Costumo ver pouca televisão, é um facto. Mas ontem, estávamos a acabar de jantar (um pouco mais tarde do que o habitual) e eis senão quando começa a transmissão, na RTP 1, do programa "Galegos de cá e lá". Pois é, não conseguimos despregar os olhos do ecrã e, sempre de ouvidos atentos, ali ficámos a ver o documentário de Júlia Fernandes até ao fim.
Foi um programa extraordinário, daqueles que gostaríamos de voltar a ver tanta é a profusão de informação, sobre as aldeias galegas na fronteira entre Trás-os-Montes e a Galiza. Muito bem concebido, com som e imagem de muito boa qualidade, tendo por base uma pesquisa séria e profunda, mostrando o passado e o presente de um território entre Portugal e Espanha com uma identidade comum. Apresentado de forma cativante, cria no espectador uma empatia total.
Estão de parabéns a autora e toda a equipa que a acompanhou (do som à imagem e produção), e a RTP por ter passado este importante documentário sobre a nossa história em horário nobre e na sua antena principal. Que este seja, pois, um exemplo a repetir.
«A fronteira entre Trás-os-Montes e a Galiza foi sendo ajustada ao longo dos séculos. O primeiro grande acordo fronteiriço com os espanhóis foi o tratado de Alcanizes assinado por D. Dinis. Mas, desde então mantiveram-se algumas dúvidas sobre pequenas áreas e aldeias cuja situação era menos clara.
Vizinhos galegos e portugueses nunca se importaram muito com a situação…umas vezes pertenciam a um lado, outras mudavam de posição, mas, no fundo eram todos parentes, a História está aí para prová-lo.
Até que, há pouco mais de cento e quarenta anos, pelo “Tratado de Lisboa”, o estado português e o estado espanhol acordaram numa divisão fronteiriça mais científica, mais apoiada em mapas, a mesma que persiste até hoje.
Mas, entre Trás-os-Montes e a Galiza, uma região pequena mas muito próspera – o couto misto - viu completamente alterada a sua vida. O couto era constituído por três aldeias e conservava desde a Idade Média uma série de privilégios, um dos quais era não pertencer nem a Espanha nem a Portugal.
Na partilha, o couto misto foi extinto, ficou integrado em Espanha por troca de três aldeias, ditas promíscuas (com população galega e portuguesa), situadas junto a linha fronteiriça e que passaram integralmente para Portugal.
Actualmente, a prosperidade do couto é apenas uma recordação e as aldeias do lado de cá e do lado de lá da fronteira padecem do mesmo mal: a desertificação.
“Galegos de Cá e Lá” é um documentário de Maria Júlia Fernandes com imagem de Carlos Oliveira, som de António Garcia e produção de Ana Lucas e Lila Lacerda.»
Lamentavelmente, não há nenhum vídeo do programa. Mas nem por isso vos deixo de apresentar um outro documentário (feito por galegos), também muito interessante, acerca das raízes culturais da Galiza e do Norte de Portugal:
«O património imaterial representa a fonte vital de uma identidade profundamente enraizada na História e compreende "o conjunto de formas da cultura tradicional e popular ou folclórica, quer dizer, as obras colectivas que emanam de uma cultura e se baseiam na tradição. Estas tradições transmitem-se oralmente ou mediante gestos e modificam-se com o decorrer do tempo através de um processo de recreação colectiva. Incluem-se nelas as tradições orais, os costumes, as línguas, a música, os bailes, os rituais, as festas, a medicina tradicional e a farmacêutica, as artes culinárias e todas as habilidades especiais relacionadas com os aspectos materiais da cultura, tais como as ferramentas e o habitat."
A índole efémera deste património intangível torna-o vulnerável. A salvaguarda deste património deve partir da iniciativa individual e receber o apoio das associações, especialistas e instituições.»
Foi um programa extraordinário, daqueles que gostaríamos de voltar a ver tanta é a profusão de informação, sobre as aldeias galegas na fronteira entre Trás-os-Montes e a Galiza. Muito bem concebido, com som e imagem de muito boa qualidade, tendo por base uma pesquisa séria e profunda, mostrando o passado e o presente de um território entre Portugal e Espanha com uma identidade comum. Apresentado de forma cativante, cria no espectador uma empatia total.
Estão de parabéns a autora e toda a equipa que a acompanhou (do som à imagem e produção), e a RTP por ter passado este importante documentário sobre a nossa história em horário nobre e na sua antena principal. Que este seja, pois, um exemplo a repetir.
«A fronteira entre Trás-os-Montes e a Galiza foi sendo ajustada ao longo dos séculos. O primeiro grande acordo fronteiriço com os espanhóis foi o tratado de Alcanizes assinado por D. Dinis. Mas, desde então mantiveram-se algumas dúvidas sobre pequenas áreas e aldeias cuja situação era menos clara.
Vizinhos galegos e portugueses nunca se importaram muito com a situação…umas vezes pertenciam a um lado, outras mudavam de posição, mas, no fundo eram todos parentes, a História está aí para prová-lo.
Até que, há pouco mais de cento e quarenta anos, pelo “Tratado de Lisboa”, o estado português e o estado espanhol acordaram numa divisão fronteiriça mais científica, mais apoiada em mapas, a mesma que persiste até hoje.
Mas, entre Trás-os-Montes e a Galiza, uma região pequena mas muito próspera – o couto misto - viu completamente alterada a sua vida. O couto era constituído por três aldeias e conservava desde a Idade Média uma série de privilégios, um dos quais era não pertencer nem a Espanha nem a Portugal.
Na partilha, o couto misto foi extinto, ficou integrado em Espanha por troca de três aldeias, ditas promíscuas (com população galega e portuguesa), situadas junto a linha fronteiriça e que passaram integralmente para Portugal.
Actualmente, a prosperidade do couto é apenas uma recordação e as aldeias do lado de cá e do lado de lá da fronteira padecem do mesmo mal: a desertificação.
“Galegos de Cá e Lá” é um documentário de Maria Júlia Fernandes com imagem de Carlos Oliveira, som de António Garcia e produção de Ana Lucas e Lila Lacerda.»
Lamentavelmente, não há nenhum vídeo do programa. Mas nem por isso vos deixo de apresentar um outro documentário (feito por galegos), também muito interessante, acerca das raízes culturais da Galiza e do Norte de Portugal:
«O património imaterial representa a fonte vital de uma identidade profundamente enraizada na História e compreende "o conjunto de formas da cultura tradicional e popular ou folclórica, quer dizer, as obras colectivas que emanam de uma cultura e se baseiam na tradição. Estas tradições transmitem-se oralmente ou mediante gestos e modificam-se com o decorrer do tempo através de um processo de recreação colectiva. Incluem-se nelas as tradições orais, os costumes, as línguas, a música, os bailes, os rituais, as festas, a medicina tradicional e a farmacêutica, as artes culinárias e todas as habilidades especiais relacionadas com os aspectos materiais da cultura, tais como as ferramentas e o habitat."
A índole efémera deste património intangível torna-o vulnerável. A salvaguarda deste património deve partir da iniciativa individual e receber o apoio das associações, especialistas e instituições.»
2 comentários:
A RTP fez um autêntico serviço público.
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Observador:
Plenamente de acordo. Deveriam era haver mais programas destes, não achas?
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