quinta-feira, 22 de abril de 2010

Mas que esquerda é esta, afinal?

Ou como mais de três décadas no poder autárquico provoca sérios problemas de amnésia e leva ao esquecimento dos princípios democráticos, provocando o constante atropelo dos mais elementares direitos dos trabalhadores.

A APOSTA NA PRECARIEDADE

Quase na véspera do aniversário dos 36 anos do 25 de Abril e a pouco menos de uma semana do Dia do Trabalhador, julgo ser oportuno trazer à conversa as más práticas de gestão de recursos humanos numa suposta autarquia de esquerda: a Câmara Municipal de Almada.

Comecemos, então, por um facto muito concreto. Em 31-12-2008, segundo dados do Balanço Social, a CMA tinha ao seu serviço 63 contratados a termo resolutivo certo. E em 31-12-2009, esse número subiu para 167 (mais do dobro), conforme consta do Relatório de Actividades de 2009. E, no final do primeiro trimestre de 2010, são já 171 os trabalhadores com vínculo precário, como se pode ler na Informação da Presidente à próxima reunião ordinária da Assembleia Municipal.

Sabemos que há actividades que estão sujeitas a grande mobilidade do pessoal, isso não contestamos, além de haver tarefas sazonais que obrigam, necessariamente, à contratação por tempo determinado, contudo, isso não justifica que, no curto prazo de um ano, a taxa de precariedade tenha tido um aumento de 165%, sobretudo quando grande parte deste pessoal até ocupa postos de trabalho permanentes, em claro desrespeito pelas regras legais sobre a matéria.

Mas temos a considerar, ainda, os números da contratação indirecta, cujo alcance se desconhece. Trata-se dos trabalhadores precários das empresas a quem a autarquia adjudica, nomeadamente, a limpeza urbana, e que contribuem para alargar este universo de forma exponencial. Segundo testemunho de vários desses trabalhadores, além da precariedade, os baixos salários e a falta de formação profissional são uma constante. E com tudo isto a CMA é conivente pois prefere fingir que não sabe.

Dirão que, a esse nível, a CMA não pode intervir. Dizemos nós, todavia, que estão enganados. Bastaria que, a quando da definição das cláusulas do concurso se colocasse uma condição que impedisse essas empresas de se candidatar. Mas a CDU chumbou a proposta que o BE apresentou na Assembleia Municipal no mandato anterior, preferindo continuar a fomentar a precariedade.

A OPÇÃO PELA DUALIDADE DE CRITÉRIOS


A coberto daquela que, pomposamente, designam por “política global de gestão de recursos humanos” (cujos princípios nunca foram, no entanto, apresentados de forma clara, objectiva e transparente, quiçá para poder ser adaptada consoante os casos como adiante demonstraremos), a Câmara Municipal de Almada tem vindo, no entanto, a cometer verdadeiros atentados aos direitos dos seus trabalhadores, em contradição com aquela que é, e sempre foi, a bandeira da luta sindical do seu partido (o PCP).

Dizem-se muito preocupados com a justiça e a igualdade de oportunidades no acesso aos lugares de técnico superior e, por isso, se recusam a deferir os requerimentos de mobilidade interna inter-carreiras. Todavia, se os pedidos forem entre as categorias de assistente (de operacional para técnico, por exemplo), essas já não são preocupações que os afectem e despacham-nos favoravelmente.

Nada na lei obriga, de facto, a autarquia a satisfazer este tipo de pretensão dos seus trabalhadores, estamos na esfera do poder discricionário da Administração é certo, mas convenhamos que esta dualidade de critérios é, no mínimo, estranha. Mais ainda tendo nós sabido que nos Serviços Municipalizados aquela regra já não se aplica, embora o Presidente do Conselho de Administração até seja o vereador dos Recursos Humanos da CMA.

Diz aquele responsável que não é razoável “integrar na carreira técnica superior apenas um ou dois trabalhadores licenciados numa determinada área e não a totalidade” de todos os que estão nas mesmas condições, porque a “escolha seria ingrata” e “os demais sentir-se-iam injustiçados”, aconselhando os interessados a “acompanhar os procedimentos concursais em curso”.

Esclareçamos, pois, as coisas devidamente. Não se trata de promover ninguém de forma indevida (como quase se dá a entender) e nem tão pouco está em causa a integração de todos os licenciados da autarquia, já que nem todos possuirão a habilitação adequada aos lugares de que a CMA necessita – se a licenciatura é, suponhamos, em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Alemão, e o município não precisa de tradutores, obviamente que não fará sentido aceitar o pedido de mobilidade.

Mas estamos a falar de postos de trabalho considerados deficitários, em comunicação social (por exemplo), para os quais existem funcionários da autarquia em número suficiente para os preencher sem recorrer ao exterior, pelo que a atitude da CMA configura um claro e evidente desrespeito pelo princípio constitucionalmente consagrado do direito à igualdade de oportunidades, apesar de insistirem em afirmar o contrário. Direito este que se encontra, também, previsto no Código do Contrato de Trabalho em Funções Públicas, em especial na parte do igual tratamento no que se refere à promoção profissional.

