Nunca
em Almada uma assembleia municipal gerara tanta atenção na comunicação social (Público e Expresso, só para citar um jornal diário e um semanário), multiplicando-se
os comentários na blogosfera e nas redes sociais.
Depois
da reunião extraordinária de fevereiro, com uma animada 1.ª sessão no
dia 8
mas que apenas captou o interesse local, a 2.ª sessão foi bastante mais animada
com um “período de
intervenção dos cidadãos” a evidenciar a hipocrisia populista da CDU e o pedantismo
moralista do BE e um “período da
ordem do dia” que colocou em destaque a mesquinhez política da CDU que não
olha a meios para atingir os fins a que se propõe.
Mas
foi a reação da presidente da autarquia Inês de
Medeiros às ofensas do deputado municipal da CDU José Lourenço, e as
declarações polémicas que fez sobre um exemplo de
gestão danosa do anterior executivo que acabaram alimentando uma semana de notícias na imprensa e até
motivaram um comunicado da
CDU
supostamente para esclarecer aquilo que calaram no plenário autárquico em
causa.
E
repescamos uma nota à
imprensa que a CDU emitiu no dia 1 de fevereiro, após a entrevista da
presidente à SIC Notícias e que fazia anteceder o que acabou por acontecer uma semana mais
tarde naquela sexta-feira:
«Na entrevista apresentada como “primeiro balanço em exclusivo”
sobre os quatro meses decorridos desde a sua vitória eleitoral, a CDU/Almada
regista em particular o facto da Presidente da Câmara Municipal de Almada ter
insistido na estratégia de mentira e mistificação sobre a situação financeira
da Câmara Municipal no momento em que assumiu a presidência, uma estratégia que
a atual maioria PS/PSD que governa o Município vem seguindo desde o início do
atual mandato. (…)
Essas razões são uma tentativa para disfarçar a aliança que o PS
fez com o PSD em Almada, aliança que a própria Inês de Madeiros qualifica nos
documentos provisionais do Município para 2018 como uma “visão programática
concertada” entre os dois partidos, procurando assim justificar para dentro do
seu partido, o PS, e junto dos portugueses em geral, a incompreensível opção
política por ensaiar o renascimento do famigerado “bloco central” que está a
pôr em prática no Município de Almada.»
AMNÉSIA
HIPÓCRITA
Só
uma pequena nota acerca do parágrafo acima, que mais parece conversa de cônjuge
despeitado. Será que a CDU já esqueceu os “acordos de governo partilhado” que
por mandatos sucessivos fazia com o PSD nas freguesias do concelho de Almada
sempre que não tinha maioria absoluta? Foi esse, por exemplo, o caso de
Cacilhas, uma solução de compromisso que nunca foi sufragada nas urnas pelos
cacilhenses. Se PS+PSD no executivo municipal é uma “incompreensível opção
política” o que chamar à solução CDU+PSD no executivo da freguesia?
Como
já muito se disse e escreveu sobre o estranho negócio do arrendamento de uma
quinta onde a autarquia se encontra impedida de entrar porque nem as chaves do
portão ou da casa sequer tem (embora desde a celebração do contrato em 2016 até
ao presente já tenha pago 300 mil euros ao seu proprietário pelo arrendamento
do espaço), vamos hoje comentar outros aspetos de algumas intervenções ocorridas
na sessão da Assembleia Municipal de Almada no passado dia 9 de fevereiro.
Comecemos
então pelo período de
intervenção do público e com as palavras de Pedro Rebelo, trabalhador dos SMAS e delegado
do STAL:
«Atualmente, nas três instituições do município [câmara
municipal, serviços municipalizados e empresa municipal], os trabalhadores vêm-se confrontados com a tentativa de
condicionamento destes direitos de que não abdicam, facto demonstrado pela
resolução aprovada em plenário geral, por unanimidade, na defesa dos direitos
que são seus.»
