Continuando a notícia
de ontem, que o assunto tem ainda “pano para mangas”, vamos retomar a
questão do arrendamento da Quinta dos Espadeiros pelo anterior executivo almadense.
E, sem medo das palavras, tentemos contribuir com alguns esclarecimentos para
clarificar aspetos marginais (porque nas margens da legalidade) deste obscuro
negócio da CDU.
Comecemos por recordar as
palavras de Joaquim Judas ao jornal Público de 14-02-2018:
«O espaço em consideração, designado “Quinta dos Espadeiros”, é uma
propriedade privada que ocupa uma área superior a 6 hectares (cerca de 15
campos de futebol de 11), preenchida numa vasta extensão por lagos, árvores e
plantas de grande beleza, espaços ajardinados e um conjunto de edificações onde
se inclui um palacete do século XVII, considerado um dos mais belos e bem
conseguidos espaços jardim do nosso país, que foi avaliado à data do contrato,
em julho de 2016, em cerca de 9,5 milhões de €.»
Esqueceu-se Joaquim Judas, contudo, entre
outros pormenores relevantes para a integral compreensão da situação, de
informar que a avaliação referida custou à autarquia a módica quantia de 7.480€
(mais IVA à taxa de 23%) paga à Promapa -
Levantamentos Topográficos, contratada por ajuste direto para efetuar o
trabalho em causa.
Será que a CDU se preparava para encetar
negociações tendentes à compra do imóvel? Se a intenção fosse apenas celebrar um
contrato de arrendamento temporário, qual a necessidade de mandar avaliar a
propriedade? E com património municipal classificado (que não é o caso da Quinta dos Espadeiros) e ao abandono, porquê investir naquela compra e não tentar recuperar o que existe (caso da Torre de São Sebastião)?
E porquê assumir todos estes
procedimentos à revelia dos órgãos autárquicos (executivo e deliberativo) sabendo
que o presidente da autarquia não tem competência própria para decidir sobre a
matéria? Com um jurista na vereação (José Gonçalves), como é possível considerar
legítimas atitudes destas?
Indícios reveladores, mais uma vez, de
ignorância ou de incompetência (talvez mesmo as duas coisas), mas que é,
sobretudo, um comportamento antidemocrático que resulta do sentimento de
impunidade que a CDU sentia em relação à gestão autárquica em Almada por nunca
ter tido uma oposição atuante e alerta, verdadeiramente fiscalizadora dos seus
atos.
A Quinta dos Espadeiros
(imóvel que se encontra à venda em várias imobiliárias, como por exemplo: Sotheby’s
ou Quintela
e Penalva), além de ser o local que aloja o projeto designado por KOI PARK, passaria a ser também, supostamente, o
espaço destinado a acolher o espólio do pintor Rogério
Ribeiro, destacado militante do PCP e que em 1993 foi convidado pela
autarquia liderada pelo seu partido (ligação esta que não é displicente) para
desenvolver o Centro
de Arte Contemporânea na Casa
da Cerca, a cuja direção se seguiu em 2002 (à laia de uma sucessão
monárquica) a sua filha Ana Isabel Ribeiro. No presente presumimos que o lugar continue
ocupado em regime de substituição por Vanda Teresa Reis Piteira nomeada em 29-12-2016,
pois ainda não foi publicado o resultado do concurso público aberto em meados
de 2017.
«O espaço serviria também, ainda de acordo com o autarca comunista, para
acolher a Bienal de Escultura de Almada que o município estava a organizar,
tendo já criada, antes das eleições autárquicas, uma equipa de trabalho que
incluía o escultor José Aurélio.»
E, mais uma vez com as
ligações partidárias a comandar as escolhas culturais, lá vem um artista do
regime comunista em Almada – o José Aurélio
(que, afinal, até é de Alcobaça) – ficar à frente de um outro projeto – a alegada
Bienal de Escultura de Almada.
Mas, coisa estranha:
Tal como o “arrendamento
fantasma” da Quinta dos Espadeiros pago a peso de ouro à família Elvas (uma
forma encapotada de financiar o Koi Park enquanto a propriedade não é vendida?)
por contrapartida nenhuma para a autarquia (que nem sequer a chave da casa tem)
nem para a população do concelho de Almada (pois o espaço continua privado),
que nunca foi apresentado em reunião de câmara e muito menos da assembleia
municipal,
Também a Bienal de
Escultura de Almada é um “projeto fantasma” que não consta de nenhum Plano de
Atividades da autarquia (refiro-me aos aprovados pelo órgão deliberativo), mas
até já tem um responsável: o artista do regime comunista José Aurélio.
Querem lá ver que em
Almada, durante o último mandato, tínhamos uma espécie de “executivo sombra”,
composto apenas pelos membros da CDU (deixando de fora os vereadores do PS e do
PSD) com um plano de ação paralelo àquele que fazia aprovar nos órgãos
autárquicos?
É que a juntar aos exemplos
acima referidos (arrendamento e bienal) há ainda muitos outros que passavam nas
entrelinhas dos documentos oficiais de que são apresentados mais dois no artigo
do semanário Expresso de hoje (e que
foram aqui denunciados no Infinito’s em
primeira mão): a externalização dos serviços desportivos (nunca assumida de
forma transparente) à empresa “Óptimo
Pretexto” ou a contratação
de Sónia Silva (protagonista do alegado saneamento político de que a CDU
acusou o PS).
Era Almada uma ditadura
autárquica escondida nos bastidores do regime democrático? Felizmente que no
dia 1 de outubro de 2017 houve uma mudança de rumo.
3 comentários:
Comunicado que não aparece neste artigo: http://www.almada.cdu.pt/atividades/1502-a-proposito-de-declaracoes-da-presidente-da-cm-almada-relativas-ao-aluguer-de-uma-casa-particular
"5. Nestas circunstâncias foi firmado contrato de arrendamento não habitacional, tendo como fim genérico a realização de eventos de interesse municipal e fruição pelo público, com prazo certo e com opção de compra do espaço designado como “Quinta dos Espadeiros”, excluindo-se da área arrendada a que está destinada a atividade piscícola. Para efeito do exercício da opção de compra pelo Município, ao preço resultante do acordo entre as partes será deduzido o valor das rendas pagas desde o início do contrato."
Jovem atento,
O comunicado que refere não consta deste artigo? Engana-se. Este texto reporta ao do dia anterior, como é dito logo no início, e nesse outro o comunicado da CDU aparece logo em primeiro lugar.
E o ponto cinco em nada adianta para o esclarecimento das razões que levaram o anterior executivo a assumir celebrá-lo à revelia do órgão executivo. Porque os vereadores da CDU não fazem o executivo. Eram os vereadores com pelouro e não o órgão, que é composto por 11 membros e não apenas seis vereadores.
Nos termos da lei, a competência é do órgão executivo e não dos vereadores com pelouro. Portanto, a CDU não tinha competência para celebrar aquele contrato e muito menos para decidir quaisquer opções de compra posterior.
Negócio da China família Rogério Ribeiro eram amigos da pardaleca
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