Os espaços em branco

Talvez porque hoje me apeteceu vestir toda de preto (Adoro esta cor. É nobre, misteriosa, séria e digna. E a tristeza que muitos dizem que ela transmite está no sentir de quem a veste e não na sua aparência…), resolvi falar dos "espaços em branco"…

Aqueles momentos em que nos sentimos ausentes de nós próprios, como se fossemos meros espectadores de um filme quotidiano rodado noutra dimensão, ou antes, actores de uma qualquer peça de teatro onde representamos personagens desconhecidas e cujo comportamento não controlamos.

Aquele lugar de refúgio (que vive dentro de nós) para onde fugimos quando nos queremos encontrar: onde podemos ser medíocres se isso nos satisfazer, onde a inteligência pode ser a loucura que nos faz ousar, onde os sentimentos são genuínos e se apresentam sem máscara, onde cada atitude não depende da justificação social que a suporta, onde a imaginação navega livremente por entre memórias reais e lembranças ficcionais, onde a razão anda a par com a alienação e onde se encontra, no final, o caminho seguro que nos mantém sãos…

Mas os "espaços em branco" podem resultar, também, das palavras que, permanentemente, nos recusamos a dizer, criando barreiras ao entendimento entre pais e filhos, cônjuges, amigos e até colegas de trabalho, por exemplo. Ressentimentos calados, paixões escondidas, indiferenças disfarçadas, desejos idílicos ou sentimentos envergonhados, sejam eles o que forem e que, por viverem agrilhoados, cerceiam a plenitude do nosso sentir.

E por agora chega. O tempo impede que a inspiração se expanda livremente e para reflexão estas palavras são suficientes.

Bom fim-de-semana, e até 2.ª feira (porque as arrumações ocupam-me o tempo todo mas, principalmente, porque continuo sem Internet em casa - as mudanças têm destas coisas… e a dita "wireless" está a mostrar ser mais difícil de configurar do que eu imaginava).

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Imagem:
Pintura de Magritte, tirada daqui, onde podem vê-la acompanhada de um belo poema de Fernando Pessoa que vos aconselho a ler.