domingo, 28 de novembro de 2010

Almoços, relógios e companhia limitada!

Almoços de Verão, de Renoir


O Observatório Autárquico n.º 4 traz informações que puseram a minha imaginação aos saltos: são as três despesas da Câmara Municipal de Almada, em 2009.
1) Em Maio, o ajuste directo de relógios, no valor de 94 174,72€;
2) Em Março, o almoço do Dia Internacional da Mulher, no valor de 83 640,00€;
3) 1.400 almoços no Complexo Municipal dos Desportos.

Face à lei vigente, tudo legal. Porém, dá que pensar.

Primeira despesa

Puxei, puxei, puxei… pela cabeça e muitas hipóteses me surgiram. Até que cheguei à hipótese mais plausível. Esta despesa terá sido para oferta de prenda de Natal a alguns funcionários. (O leitor verá que se justifica tal discriminação).
Trata-se dos funcionários que não são das graças da senhora D. Maria Emília de Sousa ou de certas chefias, de todos os “sofredores” que na Câmara Municipal de Almada não se podem pirar. Lá irá um, com sorte, ou lutando muito por isso, talvez de longe a longe.

Ora os relógios seriam para toda esta gente que, “justificadamente”, chegará muitas vezes atrasada ao trabalho, tal é a sua boa disposição de para lá ir.
Contudo, pensando bem, como são tantos, parece-me que, apesar da quantia ser relevante, não chegará para a oferta de um relógio de jeito a todos.

Será que terão sido corridos sem relógio razoável, mas com uma simples cebola? Para os leitores jovens talvez seja importante esta informação: caiu em desuso, mas há umas décadas atrás era muito comum na linguagem familiar, brincalhona, chamar-se “cebola” a um relógio. Eu tive uma “cebola” que foi das melhores prendas que recebi na minha vida: uma embalagem muito grande dentro de outra, esta por sua vez ainda de outra ainda, e ainda a última, pequenina, que tinha lá dentro uma cebola de facto que, de tão bem que tratada fora durou mais de 20 anos. Escusado será falar do meu desgosto.

Segunda despesa

Imagino que lá estariam só mulheres, embora para meu gosto não seja o ideal. Isto deve vir-me da infância: já em criança sempre brincava com meninos e meninas. Não quer dizer que não reconheça um grande valor aos feminismos, à sua história, à sua acção. Nos anos 60 li a obra clássica de Simonne de Beauvoir, “O Segundo Sexo”, não traduzido então em português, suponho. Li um catarpácio (ou catrapácio) - escrevo assim porque parece que o vocábulo ainda não está dicionarizado - da Betty Friedan traduzido em português, daqueles livros que vão e não voltam; suponho que seria “A mística feminina”. (Ainda hoje a imagino com os seus engraçados chapéus!). E li ainda mais umas coisas…. Desde já devo dizer que não alinho na tese da Simonne, mas isso é problema meu. A conversa iria longe... Ah, só mais um pormenor: tenho visto por entre as nossas feministas conhecidas algumas que são bem sacanas para outras mulheres. Grandes feministas! Adiante.

Vamos a contas, ou às contas que, essas sim, foi o que aqui me trouxe.
Admita-se que cada almoço custou 20€. Teriam sido contempladas 4.182 mulheres. Menos de 20€ não seria certamente. Se cada almoço custasse apenas 10€, tínhamos o dobro das mulheres contempladas, mas com um pobre repasto. (Veio-me agora à memória a pergunta de Paulo Portas, quando cabeça de lista à Assembleia Municipal de Arouca, e aí, num almoço, perguntou: “Oh sr……….”, o que é que aqui se come por 10€? Claro que a pergunta pode ter várias interpretações).

Penso que o tal almoço feminista deve ter sido no concelho de Almada.
E onde terá sido? Onde se enfiou tanta gente?
Terão sido só mulheres? Admitamos que sim. Por um lado, protesto, por não ter sido convidada, logo eu, que tanto gostava de ter almoçado com a senhora D. Maria Emília. É que, além da mensagem escrita que recebo todos os anos nesta data festiva, teria ouvido talvez um discurso que nunca mais acabaria, mas que me encheria a alma. Ou não terá discursado?
O mais importante é que não sei qual foi o critério dos convites feitos. Bom, não vou continuar a pôr hipóteses. Nunca mais terminaria.

