quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A arrogância do novo imperador de Lisboa!


Subscrevo, na íntegra, as palavras de Luís Júdice. Uma visão lúcida e objetiva do que se está a passar nesta região que querem transformar numa espécie de "coutada de António Costa":

«Durante a tomada de posse para o seu terceiro mandato como presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa fez menção a uma proposta que, de alguma forma, pretende imitar o que há muito vem sendo defendido por outros: a Região Especial de Lisboa, envolvendo as autarquias dos concelhos que vão de Torres Vedras a Setúbal.

Pareceria que António Costa defenderia uma superstrutura autárquica, com órgãos próprios, para gerir necessidades comuns dos concelhos e que vão dos transportes ao saneamento básico, recolha e tratamento de lixo, até ao abastecimento de água, electricidade e gás.

Mas na realidade, atentos os factos abaixo expostos, o que poderá estar em causa é o objectivo de este transformar o distrito de Lisboa – o de maior densidade eleitoral do país – numa espécie de coutada sua e do PS, num trunfo para a sua clique política ganhar ainda mais peso na federação de partidos de que faz parte. Se não, vejamos:

· Na sequência das recentes eleições autárquicas, conhecidos os resultados no Distrito de Lisboa, logo o PS e António Costa iniciaram um autêntica tentativa de assalto ao Órgão da Área Metropolitana de Lisboa, dando clara indicação de que pretendem, sozinhos  controlar esta estrutura, isto é, o órgão deliberativo e a comissão executiva, facto que veio a acontecer hoje quando, aliando-se a autarcas do PSD e ao “independente” presidente da Câmara Municipal de Oeiras, “ganhou” a presidência daquela estrutura;

· A este facto não será alheio o autêntico golpe levado a cabo por António Costa para, nas costas dos lisboetas, alterar o mapa geográfico autárquico da cidade, não de molde a servir os cidadãos do concelho – que seria criando as novas freguesias em função do bairro -, mas impondo a agregação de freguesias da forma que melhor serviu a sua estratégia e matemática eleitorais;

· Entretanto, e apesar de a isso estar obrigada, por força do  artigo 14.º do decreto-lei n.º 5/91, de 8 de Janeiro,  a Câmara Municipal de Lisboa, a mando de António Costa, deixou de prestar o pagamento da quota mensal devida de 4.480 euros à Assembleia Distrital de Lisboa, tendo uma dívida acumulada de 98.570 euros àquela estrutura, o que a coloca numa situação de ruptura financeira e leva a sua Comissão de Trabalhadores a denunciar que estão em causa não só os postos de trabalho como os salários dos funcionários da ADL. A este facto não será alheio o histórico de golpadas que se produziram sobre o património de muitos milhões de euros da ADL, que será alvo de um artigo autónomo a ser publicado em breve.

Ou seja, com a boca cheia de democracia e de apelos a entendimentos entre todas as forças políticas, com as afirmações que produziu no seu discurso de tomada de posse, o que António Costa poderá estar a preparar é a criação de um órgão totalmente dominado pelo PS, com uma geografia condicente com aquela que já impôs ao concelho, de forma a poder coordenar e exercer no futuro a chantagem e dominação política que mais convier ao tacticismo eleitoral do seu partido, não já e apenas sobre o concelho, mas sobre as autarquias do distrito de Lisboa que viessem a integrar a Região Especial de Lisboa, transformando tal órgão numa arma de arremesso contra os seus opositores políticos.

Por outro lado, este maquiavélico personagem, ao mesmo tempo que parece condenar PSD e CDS por apresentarem sucessivos Orçamentos de Estado eivados de inconstitucionalidades, vem, ao arrepio da constituição que assegura defender, afirmar que a ADL “…está totalmente desenquadrada da realidade autárquica existente" e, assim sendo,  e "apesar de consagrada na Constituição", não podendo ser extinta, o funcionamento da mesma devia ser  "suspenso até à próxima revisão constitucional". Esta atitude é bem reveladora do objectivo de controlar e dominar, se não todas, a esmagadora maioria das estruturas autárquicas no distrito de Lisboa.

E isto apesar de, como denuncia a Comissão de Trabalhadores da ADL, ser um manifesto atropelo à lei o que António Costa pretende fazer, isto é, não aceitar que "a participação de qualquer município do distrito na ADL não configura uma questão opcional mas sim legal", ao mesmo tempo que relembra que "os valores (a pagar) pelos municípios foram aprovados em sede de reunião da ADL".