Fica, assim, demonstrada a dualidade de critérios utilizada pela autarquia no tocante à matéria do reconhecimento da valorização profissional adquirida pelos seus trabalhadores: a uns permite a mobilidade inter-carreiras e a outros tem vindo a negá-la, de forma sistemática e sem fundamentação consistente gerando, dessa forma e não como consequência do deferimento daqueles pedidos de mobilidade, insatisfação e instabilidade entre o pessoal.

E para quem fala de ingratidão e injustiça, o que pensar da vergonhosa situação de exploração que acaba por ser o facto de, em contrapartida, já não se coibirem de exigir a alguns desses trabalhadores o exercício de funções equivalentes às do seu nível académico (técnico superior), desde há anos consecutivos e de forma continuada, e não se importem nem tenham quaisquer problemas de consciência por lhes continuarem a pagar, apenas, a remuneração mensal (muito inferior) da categoria que detêm.

É caso para perguntar: mas que raio de esquerda é esta, afinal? E depois admiram-se que, em Almada, comece a verificar-se uma tendência preocupante: a existência de cada vez maior número de jovens a preferir militar nos partidos de direita... com exemplos destes, pudera!

10 comentários:

VascoV disse...

Em Almada existe esquerda?

Carlos carvalhas disse...

Vergonha asquerosa o que tem acontecido na Câmara de Almada... mais ainda numa Câmara de esquerda. A inexistente Comissão de trabalhadores e a inexistente comissão sindical da CMA, nada fazem, assobiam para o lado. Não se percebe não virem publicamente criticar esta administração sobre esta barbarie. Numa autarquia de direita o STAL, PCP chamariam reacionários aos defensores desta politica. Aqui ficam entretidos a fazer comunicados que são uma vergonha só marcando dias de manifestações. São uma tristeza esta comissão. calam-se. triste vergonha do sindicalismo na Câmara de Almada. de certeza que os verdadeiros sindicalistas e defensores dos trabalhadores não podem defender esta politica de direita almadense, mas esta comissão de trabalhadores da Câmara defende, calando-se.

Anónimo disse...

Há 36 anos que andam a bater na "esquerda" - sem contar o "antes" que não era bater, era matar, era calar! E se por acaso começassem por EDUCAR a direita, os ppds, os csdss e se se deixassem de folclore??? Não chega o bezismo? esse tem voz e que se ouve bem. Sei dum tempo em que ser do mrpp era ser filho de papá rico - assim se sangrou grande parte do ímpeto da revolução, dos grandes revolucionários que depois vemos sentadinhos no parlamento, com as profissões e as costas quentes dos progenitores. Virem os canhões da água para outro lado! Que pena me dão: se estão no sítio certo para fazer "a justiça" então façam-na e ponham os nomes aos bois. Ou perde-se o "tacho" e a camaradagem dos copos? E não sabem que "a política global dos recursos humanos" fecha centros de saúde, escolas, gangrena em todo o lado? - e é geral e transversal ao país? Onde estavam há 20 anos quando CS imperava e desbaratava os dinheiros da CEE que agora nos fazem falta? e lembram-se de quem "instituiu" os contratos a prazo? Pois foi MS para agradar aos patrões da mobilidade!
Sejam construtivos e construam.
BC.

Anónimo disse...

Perdoem a minha ignorância mas....
que é isso de esquerda e de direita?...
Ainda estamos aí?....
Esses conceitos que me custam a assimilar ainda são os mesmos do sec.XIX?...
Gostaria muito de ser esclarecido por alguém que me pudesse dizer algo mais do que aquilo que é o costume dizer-se.....

Desde já agradecido.




Luís Neto

carlos carvalhas disse...

O anónimo da 1.49 disse e muito bem que os meninos do Mrpp tinham pais que eram rico. Os meninos bemzocas filhos dos comunas almadenses também estão no poder como dirigentes na Câmara de Almada a ganhar fortunas. Eles andam de Jeep, vivem na verizela, ganham uma média de 3000 euros por mês. Meu amigo vc deve ser pai de filho comunista que é rico. Vá-se catar. Vc deve ser um comuna da treta que está cheiro de dinheiro, vá trabalhar

Minda disse...

Vasco:

Depende da perspectiva com que se olha... ou das palas que se têm nos olhos.

Minda disse...

Carlos:

A CMA uma câmara de esquerda? Ser da CDU não confere o título de forma automática. As práticas de gestão sim... e aí o retrato é muito negro.

Infelizmente o STAL é muito parcial na análise dos desmandos cometidos pelos camaradas autarcas... aí a defesa dos direitos dos trabalhadores fica em 2.º ou 3.º plano pois os interesses do PCP sobrepõem-se.

Minda disse...

BC:

Os exemplos de má política à direita não justificam as péssimas práticas democráticas da esquerda.
E aqui em Almada, a CDU de esquerda só tem o nome...

Minda disse...

Luís Neto:

Tem razão. Discursos ultrapassados não nos levam a lado nenhum.

Minda disse...

Carlos:

Oportunistas é o que mais há.
Em todos os quadrantes políticos.
Mas não se enerve e veja se para a próxima modera a linguagem.

Related Posts with Thumbnails