Esta era a nota de primeira página do Jornal de Notícias de ontem. E, na página 8, insistiam: «PSD quer tirar 68 mil pessoas da Administração Publica», embora já se dignassem acrescentar uma explicação em subtítulo: «Regra cinco por um provocará emagrecimento de 13,2%. Sindicatos apontam rupturas de serviços.»
Acontece, porém, que aquela epígrafe é um logro. É que, como depois até se acaba por perceber pela leitura do texto do artigo (valha-nos isso), este número refere-se aos lugares que, supostamente, o PSD não pretende venham a ser ocupados na sequência da saída previsível (face à situação dos últimos meses) de trabalhadores para a reforma.
Ora, que eu saiba, não estão aqui em causa despedimentos. Não se trata de mandar para o desemprego 68.000 mil funcionários públicos. Portanto, embora na prática acabe por ser uma efectiva redução de postos de trabalho, é substancialmente diferente do acto de despedir quem ainda está na vida activa.
Na minha opinião, trata-se do uso abusivo de um slogan para causar impacto e captar a atenção levando à compra do jornal. É, de facto, o vale tudo em nome de critérios economicistas descurando a ética jornalística.
Sabendo nós que muitos leitores têm por hábito apenas "ler as gordas", alguém terá pensado que, desta forma (que reputo de irresponsável), acabou por fazer passar uma mensagem errada? Terá sido intencional? E colar o nome, com fotografia e tudo, do novo Ministro das Finanças, acusando-o de ser o culpado pelo acontecimento, é ainda mais condenável.
É caso para perguntar: que raio de jornalismo é este?
Quanto à intenção do Governo de só deixar entrar um trabalhador por cada cinco que saiam, reduzindo bruscamente o número de efectivos, é mais uma daquelas medidas cegas, mal pensadas, e que revela uma perigosa obsessão pela apresentação imediata de propostas que visem reduzir a despesa pública (para mostrar que Portugal é, afinal "um bom aluno" e vai cumprir "à risca" e acima das expectativas a lição do mestre, neste caso a troika). Mas a pressa faz com que as implementem sem pensar nas consequências que poderão daí advir: a ruptura de alguns sectores por acumulação excessiva de serviço, em virtude de não haver quem cumpra as tarefas que se vão acumular e causar sérios constrangimentos. Não será assim em todos os departamentos (nalguns não fará mesmo diferença nenhuma que assim seja), mas outros irão mesmo ter sérias dificuldades de funcionamento.
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