Depois de ter escrito a declaração de princípios divulgada no artigo de ontem resolvemos realizar, cá em casa, uma interessante e participada “conversa ao serão” sobre a influência que a UDP está a ter no BE em Almada.
Conversa puxa conversa, discutiu-se o presente mas era inevitável que se acabasse por fazer uma viagem ao passado... e tendo conseguido desencantar o n.º 4 do jornal Revolução Popular, de Abril de 1965, órgão do Comité Marxista-Leninista Português, o "avô da UDP", era inevitável que a discussão se centrasse no conteúdo do respectivo editorial e que adiante transcrevo.
E houve logo quem dissesse: “ora vejam só, tão inimigos que eles eram e agora tão amigos que são. As voltas que o mundo dá, hem?»
Aqui fica o texto referido que acabou por nos conduzir por uma animada discussão que durou quase até à meia-noite.
«AOS CAMARADAS COMUNISTAS
O que é o Comité Marxista-Leninista Português?
O Comité foi criado por um grupo de revolucionários comunistas que tomaram a iniciativa de se juntarem, para poderem defender, de uma forma independente e bem clara, o caminho revolucionário que há-de libertar o nosso povo do fascismo e levá-lo ao socialismo.
Antes de tomarem esta decisão, estes comunistas analisaram a orientação incorrecta dos dirigentes do PC e, dentro das fileiras do Partido, lutaram incansavelmente pela correcção dessa orientação política. Esta luta valeu a alguns deles a expulsão do Partido, sob as acusações mais indignas.
Hoje, é para nós claro que a luta dentro do Partido, para a correcção da orientação, é uma luta inglória, que nada consegue resolver. Os dirigentes oportunistas do PC estão decididos a não escutar os protestos dos seus militantes, e a responderem com mentiras e calúnias infames, indo mesmo, como sucedeu no “Avante” de Dezembro, a denunciar os nomes de camaradas nossos na clandestinidade.
A todos os processos, mesmo os mais vergonhosos, eles estão dispostos a deitar mão para conseguirem manter os operários atados à burguesia anti-fascista, perpetuando assim o fascismo, a exploração e o sofrimento dos trabalhadores portugueses.
Muitos camaradas, pela sua própria experiência, já se deram conta aonde os leva a orientação traidora dos dirigentes oportunistas. Mas, muitos destes camaradas, têm ainda ilusões sobre as possibilidades de levar os dirigentes oportunistas ao bom caminho. Nós compreendemos a atitude destes camaradas mas temos de combatê-la.
Nós compreendemos o amor e dedicação que esses camaradas têm ao partido, que tem sido o da classe operária, mas que já não o é, por não conduzir o povo e a classe operária à Revolução. Esses camaradas iludem-se a si próprios. Nós apreciamos em alto grau a atitude de dedicação de que esses camaradas dão provas, mas simplesmente essa atitude só seria correcta se os dirigentes do PC estivessem à altura dela. E eles não o estão.
Para nós, é cada dia mais nítido, que aquele que era o nosso Partido, foi usurpado por meia dúzia de dirigentes cuja cegueira oportunista os leva a trilhar caminhos que atraiçoam a classe operária.
Para nós, o Partido de Álvaro Cunhal deixou de ser o nosso Partido, o representante da classe operária, o Partido dos Comunistas. Ele deixou de lutar pela revolução proletária, ele entregou os comunistas nos braços da burguesia anti-fascista.
Qual é então o caminho que temos de seguir?
É preciso que todos os verdadeiros comunistas, todos os verdadeiros revolucionários, se unam e formem um verdadeiro Partido Comunista que se guie fielmente pelas ideias dos dois grandes revolucionários Marx e Lenine, os fundadores da doutrina comunista e do primeiro estado socialista, a União Soviética.
Quanto mais tarde compreendermos a necessidade da criação de um Partido revolucionário, capaz de conduzir as massas populares ao poder e ao socialismo, mais atrasamos a revolução. Quanto mais depressa os comunistas se agruparem numa nova organização orientada por uma linha revolucionária, mais depressa chegará o momento da libertação do jugo capitalista.
O Comité Marxista-Leninista é como uma semente que, germinando no seio do povo, nos há-de dar um novo fruto, um Partido Comunista revolucionário.
A criação deste Comité foi o primeiro passo dado pelos comunistas portugueses para a formação do Partido revolucionário de que o povo precisa. Animados pelo nosso exemplo, outros comités se estão formando, e em breve um Partido Comunista estará montado e, com ele, começarão as grandes lutas decisivas do nosso povo pela sua libertação.
