domingo, 18 de fevereiro de 2018

CDU em Almada - Mitomania e falta de seriedade!



Nunca em Almada uma assembleia municipal gerara tanta atenção na comunicação social (Público e Expresso, só para citar um jornal diário e um semanário), multiplicando-se os comentários na blogosfera e nas redes sociais.
Depois da reunião extraordinária de fevereiro, com uma animada 1.ª sessão no dia 8 mas que apenas captou o interesse local, a 2.ª sessão foi bastante mais animada com um “período de intervenção dos cidadãos” a evidenciar a hipocrisia populista da CDU e o pedantismo moralista do BE e um “período da ordem do dia” que colocou em destaque a mesquinhez política da CDU que não olha a meios para atingir os fins a que se propõe.
Mas foi a reação da presidente da autarquia Inês de Medeiros às ofensas do deputado municipal da CDU José Lourenço, e as declarações polémicas que fez sobre um exemplo de gestão danosa do anterior executivo que acabaram alimentando uma semana de notícias na imprensa e até motivaram um comunicado da CDU supostamente para esclarecer aquilo que calaram no plenário autárquico em causa.
E repescamos uma nota à imprensa que a CDU emitiu no dia 1 de fevereiro, após a entrevista da presidente à SIC Notícias e que fazia anteceder o que acabou por acontecer uma semana mais tarde naquela sexta-feira:
«Na entrevista apresentada como “primeiro balanço em exclusivo” sobre os quatro meses decorridos desde a sua vitória eleitoral, a CDU/Almada regista em particular o facto da Presidente da Câmara Municipal de Almada ter insistido na estratégia de mentira e mistificação sobre a situação financeira da Câmara Municipal no momento em que assumiu a presidência, uma estratégia que a atual maioria PS/PSD que governa o Município vem seguindo desde o início do atual mandato. (…)
Essas razões são uma tentativa para disfarçar a aliança que o PS fez com o PSD em Almada, aliança que a própria Inês de Madeiros qualifica nos documentos provisionais do Município para 2018 como uma “visão programática concertada” entre os dois partidos, procurando assim justificar para dentro do seu partido, o PS, e junto dos portugueses em geral, a incompreensível opção política por ensaiar o renascimento do famigerado “bloco central” que está a pôr em prática no Município de Almada.»
AMNÉSIA HIPÓCRITA
Só uma pequena nota acerca do parágrafo acima, que mais parece conversa de cônjuge despeitado. Será que a CDU já esqueceu os “acordos de governo partilhado” que por mandatos sucessivos fazia com o PSD nas freguesias do concelho de Almada sempre que não tinha maioria absoluta? Foi esse, por exemplo, o caso de Cacilhas, uma solução de compromisso que nunca foi sufragada nas urnas pelos cacilhenses. Se PS+PSD no executivo municipal é uma “incompreensível opção política” o que chamar à solução CDU+PSD no executivo da freguesia?
Como já muito se disse e escreveu sobre o estranho negócio do arrendamento de uma quinta onde a autarquia se encontra impedida de entrar porque nem as chaves do portão ou da casa sequer tem (embora desde a celebração do contrato em 2016 até ao presente já tenha pago 300 mil euros ao seu proprietário pelo arrendamento do espaço), vamos hoje comentar outros aspetos de algumas intervenções ocorridas na sessão da Assembleia Municipal de Almada no passado dia 9 de fevereiro.
Comecemos então pelo período de intervenção do público e com as palavras de Pedro Rebelo, trabalhador dos SMAS e delegado do STAL:
«Atualmente, nas três instituições do município [câmara municipal, serviços municipalizados e empresa municipal], os trabalhadores vêm-se confrontados com a tentativa de condicionamento destes direitos de que não abdicam, facto demonstrado pela resolução aprovada em plenário geral, por unanimidade, na defesa dos direitos que são seus.»
ESQUECIMENTO CONVENIENTE
Que tentativas de condicionamento são aquelas? Pois, Pedro Rebelo não identificou nenhuma em concreto! E sobre o conteúdo do comunicado do seu sindicato onde este acusava o novo concelho de administração dos SMAS de “dispensar” uma trabalhadora (dizendo expressamente que não podiam ficar indiferentes a esse despedimento) e que levou à acusação de em Almada estarem a fazer “saneamentos políticos” por a pessoa em causa ser autarca da CDU na assembleia municipal. Pois, sobre esta matéria, também nada foi dito.
E o que dizer da intervenção do deputado do Bloco de Esquerda Carlos Guedes?
«Nós temos assistido, desde a tomada de posse, a uma disputa que não é calada porque é visível e é factual, entre a CDU e o PS, a CDU e o atual executivo e a única coisa que nós queremos deixar claro é que não coloquem os trabalhadores no meio desta disputa.
Acima de tudo, os direitos de quem trabalha para esta autarquia devem ser assegurados e nós não podemos ouvir da boca de um representante sindical que há uma tentativa de condicionamento de direitos dos trabalhadores e ficar calados.»
PEDANTISMO MORALISTA
Não coloquem os trabalhadores no meio desta disputa? Pelos vistos o BE considera que o PS deveria calar as ilegalidades que a CDU cometeu na gestão do pessoal cabendo-lhe a sua correção e quiçá a assunção do ónus da culpa por atos praticados pelo anterior executivo. Mas cá está o BE, acima de uns e de outros, moralmente superior a estas questiúnculas politiqueiras, para se preocupar com os trabalhadores… embora alerte que não é sindicato (ou seja: vejam se recorrem a outros para solucionar os vossos problemas).
Não podem ficar calados? Mas acabaram por ficar já que nada mais disseram sobre o assunto. Nem uma única pergunta exigindo esclarecimentos sobre os alegados condicionamentos de que os trabalhadores estavam a ser alvo. Assim como nem uma palavra sobre a situação dos precários na autarquia ou nos SMAS.