ESQUECIMENTO CONVENIENTE
Que
tentativas de condicionamento são aquelas? Pois, Pedro Rebelo não identificou
nenhuma em concreto! E sobre o conteúdo do comunicado do
seu sindicato onde este acusava o novo concelho de administração dos SMAS de
“dispensar” uma trabalhadora (dizendo expressamente que não podiam ficar
indiferentes a esse despedimento) e que levou à acusação de em Almada estarem a
fazer “saneamentos políticos” por a pessoa em causa ser autarca da CDU na
assembleia municipal. Pois, sobre esta matéria, também nada foi dito.
E o que dizer
da intervenção do deputado do Bloco de Esquerda Carlos Guedes?
«Nós temos assistido, desde a tomada de posse, a uma disputa que
não é calada porque é visível e é factual, entre a CDU e o PS, a CDU e o atual
executivo e a única coisa que nós queremos deixar claro é que não coloquem os
trabalhadores no meio desta disputa.
Acima de tudo, os direitos de quem trabalha para esta autarquia
devem ser assegurados e nós não podemos ouvir da boca de um representante
sindical que há uma tentativa de condicionamento de direitos dos trabalhadores
e ficar calados.»
PEDANTISMO MORALISTA
Não coloquem
os trabalhadores no meio desta disputa? Pelos vistos o BE considera que o PS
deveria calar as ilegalidades que a CDU cometeu na gestão do pessoal
cabendo-lhe a sua correção e quiçá a assunção do ónus da culpa por atos
praticados pelo anterior executivo. Mas cá está o BE, acima de uns e de outros,
moralmente superior a estas questiúnculas politiqueiras, para se preocupar com
os trabalhadores… embora alerte que não é sindicato (ou seja: vejam se recorrem
a outros para solucionar os vossos problemas).
Não podem
ficar calados? Mas acabaram por ficar já que nada mais disseram sobre o assunto.
Nem uma única pergunta exigindo esclarecimentos sobre os alegados
condicionamentos de que os trabalhadores estavam a ser alvo. Assim como nem uma
palavra sobre a situação dos precários na autarquia ou nos SMAS.
Uma atitude que
me faz pensar se este comportamento não se tratará apenas do reflexo da velha
postura do BE em Almada que me fez
afastar da política partidária em 2010: denunciar as más práticas da CDU na gestão autárquica é dar
armas à direita. Por isso, o melhor é “não fazer ondas”. Porque, não tenhamos
ilusões, para o BE local o PS continuará a ser “o inimigo” e a CDU, por mais
asneiras que faça, será sempre “a esquerda” com quem gostariam de partilhar o
governo de Almada.
Passemos às
declarações de João Geraldes
sobre a existência de precários no município. Seria anedota se a situação não
fosse tão trágica pelo envolvimento de dezenas de trabalhadores que durante
anos tiveram a sua vida suspensa com vínculos irregulares por ação direta do
anterior executivo CDU.
«Nós sempre fomos contra o trabalho precário. Nós sempre fomos
contra a necessidade de recorrer a situações de trabalho precário para
satisfazer necessidades permanentes.
Simplesmente foi a lei do país, foi a lei que o PS, o PSD e o CDS
impuseram ao país que nos obrigaram e obrigaram a generalidade das autarquias a
seguir uma via que não é a via que as autarquias defendem. (…)
Portanto, é preciso ter “sentido de Estado” relativamente a estas
matérias e é preciso ser sério quando se fazem as afirmações que se fazem.»
POPULISMO DEMAGOGO
Mas é,
sobretudo, muito descaramento e falta de ética como já aqui
escrevi. Acrescentando, devo ainda esclarecer que o problema dos
precários em Almada já vem muito antes da troica: 2008, 2009, 2010, só para
citar algumas denúncias feitas à época. Todavia, como é óbvio, convém abafar as
situações contanto com a fraca memória do eleitorado e, principalmente, com a
fraqueza que o órgão deliberativo sempre demonstrou enquanto órgão colegial
fiscalizador da atividade do executivo.
