejorativo, certo é que em sentido abrangente ela significa apenas estar atento, observar com atenção, examinar com cuidado, verificar se algo está a ser feito conforme o previsto, nomeadamente no que concerne ao cumprimento das deliberações do órgão colegial (órgão executivo ou deliberativo).
É que eu entendo que a função de um vereador da oposição não se pode limitar a estar presente, a votar contra só porque tem de ser, ou muito pior ainda, votar a favor sem conhecer os processos só para dar jeito, ou até mesmo abster-se para não se aborrecer.
E de entre aquelas que são as competências da câmara municipal, elencadas no artigo 64.º da Lei n.º 169/99, muitas são as atribuições que exigem, afinal, esse cuidado na observação e verificação do cumprimento seja da lei, dos regulamentos ou das suas próprias deliberações e das da assembleia municipal.
Analista:
Pois, aí está, de facto, a nossa divergência: na interpretação que cada um de nós dá ao termo fiscalizar.
Mas também concordo consigo que não vale a pena fazer uma tempestade num copo de água por causa disso.
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