Porém, surgiu-me uma ideia de despedida ao falar desta despesa. É a seguinte: deve ter-se bebido por lá algum verdelho, daquele que tive a sorte de beber, sim, não foi provar, há cerca de 30 anos, em casa de uma amiga. Só as duas, na cozinha, bebemos o resto de uma garrafa, e ainda era bastante. Sentíamo-nos no tempo dos czares, porque o vinho era de facto ainda desse tempo. Essas coisas que são apanágio da riqueza, porque usadas com grande frequência não serão tão apreciadas pelos que delas só usufruem uma ou poucas vezes na vida. O que se perde pela grande quantidade e contexto luxuoso, banalizado, é compensado pela pequena quantidade e contexto intimista, sobretudo se ainda se acrescentar o humor.

Terceira despesa

Vou ser breve. Não quero cansar o leitor. E não me quero cansar também. Não vou deixar voar a imaginação.

Contas feitas (à mão, não sou escrava da máquina de calcular), cada almoço teria custado 23,9€, tendo, assim, sobejado 56 Euros.
Não é habitual o custo de um almoço ou jantar neste tipo de situação não ser apresentado em número redondo de Euros.
Há aqui uma certa originalidade.

A minha imaginação fervilhante põe tantas, tantas, hipóteses…

Por isso vou apenas enunciar uma delas, porque me parece bastante plausível:
Estiveram mesmo só 1.400 desportistas presentes no dito almoço;
Comeram tanto e tão bem, fazendo lembrar uma dieta de emagrecimento muito comum na qual se fez dieta durante seis dias, sendo o sétimo de desforra (não é bem assim), que tiveram de ir correr para o Parque da Paz, após uma longa digestão;
Tratando-se, em princípio, de jovens, não terá havido verdelho do tempo dos czares, como o outro, mas um vinho bem bom como, por exemplo, o Syriah, contribuindo, pois, para o desenvolvimento regional. Como à rapaziada do desporto são exigidos particulares cuidados dietéticos, nesse dia, excepcionalmente, cada um bebeu uma garrafa inteira. Foi mesmo a transgressão própria da festa.
E assim acabo a festa deste escrito.
Adeus até ao meu regresso.

PS – Ia-me esquecendo dos 56 Euros. Suponho que a senhora D. Maria Emília mandou comprar uns Kilos de arroz e foram enviados à Isabel Jonet.

Almerinda Teixeira

19 comentários:

Churchill disse...

Cara Ermelinda
Se pensar bem, vai ver que até é pouco dinheiro. Só um Frank Muller da colecção Benfica custa quase a verba toda. Talvez os suiços tenham feito uma série Almada, ou Cova da Piedade, ou Beira Mar, ou Costa (para considerar os que têm relvados, de 500000 €).
Do almoço também está a pensar mal. Numa autarquia tão respeitadora da Constituição, como não há discriminação, o repasto deve incluir homens.
Até logo

Minda disse...

Churchill:

O texto não é da minha autoria. Mas, obviamente que concordo com o eu conteúdo.

Pois, se calhar até tem razão. Será que temos um relógio série Almada?

Quanto ao almoço, claro que os homens também vão. Se as instalações da CMA fecham... em princípio é porque vão todos juntos almoçar. Mas mesmo assim, é dinheiro a mais... e ter uma fábrica de sabão a fornecer os ditos, sinceramente. É demais.

Churchill disse...

Cara Ermelinda
Sem querer ser muito maçador, a ironia é que para comemorar o dia da mulher os homens não entram (não fecham instalações nesse dia, isso é só por outras razões!). E é assim há muitos anos, com a correspondente tolerância de tarde para todas as mulheres (porque os serviços mínimos são só para homens!). Aliás a dita comemoração é tão estranha, que nos últimos dois anos o dia da mulher era no fim de semana e antecipou-se a comemoração para a sexta-feira anterior. O custo é que além do repasto há uma tarde de variedades (consta que até se dança!) e uns presentes.

Agora num outro assunto desta semana, se quiser ir passear para o sul do concelho, pode constatar que os portões que estiveram fechados na 4ª feira hoje estão abertos. Provavelmente porque há tarefas de extrema importância (hoje, pois no dia da greve nada mais importa!).

Até já

Minda disse...

Churchill:

Não tenho informação concreta sobre como a CMA comemora o dia da mulher. Sei que existem serviços que encerram porque já o pude observar. Daí presumir que iam homens e mulheres ao almoço.

Quanto às variedades e às prendas presumo que não estarão incluídas na factura referida pois na BaseGove diz-se. especificamente, que a UNIDETE forneceu almoços.

O que significa que, se assim é, os custos do espectáculo + as ofertas ainda vão onerar muito mais essa "acção de propaganda" que acaba por estar a ser paga com o dinheiro de todos nós.