Uma atitude que me faz pensar se este comportamento não se tratará apenas do reflexo da velha postura do BE em Almada que me fez afastar da política partidária em 2010: denunciar as más práticas da CDU na gestão autárquica é dar armas à direita. Por isso, o melhor é “não fazer ondas”. Porque, não tenhamos ilusões, para o BE local o PS continuará a ser “o inimigo” e a CDU, por mais asneiras que faça, será sempre “a esquerda” com quem gostariam de partilhar o governo de Almada.
Passemos às declarações de João Geraldes sobre a existência de precários no município. Seria anedota se a situação não fosse tão trágica pelo envolvimento de dezenas de trabalhadores que durante anos tiveram a sua vida suspensa com vínculos irregulares por ação direta do anterior executivo CDU.
«Nós sempre fomos contra o trabalho precário. Nós sempre fomos contra a necessidade de recorrer a situações de trabalho precário para satisfazer necessidades permanentes.
Simplesmente foi a lei do país, foi a lei que o PS, o PSD e o CDS impuseram ao país que nos obrigaram e obrigaram a generalidade das autarquias a seguir uma via que não é a via que as autarquias defendem. (…)
Portanto, é preciso ter “sentido de Estado” relativamente a estas matérias e é preciso ser sério quando se fazem as afirmações que se fazem.»
POPULISMO DEMAGOGO
Mas é, sobretudo, muito descaramento e falta de ética como já aqui escrevi. Acrescentando, devo ainda esclarecer que o problema dos precários em Almada já vem muito antes da troica: 2008, 2009, 2010, só para citar algumas denúncias feitas à época. Todavia, como é óbvio, convém abafar as situações contanto com a fraca memória do eleitorado e, principalmente, com a fraqueza que o órgão deliberativo sempre demonstrou enquanto órgão colegial fiscalizador da atividade do executivo.
Pergunto-me se entre estes precários que agora foram identificados (cerca de cinco dezenas), estarão também aquelas situações que poderão ser classificadas como “favores a camaradas, amigos e/ou familiares”: contratos de prestação de serviços, adjudicados por ajuste direto, alegadamente por “ausência de recursos próprios” (apesar de, como se explicou no artigo de dia 11 de fevereiro a câmara não estar impedida de contratar pessoas para integrar o seu mapa de pessoal) como serão os casos dos juristas Anabela Respeita e Luís Corceiro Mendes, contratados por essa via, todos com ligações públicas e notórias à CDU.
Depois de João Geraldes, foi a vez de José Lourenço, ter uma intervenção “de meter dó” e que daria para rir às gargalhadas não fosse tão triste a figura que fez (sinceramente não sei como alguém se sujeita a tal vergonha).
«Perante esta situação [diminuição das transferências do Estado] já percebemos que o que o atual executivo faria seria reduzir o número de trabalhadores, cortar nas despesas com pessoal, cortar nos apoios sociais às escolas e ao movimento associativo e cortar no investimento. (…)
Percebe-se agora, perante o enorme desafio que se coloca ao atual executivo … ele optou por um outro caminho para si mais fácil: o da propaganda e o da calúnia, esperando desta forma conseguir levar a água ao seu moinho. (…)
Eu usei a expressão mentira a propósito da questão do desemprego. E sei o que estou a dizer. O Ministério do Trabalho não tem dados, não faz inquéritos, sobre o desemprego. Desculpem. Eu sei do que estou a falar. (…)
Aquilo que a senhora presidente, quando eu digo que não há dados sobre Almada e que a presidente está a mentir, eu uso esta expressão forte (peço desculpa se há pessoas que ficam ofendidas) … Porque eu acho que dizer aqui que a área metropolitana, que na área metropolitana, Almada é quem tem o desemprego mais alto quando isso não é verdade, só pode ser considerado mentira.»
MITOMANIA E FALTA DE SERIEDADE
A intervenção de José Lourenço, indefetível militante comunista – daqueles que só consegue visualizar aquilo que o partido o deixa ver – é de pura ignorância, como demonstrei no artigo do passado dia 16 por isso não vale a pena desmascarar de novo as mentiras que insistia em afirmarem ser verdade.
José Lourenço, em representação da CDU, excedeu todos os limites do bom senso. Em democracia, não vale tudo e aquela foi a prova da desonestidade intelectual que o PCP usa no combate político. Uma vergonha!
Por isso, não deixam de ser ridículas as reações, quais “virgens ofendidas”, daqueles que nas redes sociais se têm insurgido contra a presidente da câmara Inês de Medeiros e lambuzando-se numa pretensa honestidade intelectual que dizem ela não ter, vêm afirmar que “o povo está farto de políticos mentirosos”. Ah, pois, está… a começar pelos da CDU em Almada que se permitem dar espetáculos de tão baixo nível na assembleia municipal e que só contribuem para desprestigiar aquele órgão autárquico.
E tudo porque Inês de Medeiros se referiu ao escandaloso contrato de arrendamento no valor de 200 mil euros/ ano que a CDU celebrou como sendo o de uma “casa” quando era uma “quinta” da qual a autarquia nem sequer a chave possui e que até à data só serviu para retirar dinheiro dos cofres do município e colocá-lo na conta da família Elvas a troco de coisa nenhuma. Um contrato que é bom lembrar foi celebrado de forma irregular, à revelia do órgão autárquico.

Por este andar, a reunião ordinária de Abril da Assembleia Municipal de Almada, onde se vão apreciar o relatório de atividades e as contas do ano de 2017, vão ser uma novela a não perder.

1 comentário:

Anónimo disse...

José Lourenço outro com reforma de milionário.

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