Pergunto-me
se entre estes precários que agora foram identificados (cerca de cinco dezenas),
estarão também aquelas situações que poderão ser classificadas como “favores a
camaradas, amigos e/ou familiares”: contratos de prestação de serviços,
adjudicados por ajuste direto, alegadamente por “ausência de recursos próprios”
(apesar de, como se explicou no artigo de dia
11 de fevereiro a câmara não estar impedida de contratar pessoas para integrar o
seu mapa de pessoal) como serão os casos dos juristas Anabela
Respeita e Luís
Corceiro Mendes, contratados por essa via, todos com ligações públicas e
notórias à CDU.
Depois de
João Geraldes, foi a vez de José Lourenço, ter uma intervenção “de meter dó” e que
daria para rir às gargalhadas não fosse tão triste a figura que fez
(sinceramente não sei como alguém se sujeita a tal vergonha).
«Perante esta situação [diminuição das transferências do Estado] já percebemos que o que o atual executivo faria seria reduzir o número
de trabalhadores, cortar nas despesas com pessoal, cortar nos apoios sociais às
escolas e ao movimento associativo e cortar no investimento. (…)
Percebe-se agora, perante o enorme desafio que se coloca ao atual
executivo … ele optou por um outro caminho para si mais fácil: o da propaganda
e o da calúnia, esperando desta forma conseguir levar a água ao seu moinho. (…)
Eu usei a expressão mentira a propósito da questão do desemprego.
E sei o que estou a dizer. O Ministério do Trabalho não tem dados, não faz
inquéritos, sobre o desemprego. Desculpem. Eu sei do que estou a falar. (…)
Aquilo que a senhora presidente, quando eu digo que não há dados
sobre Almada e que a presidente está a mentir, eu uso esta expressão forte
(peço desculpa se há pessoas que ficam ofendidas) … Porque eu acho que dizer
aqui que a área metropolitana, que na área metropolitana, Almada é quem tem o
desemprego mais alto quando isso não é verdade, só pode ser considerado
mentira.»
MITOMANIA E FALTA DE SERIEDADE
A intervenção
de José Lourenço, indefetível militante comunista – daqueles que só consegue visualizar
aquilo que o partido o deixa ver – é de pura ignorância, como demonstrei no artigo
do passado dia 16 por isso não vale a pena desmascarar de novo as mentiras
que insistia em afirmarem ser verdade.
José
Lourenço, em representação da CDU, excedeu todos os limites do bom senso. Em
democracia, não vale tudo e aquela foi a prova da desonestidade intelectual que
o PCP usa no combate político. Uma vergonha!
Por isso, não
deixam de ser ridículas as reações, quais “virgens ofendidas”, daqueles que nas
redes sociais se
têm insurgido contra a presidente da câmara Inês de Medeiros e lambuzando-se
numa pretensa honestidade intelectual que dizem ela não ter, vêm afirmar que “o
povo está farto de políticos mentirosos”. Ah, pois, está… a começar pelos da
CDU em Almada que se permitem dar espetáculos de tão baixo nível na assembleia
municipal e que só contribuem para desprestigiar aquele órgão autárquico.
E tudo porque
Inês de Medeiros se referiu ao escandaloso contrato de arrendamento no valor de
200 mil euros/ ano que a CDU celebrou como sendo o de uma “casa” quando era uma
“quinta” da qual a autarquia nem sequer a chave possui e que até à data só serviu
para retirar dinheiro dos cofres do município e colocá-lo na conta da família
Elvas a troco de coisa nenhuma. Um
contrato que é bom lembrar foi celebrado de forma irregular, à revelia do
órgão autárquico.
Por este
andar, a reunião ordinária de Abril da Assembleia Municipal de Almada, onde se
vão apreciar o relatório de atividades e as contas do ano de 2017, vão ser uma
novela a não perder.
1 comentário:
José Lourenço outro com reforma de milionário.
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