Se isto é assim quanto a uma estrutura como a ADL que agrega cerca de 50 órgãos autárquicos – desde Câmaras e Assembleias Municipais a Juntas de Freguesia -, uma estrutura que é uma entidade supra municipal deliberativa, longe de ser controlada inteiramente por si e pelo PS como pretenderia António Costa, uma estrutura de âmbito supra municipal, se isto está também a ser assim quanto ao Órgão da Área Metropolitana de Lisboa, imagine-se como será o relacionamento e apetite de domínio e manipulação relativamente a uma Região Especial de Lisboa!

Desengane-se quem pensar que este é um comportamento isolado por parte de António Costa. O seu desprezo pela constituição, pela legalidade e, sobretudo, pelos trabalhadores e suas famílias, revela-se todos os dias, quer no despedimento de jardineiros e calceteiros, quer na pretensão de extinguir a EPUL, lançando no desemprego quase duas centenas de trabalhadores, ao mesmo tempo que captura para a sua gestão de excelência, cerca de 500 milhões de euros do património daquela empresa e propõe a criação de um fundo em parceria com os promotores e especuladores imobiliários, fundo para o qual a CML contribuiria com algumas centenas de milhões de euros, quer em terrenos, quer em património!
 

António Costa, quer com decisões deste tipo, quer com a sua política de chantagem sobre a ADL e os seus trabalhadores, quer com a sua arrogância sobre as restantes forças políticas autárquicas, seja impondo um mapeamento autárquico que não mereceu qualquer discussão política pública, ou seja numa atitude de quero, posso e mando, decidindo o futuro da colina de Santana, arrasando de um golpe património hospitalar e cultural e favorecendo a implantação, onde se localizam hospitais de referência como o S. José  o Santa Marta, o Miguel Bombarda ou os Capuchos, de condomínios de luxo, hotéis de charme e parques de estacionamento, em nada difere do comportamento exibido por PSD e CDS quando tentam impôr nas sucessivas Leis Gerais do Orçamento normas terroristas e fascistas que colidem com a constituição que juraram defender.»

3 comentários:

Anónimo disse...

Ermelinda
Nesta sua luta (compreensível) com o poder de Lisboa, que depois personalizou no presidente da câmara, perdeu a objectividade.
A questão da área metropolitana só causa duvidas ao partido comunista que gosta de adaptar os critérios à sua conveniência.
Até melhor opção, não vejo que exista melhor critério democrático que um voto por cada pessoa. Deste modo, o PS teve muitos mais votos que a CDU.
Querer dar igual importância ao Barreiro e a Lisboa, para dar 2 exemplos, é pouco razoável.
.
A atitude de birra do PCP, que quando não leva a bicicleta abandona a sala é uma aberração democratica

Minda disse...

Caro Anónimo,

A "minha luta" no que à Assembleia Distrital de Lisboa se refere,não é contra o "poder" entendido assim como "coisa nenhuma" ou uma entidade abstrata sem rosto e/ou responsáveis.
Não! É mesmo contra a arrogância, a prepotência e a as ilegalidades cometidas por uma pessoa. De seu nome António Costa, presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Que tomou uma atitude individual e se arrogou no direito de a considerar em nome da autarquia a que preside sem que os órgão competentes do município tenham emitido qualquer deliberação sobre a matéria.
Por isso, não personalizei nada. Antes pelo contrário. Acuso de inércia (por conivência passiva) os membros do órgão executivo e do deliberativo. Por saberem o que se passa e, na prática, nada fazerem.

Quanto à questão da Área Metropolitana de Lisboa considero a atitude de António Costa (e do PS, entenda-se) pouco democrática. Aliás, no Porto parece que, afinal, o entendimento foi outro e o critério que prevaleceu terá sido o que sempre foi (também em Lisboa): uma câmara, um voto.
Se fosse uma questão de princípio manteriam posição idêntica em ambos os casos, certo?
Barreiro e Lisboa não são, de facto, iguais. Mas o reflexo da sua importância em termos eleitorais já é passível de ponderar nos resultados locais e nas composições dos respetivos executivos.

Anónimo disse...

Ermelinda
Salvo erro, o Costa conseguiu os votos de todos os partidos e independentes, com exceção do PCP. Como vem sendo hábito, o PC quando não tem argumentos parte para a radicalização.
Sei que antes era um voto por câmara, mas a lei mudou e quer se goste ou não a AR serve para isso.
Agora de uma coisa pode ter a certeza, se o Pc tivesse mais votos e o PS mais câmaras, o argumento seria o oposto e no caso de perderem abandonavam a sala como fizeram.
O mesmo tipo de prepotência tem sido habitual em Almada, e esperemos para ver como vai ser na futura Assembleia municipal, quem irá ser o queijo limitando da coisa?

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