Quanto ao outro assunto, não duvido da sua palavra. Já me contaram que assim é. Mas se tiver oportunidade, irei dar uma voltinha pelos tais locais... Gostava de saber é qual é, de facto, a moral desta gente que sabe tanto de greves e só fala verdade.

Anónimo disse...

Se seta câmara têm possibilidade de oferecer um relogio ao trabalhador que prestou serviços ao longo de 25 anos , não sei onde está o grande mal. Pena tenho eu de se calhar nem todas terem essas possibilidades. às vezes querem-se encontrar problemas onde não existem

Minda disse...

O mal está em ser demasiado dinheiro.
O mal está no facto de a autarquia não explicar porque o faz.
O mal está, portanto, na falta de transparência.
Além de que, de que serve dar uma oferta a certos trabalhadores (se é que a dão) e terem uma política de gestão de recursos humanos que lesa muitos dos direitos de outros trabalhadores?

"Com papas e bolos se enganam os tolos".

Anónimo disse...

Eu, depois de 25 anos humilhantes a ser ultrapassado por cunhas e amizades, sem perspectivas de reconhecimento e melhoramento de vida profissional, não irei vender a alma por um relógio. Podem poupar esse dinheiro.

EMALMADA disse...

Fico admirado com tudo isto!

Não eram os fascistas que usavam estes métodos?
Pelo que vemos os social-fascistas são mais requintados.
Condenavam os fascistas pelas suas práticas de favorecimento, dar prendas e usar e abusar do dinheiro de todos nós, mas acabam por fazer o mesmo.
É a moral comunista/social-fascista no seu melhor de "democratas honestos e coerentes" na ideologia política e na defesa dos superiores interesses do "Nosso Povo".
"Nosso Povo" como eles dizem.
São "patriotas e de esquerda".

Minda disse...

Anónimo das 16:12h

Infelizmente ainda há muitos que se deixam enganar por estas festas e festanças, pelos sorrisos e sorrisinhos da Presidente.
E nada os consegue fazer ver para lá da cortina de enganos com que se deixam enrolar.

"O pior cego é aquele que não quer ver".

Minda disse...

EmAlmada:

Para o PCP de Almada o patriotismo de esquerda é favorecer os camaradas. Se para isso tiverem de lixar alguém, enfim... é pelos superiores interesses do Partido (perdão, do Povo... mas apenas dos eleitos).

Anónimo disse...

Não existe ilegalidade formal em nenhum dos actos citados. A comemoração do Dia Internacional da Mulher fez parte do programa eleitoral com que a CDU se apresentou ao povo de Almada, qual é o seu problema? Este programa não foi, maioritariamente, sufragado pela população de Almada? Não venha com a velha K7 que tanto gosta de usar que só votaram 48% dos eleitores, ninguém apontou uma arma a quem quer que fosse para não ir votar. Já pensou que os culpados da abstenção são os partidos da oposição que não se conseguem afirmar como alternativa credível à CDU, quer pela apresentação de propostas quer pelos próprios candidatos que apresentam? Por aqui me fico, prometendo voltar um outro dia, pois, a sua conversa não me agrada minimamente, denota um rancor mórbido para com a democracia e muito especialmente para com a CDU. Deve ser algum trauma.
antónio jacinto

Churchill disse...

Caro António Jacinto às 21:38
Essa conversa dos programas sufragados é alguma anedota? então e quando não cumprem o que está lá, também conta?, alguém é condenado?, e já agora, quer dizer alguma coisa sobre as empresas municipais criadas e a criar?, também estão no programa?.
E por mais coisas que lá escrevam, isso é superior à Constituição da República?
É que se for ler, diz claramente que ninguém pode ser discriminado por género (artº 13º, Principio da Igualdade), e o que se passa é uma tarde por ano, em que apenas por género se decide que os homens têm de trabalhar mais horas.

Quanto à oposição terá razão, mas infelizmente é assim por todo o país. Como cada chafarica é um concelho, não há pessoas de qualidade disponíveis. Ou também concorda com a sua avaliação para a eleição do Isaltino, e do Valentim Loureiro, e da Felgueiras, e do João Jardim, etc.

Até logo

Anónimo disse...

Caro Churchill,
Quanto ao cumprimento ou não dos programas eleitorais é claro que são condenados pelo voto popular, em futuros actos eleitorais. Como deve saber, foi criada a Lei da Paridade que prevê a discriminação positiva, aplicável neste caso. Por acaso, motivado pela minha participação associativa, conheço Gondomar e digo-lhe o Valentim Loureiro é quase um Deus,talvez com um pouco de barro nos pés. Mas conheci pessoas que dariam quase tudo por aquele homem, sem terem recebido nada em troca.
antónio jacinto

Minda disse...