Camaradas, coragem e decisão que o momento não permite desânimos. O momento e de cerrar fileiras.
Camaradas unamo-nos debaixo dos princípios revolucionários marxistas-leninistas e que cada um tome o seu posto de combate.
Vivam os Comités Marxistas-Leninistas!
Viva o Partido Comunista revolucionário!
Viva o Comunismo!»
Conversa puxa conversa, discutiu-se o presente mas era inevitável que se acabasse por fazer uma viagem ao passado... e tendo conseguido desencantar o n.º 4 do jornal Revolução Popular, de Abril de 1965, órgão do Comité Marxista-Leninista Português, o "avô da UDP", era inevitável que a discussão se centrasse no conteúdo do respectivo editorial e que adiante transcrevo.
E houve logo quem dissesse: “ora vejam só, tão inimigos que eles eram e agora tão amigos que são. As voltas que o mundo dá, hem?»
Aqui fica o texto referido que acabou por nos conduzir por uma animada discussão que durou quase até à meia-noite.
«AOS CAMARADAS COMUNISTAS
O que é o Comité Marxista-Leninista Português?
O Comité foi criado por um grupo de revolucionários comunistas que tomaram a iniciativa de se juntarem, para poderem defender, de uma forma independente e bem clara, o caminho revolucionário que há-de libertar o nosso povo do fascismo e levá-lo ao socialismo.
Antes de tomarem esta decisão, estes comunistas analisaram a orientação incorrecta dos dirigentes do PC e, dentro das fileiras do Partido, lutaram incansavelmente pela correcção dessa orientação política. Esta luta valeu a alguns deles a expulsão do Partido, sob as acusações mais indignas.
Hoje, é para nós claro que a luta dentro do Partido, para a correcção da orientação, é uma luta inglória, que nada consegue resolver. Os dirigentes oportunistas do PC estão decididos a não escutar os protestos dos seus militantes, e a responderem com mentiras e calúnias infames, indo mesmo, como sucedeu no “Avante” de Dezembro, a denunciar os nomes de camaradas nossos na clandestinidade.
A todos os processos, mesmo os mais vergonhosos, eles estão dispostos a deitar mão para conseguirem manter os operários atados à burguesia anti-fascista, perpetuando assim o fascismo, a exploração e o sofrimento dos trabalhadores portugueses.
Muitos camaradas, pela sua própria experiência, já se deram conta aonde os leva a orientação traidora dos dirigentes oportunistas. Mas, muitos destes camaradas, têm ainda ilusões sobre as possibilidades de levar os dirigentes oportunistas ao bom caminho. Nós compreendemos a atitude destes camaradas mas temos de combatê-la.
Nós compreendemos o amor e dedicação que esses camaradas têm ao partido, que tem sido o da classe operária, mas que já não o é, por não conduzir o povo e a classe operária à Revolução. Esses camaradas iludem-se a si próprios. Nós apreciamos em alto grau a atitude de dedicação de que esses camaradas dão provas, mas simplesmente essa atitude só seria correcta se os dirigentes do PC estivessem à altura dela. E eles não o estão.
Para nós, é cada dia mais nítido, que aquele que era o nosso Partido, foi usurpado por meia dúzia de dirigentes cuja cegueira oportunista os leva a trilhar caminhos que atraiçoam a classe operária.
Para nós, o Partido de Álvaro Cunhal deixou de ser o nosso Partido, o representante da classe operária, o Partido dos Comunistas. Ele deixou de lutar pela revolução proletária, ele entregou os comunistas nos braços da burguesia anti-fascista.
Qual é então o caminho que temos de seguir?
É preciso que todos os verdadeiros comunistas, todos os verdadeiros revolucionários, se unam e formem um verdadeiro Partido Comunista que se guie fielmente pelas ideias dos dois grandes revolucionários Marx e Lenine, os fundadores da doutrina comunista e do primeiro estado socialista, a União Soviética.
Quanto mais tarde compreendermos a necessidade da criação de um Partido revolucionário, capaz de conduzir as massas populares ao poder e ao socialismo, mais atrasamos a revolução. Quanto mais depressa os comunistas se agruparem numa nova organização orientada por uma linha revolucionária, mais depressa chegará o momento da libertação do jugo capitalista.
O Comité Marxista-Leninista é como uma semente que, germinando no seio do povo, nos há-de dar um novo fruto, um Partido Comunista revolucionário.
