«Foram precisos três minutos e
meio até que se fizesse silêncio e a carrinha parasse finalmente, mesmo à
entrada do largo e a tempo de evitar o pior. Quando a primeira porta se abriu,
saiu de lá de dentro um cão, meio atordoado. Eu estava do lado oposto da Ford
Transit, a tentar algemar o condutor, quando um dos meus colegas me gritou:
“Ernano, temos um atingido.” Larguei o homem algemado no chão, dei a volta à
carrinha e vi o rapaz pela primeira vez. Era alto, parecia ter uns 16 ou 17
anos. Estava deitado no chão e não havia vestígios de sangue. Ainda estava
consciente. Algumas horas depois a televisão anunciava: “Morreu o menor
atingido numa perseguição policial em Santo Antão do Tojal.” Fechei os olhos,
engoli várias vezes em seco e precisei de suster a respiração. Deixei de me
sentir.»
A 11 de Agosto de 2008, a vida do
agente da GNR Hugo Ernano mudou para sempre. A sua consciência e sentido de
dever diziam-lhe que tinha de parar a carrinha que acelerava à frente do
carro-patrulha onde seguia. A alguns metros de distância, no Largo da Igreja,
em Santo Antão do Tojal, havia crianças a brincar e o condutor da carrinha
parecia não olhar a meios para fugir da polícia depois de ter cometido um
assalto.
Hugo Ernano optou por disparar
para os pneus da carrinha para a imobilizar, mas uma bala perdida ditou o seu
destino ao atingir um jovem. A partir desse momento tudo mudou: foi afastado do
serviço, ameaçado de morte, julgado por homicídio qualificado e condenado em
primeira instância a uma pena efectiva de 9 anos de prisão bem como ao
pagamento de uma indemnização de 80 mil euros aos pais da criança.
Mas como compreender a condenação
de um polícia cuja actuação teve como objectivo defender os cidadãos?
Como se explica que se pague uma
indemnização a um pai que levou o próprio filho para um assalto?
Será que nos podemos sentir
seguros, quando um polícia é condenado por ter cumprido o seu dever e evitado
uma desgraça maior?
Até que ponto um polícia pode
usar a sua arma de fogo em serviço?
Estas são algumas das questões
que nos colocamos ao ler este relato impressionante do guarda Hugo Ernano, que,
na primeira pessoa, nos apresenta a sua visão dos factos sobre um caso que não
deixa ninguém indiferente.»
Sinopse do livro Bala
Perdida, de Hugo Ernano e Rosa Ramos (editado em setembro de 2015)
«»«»«»«»
«Hugo Ernano é um militar da GNR,
tem 37 anos, é pai de uma menina com 11 anos e de um menino com 3 anos. A sua
esposa recebe apenas o ordenado mínimo (530€).
Ao que parece, para o Estado
português, como Hugo Ernano, (que está suspenso até ao final do ano e a ganhar
apenas ⅓ do seu ordenado) recebeu 16,38 euros no mês de junho e 149 euros no
mês de julho, não cumpre os requisitos para que lhe seja reconhecida
insuficiência económica. E como não consegue arranjar um atestado em que conste
que está mesmo a viver com insuficiência económica, tal facto impossibilita o
jornal Correio da Manhã de criar uma conta solidária para angariar apoio para o
Hugo Ernano e família.
Mais uma vez, este militar da GNR
está a ser injustiçado, pois até os aspectos burocráticos o impedem de ser
ajudado. O Correio da Manhã pretendia ajudá-lo, mas está a ser impedido por
questões burocráticas. Realmente o militar em questão foi suspenso por oito
meses com corte de dois terços do salário de 850€. Neste momento, teria que
estar a receber 283 €/mês mas, apesar disso, ainda lhe foram aplicados
descontos de um empréstimo para a defesa judicial e dos descontos para a Caixa
Geral de Aposentações. Mas se ele se encontrava em serviço quando tudo
aconteceu, não deveria ter sido a própria instituição (GNR) a pagar a sua
defesa?»
Leia a notícia (de 16-08-2016) completa
AQUI.
«»«»«»«»
Quando a injustiça vem da própria
Justiça, há que questionar sobre que Estado de direito é o nosso. Que a nossa
indignação seja livre e publicamente expressa. E façamos da solidariedade mais
do que uma simples palavra de conforto.
Assine a petição pela revisão do processo de
Hugo Ernano.
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