António Jacinto:

Na sua opinião, quem critica a CDU sofre de um trauma. Consequentemente, tem um rancor mórbido à democracia.

Engana-se meu caro. Quem ofende a Democracia são aqueles que têm uma visão sectária da vida política, como a CDU em Almada.

E muitas são as provas...

Anónimo disse...

"Na sua opinião, quem critica a CDU sofre de um trauma. Consequentemente, tem um rancor mórbido à democracia." Errado, não deturpe as minhas palavras, eu escrevi "...a sua conversa não me agrada minimamente, denota um rancor mórbido para com a democracia e muito especialmente para com a CDU. Deve ser algum trauma." foi o que eu escrevi. Ou seja, estou a referir-me a si, e a sua critica, gratuita e muitas vezes fútil. Não generalizei o alvo do meu reparo era tão somente você.
antónio jacinto

Minda disse...

Caro António Jacinto:

Não generalizou. Com certeza! Então seja coerente e indique, expressamente (sem generalizar) os casos específicos a que se refere quando me acusa.

Concorda, com certeza, que me é legítimo solicitar tal. Certo?

Ou, para si, tecer opiniões fundamentadas em documentos reais (e públicos) é "fazer acusações fúteis"?

Ter opinião e expressá-la, é ter um "rancor mórbido à democracia"?

Denunciar, tendo por base provas documentais e testemunhais, as práticas irregulares (algumas até ilegais, conforme sentenças de casos julgados em Tribunal de última instância e já transitadas em julgado) da gestão CDU na Câmara de Almada é um mero acto de rancor?

E, mais uma vez, caro António Jacinto, não generalize. Nem tão pouco deturpe as minhas palavras. Eu não me dirijo à CDU em geral mas aos autarcas da CDU que estão na gestão da Câmara Municipal de Almada.

Ou quererá dar-se o caso que o senhor concorda e dá o seu aval expresso, a crimes como os vergonhosos actos de mobbing que são praticados nos SMAS de Almada? (só para citar um caso, mas há mais, muitos mais). Atreve-se a negar que eles existem? Diga, então, de sua justiça, mas apresente provas.

Por isso, meu caro António Jacinto, antes de emitir quaisquer juízos de valor vá informar-se primeiro e, depois, comente. Caso contrário, de nada servirá vir aqui tentar limpar os comportamentos condenáveis de alguns dos autarcas da CDU (felizmente não serão todos, como é óbvio) e uns quantos dirigentes por eles protegidos (a título sabe-se lá de quê) fingindo que nada se passa e que eu apenas ando a lançar suspeitas fúteis.

Será sempre bem-vindo.

Anónimo disse...

Então, Almerinda, voltou à blogosfera? E, como sempre, dando a cara. E com o seu estilo cortante e irónico...
Continuem.

Minda disse...

Anónimo das 14:32h,

Pois é. Tenho pena que a minha amiga Almerinda só muito de vez em quando resolva escrever uns textos aqui para o blogue.

Churchill disse...

Caro António Jacinto
No voto nós povo decidimos das propostas que os candidatos fazem para o próximo mandato. Essa ideia de "acertar contas" é uma forma distorcida de ver a democracia, na minha modesta opinião.
Com esta ideia, cada vez mais vamos votar ou por não gostar de alguém, ou pelo mal menor, e cada vez menos por convicções (mas enfim, também há partidos cujo objectivo é baixar o nível de vida dos ricos, em vez de se esforçarem por aumentar o nível dos pobres, se me entende?).
Também é verdade que no nosso sistema politico a responsabilidade dos agentes é nula, por muito aldrabões e até corruptos que sejam. E mesmo depois de "apanhados", até justificam isso com o voto (lembra-se do Isaltino?).
O correcto era haver uma espécie de tribunal de contas para avaliar as propostas de candidatura e depois compará-las com as propostas de orçamentos, e dar uma espécie de visto. Mas se nem a obrigação de saber ler é exigida por cá!

A lei da paridade é muito dificilmente constitucional, mas como é hábito no nosso país só para não ouvir as carpideiras ninguém esteve para se chatear. Mas em todo o caso a descriminação positiva foi pensada para correcções onde a descriminação negativa existe, comprovadamente. Aplicar isso na CMA para organizar um almoço com um baile gay parece-me forçado. Mas conhece algum caso nesta câmara onde uma pessoa seja descriminada por ser mulher?. É que de há 20 anos a esta parte até se encontra o contrário, pelo menos meio dia por ano.

Até logo

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