Depois de vários anos de
ilegalidade (finais de 2012 até meados de 2016) e vários meses de impasse,
finalmente cumpriu-se a lei no município de Lisboa.
Refiro-me à aprovação da proposta
sobre o pagamento das despesas de representação aos dirigentes daquela
autarquia (que aconteceu em 29 de junho de 2016) e que vinham a ser abonadas
apesar do desrespeito deliberado pela determinação da Lei n.º 49/2012.
Assim o dizem um artigo
do jornal Público e uma notícia
publicada no site da Assembleia
Municipal de Lisboa.
Parte da história deste imbróglio
pode ser lida no parecer
da própria Assembleia Municipal, embora este documento seja omisso,
nomeadamente, quanto ao apuramento das responsabilidades de quem, de forma
deliberada, incumpriu a lei e, sobretudo, desrespeitou aquele órgão autárquico.
O facto da justificação jurídica
que sustenta a solução encontrada ser do insuspeito especialista universitário
de direito administrativo Diogo
Freitas do Amaral, não afasta, contudo, as suspeitas do indecente
branqueamento da irresponsabilidade dos dirigentes que durante os últimos anos terão
violado de forma consciente os princípios gerais de ética a que estavam obrigados
ao autorizarem o pagamento de despesas que sabiam não cumprir os requisitos
legais para o efeito.
Refiro-me, nomeadamente, ao
diretor do Departamento municipal de Finanças cujo estatuto obriga à
observação, entre outros, dos princípios da legalidade, competência, transparência
e boa-fé, os quais me parece não terão sido satisfeitos.
E, por outro lado, não posso deixar
de considerar chocante a ligeireza com que em termos políticos os deputados
municipais aceitaram a barrela sobre aquele que foi um claro comportamento
antidemocrático do executivo e que teve como principal responsável Fernando Medina,
no passado recente vereador com o pelouro das finanças e hoje presidente da
autarquia.
É que se por um lado a
ilegalidade administrativa pode ser sanada sem que nos choque a interpretação
sugerida pelo conceituado académico, o mesmo já não podemos pensar desta
espécie de perdão que envolve também a ilegalidade financeira que,
conscientemente, foi cometida durante anos, em particular no período após a
apresentação da proposta inicial que levou à discussão agora encerrada.
Mesmo o PSD,
que votou contra a proposta e avisou da sua intenção em enviar a questão para
a Inspeção-geral de Finanças e para o Tribunal de Contas parece que acordou
tarde para o problema e apenas se limita a fazer ameaças… A propósito, escusam
de se preocupar pois desde
fevereiro último que a IGF tem conhecimento do problema.
Em conclusão: este é mais um
prémio aos abusos reiterados que, em Lisboa, o órgão executivo vai praticando
de forma impune atitude que, na minha opinião, desprestigia o funcionamento
democrático do poder local.
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