A criação deste Comité foi o primeiro passo dado pelos comunistas portugueses para a formação do Partido revolucionário de que o povo precisa. Animados pelo nosso exemplo, outros comités se estão formando, e em breve um Partido Comunista estará montado e, com ele, começarão as grandes lutas decisivas do nosso povo pela sua libertação.
Camaradas, coragem e decisão que o momento não permite desânimos. O momento e de cerrar fileiras.
Camaradas unamo-nos debaixo dos princípios revolucionários marxistas-leninistas e que cada um tome o seu posto de combate.
Vivam os Comités Marxistas-Leninistas!
Viva o Partido Comunista revolucionário!
Viva o Comunismo!»
6 comentários:
Nunca como agora, se aplica a sigla: UDP = Uma Dúzia de Parvos...
Se calhar nem à dúzia chegam...
Parvos? Olhe que não...
Afinal até foram bem "espertos". Mas tenho as minhas dúvidas que venham a atingir os objectivos pretendidos.
Assim não, Ermelinda! Tenho notado a seu contributo, acentuado nos últimos dias, para que a discussão não seja deslocalizada. E diminuir a discussão não se reduz apenas à utilização de ofensas e impropérios.
Anular a discussão é, também (e desculpe-me se estou a ser injusto, ou a avalaiar mal a situação) acantonar-se nos "parvos" versus "espertos".
Acha mesmo que é essa a questão?
Acha mesmo, que os identificados como continuadores da "UDP", são uns "espertos", "bem espertos", venham ou não a "atingir os objectivos pretendidos"?
Ou não serão, tal como a Ermelinda, e não só, cidadãos que, segundo as suas convicções, procuram, tal como quem os contesta, servirem a causa pública?
Esta "defesa", que estou a tentar fazer não é associável à minha opinião "política" - que fique claro.
A Ermelinda, com este tipo de comentários, é como se desse o mote para estimular a conversa "parva", de "parvos" sobre "parvos" e "parvoíces".
Fernando Miguel
Caro Fernando Miguel,
Compreendo a sua posição e aceito a crítica que me faz. Deveria ter explicado melhor aquele comentário e não limitar-me à ironia. Ninguém é perfeito. Mas, ao contrário de muitos, não receio admitir um erro e muito menos temo expor as minhas ideias. Nessa óptica, aqui vão algumas explicações que ajudarão a perceber o alcance das minhas anteriores palavras.
Quando utilizei o termo “espertos” fi-lo intencionalmente. Poderia ter escrito “inteligentes” (pois era isso que, em 1999, pensava da UDP pela iniciativa de criação do BE, uma força assente em novos paradigmas de intervenção política e social) mas optei pelo qualificativo “espertos” em virtude de, nos últimos tempos, ter-me vindo a aperceber que, mais do que uma corrente ideológica no seio do BE, a UDP pretendeu apenas, afinal, criar uma nova frente popular para se substituir a si própria enquanto que o núcleo de antigos militantes passaria a ser o Partido orientador.
Esta pretensão está bem explícita na intervenção de Mariana Aiveca na 5.ª Conferência da UDP, realizada em Maio de 2010, quando afirma:
«E foi assim que nos vimos reduzidos aos 0,7% dos votos, enquanto o PCP se mantinha único partido da classe operária. Foi o confronto com a realidade da vida que nos permitiu descortinar que ou se criava algo novo e que crescesse ou definhávamos completamente. E foi daqui que nasceu a estrela que haveria de ultrapassar o PCP em mais de 110 mil votos em 2009.»
«Foi também o resultado do debate da nossa 3ª conferência [em 2008] e de documentos tão importantes como os que produzimos que influenciaram decisivamente o centro da táctica política da Convenção do Bloco de Esquerda. Porque essa plataforma – plural, popular e socialista – não só não anula a existência da organização comunista, como lhe exige novas respostas.
As concepções, que assumimos, como corrente ideológica no seio do Bloco de Esquerda, sendo este o Partido, não é nem pode ser castradora da nossa contribuição colectiva e individual no processo de definição da política e da acção.»
É a pluralidade ideológica e a capacidade de respeitar as diversas tendências internas que, na minha opinião, conferem solidez à intervenção política do Bloco de Esquerda. Por isso, a existência de várias correntes é bastante positiva, sendo os aderentes livres de aderir àquela com que mais se identificam, ou simplesmente deixar-se ficar pela militância de cidadania (sem tendência ideológica de base).
