terça-feira, 1 de outubro de 2013

Breves notas sobre o desaire eleitoral do Bloco de Esquerda em Almada.


Tiveram tudo para, de facto, marcar a diferença em Almada! Mas foram esbanjando os "créditos" concedidos em 2009 pelos eleitores que neles haviam confiado (refiro-me ao partido e não propriamente aos dois candidatos que aparecem no cartaz que ilustra esta publicação) até terminarem em 2013 por hipotecar a esperança dessa gente. Fizeram uma campanha inócua e, agora, colhem os frutos do que semearam durante este mandato que findou. Será que terão a humildade suficiente para reconhecer as falhas, tentar corrigi-las e seguir em frente? A ver vamos...

Em Almada, mais uma vez, e nada que me espante, o Bloco de Esquerda recusa-se a admitir os erros cometidos em termos autárquicos (da impreparação da maioria dos seus eleitos à estratégia de mimetização face ao PCP que não resultou – os eleitores preferem sempre, e bem, o original a uma má cópia) e já se apressou a arranjar “bodes expiatórios” para as suas falhas e a desvalorizar as conquistas dos outros, transformando tudo numa espécie de referendo nacional às políticas do governo e esquecendo, deliberadamente, que estas foram eleições locais. Tentam, assim, minorar o desastre que foram os resultados autárquicos neste concelho onde perderam um lugar na vereação e outro na Assembleia Municipal.

Em Almada, não nos podemos esquecer que apenas 32% do total de eleitores inscritos expressou validamente o seu voto. Ou seja, de 149.500 eleitores, 68% (repito: 68%) decidiram abster-se, votar em branco ou anular o voto. E isto, quer se queira ou não, é gravíssimo e deveria merecer uma profunda reflexão de todos os partidos pois pode constituir uma séria ameaça ao regime democrático, tal como o conhecemos.

Além do mais, esta situação ensombra qualquer vitória, mesmo a da CDU que, há que reconhecer (e eu já aqui o admiti publicamente, dirigindo-lhe os parabéns), foi a grande vencedora destas eleições.

Mas é bom que percebamos, também, que isso aconteceu não por obtenção de mais votos (e a CDU, ao contrário do que aconteceu a nível nacional, em Almada perdeu, em média, 17% de votos em relação a 2009) – considerando apenas a votação para os órgãos municipais: a CDU teve menos 4.055 votos para a CM e menos 4.949 para a AM – mas porque o seu eleitorado é dos mais fiéis e cumpridores no que ao dever de cidadania diz respeito, enquanto os votantes dos outros partidos flutuam mais facilmente entre o voto expresso e a abstenção. Porquê? Há que analisar a questão friamente e o rescaldo das eleições não será o momento mais adequado para o fazer.

A hecatombe que caiu sobre o CDS (na freguesia da Costa da Caparica teve menos 75% de votos do que em 2009 e perdeu, em média, 60% do seu eleitorado nas restantes) só teve paralelo, estranhamente, não no PSD (que também diminuiu significativamente como era esperado), mas no Bloco de Esquerda que foi o partido que, a seguir, mais eleitores perdeu em Almada: 41% na CM e 45% na AM, sendo evidente que não só não conseguiu capitalizar o descontentamento face às políticas do Governo como recebeu ele próprio, em contrapartida, um enorme cartão vermelho pelo péssimo desempenho dos seus autarcas no mandato findo (excluo, desta conclusão, os autarcas eleitos no mandato 2009-2013 nas freguesia) e pela forma indiferente, assaz hipócrita nalgumas situações, com que sempre se escusaram a explicar, de forma objetiva e fundamentada, as razões para a inversão do caminho proposto no programa eleitoral sufragado em 2009.

Esta é uma verdade insofismável (43%, em média, de perda de votos) e os dirigentes bloquistas concelhios devem dela tirar as devidas ilações, o que, temo, não venha a acontecer pois ao que tudo indica pelo teor das escassas intervenções que se vão conhecendo preferem continuar a apostar na tese dos prejuízos causados por terceiros: os tais que apelidam de "renegados" (entre os quais me incluem, como é óbvio, por ter renunciado aos mandatos autárquicos em 2010 e saído do BE em 2011) tentando assim livrar a sua própria responsabilidade pela "casaca" que, eles sim, "viraram" ao trair quem em 2009 acreditara que iriam fazer a diferença na oposição à gestão municipal da CDU com quem, afinal, acabaram parceiros.


Os eleitores perceberam, sentiram-se traídos e isso pagou-se caro: custou, expressamente, menos 2.305 votos na CM e menos 3.153 na AM. Votos que terão ido direitinhos, na sua esmagadora maioria, para a abstenção pois que se todos os partidos desceram em número de votantes isso só pode significar, presumo, que não terá havido deslocação para outros partidos.

1 comentário:

Augusto disse...

È verdade o que diz , só que parece que o candidato que apoiou o PS, teve um resultado RIDICULO.

A candidatura do PS foi muito pouco credível, por isso estranho que a tenha apoiado.

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