sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A importância da luz

Ontem, coube-me fazer a apresentação da obra A Importância da Luz, vencedora do prémio de poesia e ficção de Almada 2006.

Foi uma intervenção necessariamente breve porque o importante não era a minha modesta opinião (uma leiga na matéria e tão só uma amante da poesia, que a aprecia com os “olhos do coração” e não como uma especialista em literatura poética), mas sim a obra em si.

Se por um lado vos pode parecer óbvia a minha apreciação, por ser amiga pessoal do autor, é decerto essa condição que me permitiu criar o necessário envolvimento para perceber as várias mensagens que o Isidoro nos dá o privilégio de conhecer através das suas palavras.

A Importância da Luz é um retrato multifacetado de sentimentos e memórias dispersas.

Da esquerda para a direita: Ermelinda Toscano (Poetas Almadenses), Isidoro Augusto (o autor) e Armando Correia (Director da Biblioteca Municipal Romeu Correia).

Cada verso contém preciosos fragmentos de afectividade, sentida e profunda, onde as sílabas expressam um amor óbvio à vida, mas quase sempre com um mais ou menos leve toque de doce nostalgia.


Este livro contém um conjunto vasto de emoções, definidas de uma forma subtil, mesmo quando o poeta pretende exprimir mágoa, revolta e raiva.

Construções poéticas extraordinárias, simples na aparência mas de uma riqueza linguística e semântica incrível que nos seduzem em cada página como estes tão belos quanto curtos poemas, aos quais o autor nem título deu e que não posso deixar de transcrever:

nem sempre as águas me levam

ao saber

eterno

calmas são as margens

do que sinto e do que vejo

tão branco é o que escrevo

Alexandre Castanheira

tóxica a palavra

da salvação

intrusa errática atmosférica

castradora ameaça

sanguínea fogueira

um verdadeiro muro


Helena Peixinho

teríamos sido

se a noite assim deixasse

escorrer o verbo

e os sentidos

assim tão explícitos


Vista geral da sala Pablo Neruda, local onde decorreu a sessão de lançamento.
Faltam-me aqui, tal como ontem, as palavras para vos continuar a guiar por esta que foi a minha leitura de um livro que eu considero, simplesmente, magnífico.

É que o Isidoro tem o dom de nos fazer reinterpretar cada poema nas sucessivas visitas que ao seu livro sentimos necessidade de fazer, pois aquilo que diz nas entrelinhas é muito mais do que o conteúdo aparente das vestes com que nos apresenta cada verso.

Imagens de: Manuel Barão.

Sem comentários:

Related Posts with Thumbnails