Todavia, o mesmo já não direi dos métodos utilizados pela UDP para influenciar a actuação do BE, devido à falta de transparência na discussão desses propósitos junto dos aderentes bloquistas. Ou seja, sendo legítimos os objectivos da UDP enquanto associação política, já não considero o mesmo em relação à forma como tentam manobrar as decisões colectivas do BE a partir dos bastidores, sem ousar discutir com os seus aderentes os fundamentos ideológicos que, afinal, estão por detrás desses propósitos (em Almada nunca aconteceu uma discussão deste tipo).
Consequentemente, considero que isto é andar a enganar os aderentes do BE que não são da UDP, pois estarão muito longe de imaginar o que se passa “por detrás do palco”. Além disso, acabam por, também, ludibriar os eleitores do BE que estão a votar numa coisa e, depois, sai-lhes outra ao caminho… como acontece em Almada: a estratégia política decide-se na UDP e no BE cumprem-se as tarefas.
Cara Ermelinda,
A sua resposta é óptima.
Penso que a intervenção da Mariana Aiveca, que reproduz, não deve ser do conhecimento geral, mas, apenas dum grupo restrito.
A divulgação que fez, decerto que vai alargar o número de pessoas que ficam/ficarão a conhecer esta intervenção.
É pelo conhecimento das palavras (e dos actos) que melhor poderemos formar a nossa opinião e decidir em consciência.
O seu comentário suscita-me algumas interrogações, às quais, decerto, saberá responder.
Tanto quanto sabe, a Mariana Aiveca mantém as afirmações em questão?
Qual o percurso político desta actual deputada?
Estas perguntas não têm a ver, exactamente, com a Mariana, faço-as para compreender a génese e o desenvolvimento da "aglutinação" no BE.
Agora, quanto à política local:
Graças ao BE alguns problemas que existem em Almada foram resolvidos, e outros estão a ser tratados para resolução?
Muitas propostas (e valores)do BE vão fazendo caminho, algumas dessas propostas estão a ser seguidas pela CMA e pela CDU, mesmo aquelas que não são reconhecidas (pela CMA e CDU) como sendo do BE (Almada)?
Para além das propostas para as opções do plano, apontadas no comunicado do BE, que foram integradas nos documentos aprovados na sessão camarária de 3 de Dezembro, e que irão passar na Assembleia Municipal, admite que outras propostas do BE já lá estivessem incluídas, antes das conversações com o BE?
Acha que, pelo facto de o BE (Almada) não poder competir com a máquina e meios de propaganda da CMA, sendo difícil fazer passar a mensagem de tudo aquilo que o Bloco vai fazendo, o que interesa é não dar lugar à desistência, mas sim que os problemas se resolvam?
Acha que o Bloco de Esquerda (Almada) tem o programa da CDU? Acha que o BE (Almada) não se alia à "direita" para não dar de bandeja a Câmara ao PS e ao PSD?
Finalmente, acha que daqui a três anos, ter-se-à verificado que o BE (Almada) contribuiu para mudar algumas coisas que estavam mal e que os eleitores lhe darão, em consciência, legitimidade para continuar?
Fernando Miguel
Fernando Miguel:
O discurso da Mariana Aiveca é público, embora passe despercebido à maioria das pessoas (como me passou a mim própria que só agora dele tomei conhecimento). Pode consultá-lo na íntegra no seguinte endereço: http://www.acomuna.net/content/view/375/1/.
Quanto às suas perguntas, lamento informar mas não sei qual é a resposta. Aliás, as mesmas devem ser colocadas ao Bloco de Esquerda e não a mim.
Todavia, não posso deixar de esclarecer o seguinte:
Até 23 de Agosto (data em que renunciei aos mandatos) não foi feito nenhum balanço que permitisse apurar sobre o efectivo cumprimento pela CMA das propostas do BE integradas no Plano de 2010. Desconheço se chegou a ser feito antes de se ponderar e aceitar mais promessas para 2011. Sem essa análise é difícil avaliar qual o grau de importância dos contributos do BE. Além disso, como deve calcular, tendo deixado de ser deputada municipal apenas terei acesso ao Plano 2011 após a provação pela Assembleia Municipal, portanto, nada sobre ele poderei comentar.
Alianças do BE à direita? Deve haver alguma confusão. O que eu disse foi que para o BE tudo é preferível a deixar que o PS ou o PSD ganhem a CMA nem que para isso tenham de fazer uma oposição tolerante às ilegalidades da CDU para que esta não perca o poder. E daqui a três anos ainda “muita água irá correr debaixo da ponte” para estarmos já a vaticinar o que irá acontecer.
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