quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Carta aberta à Chanceler Merkel. Eu já assinei!



Caras/os amigas/os,

Junto enviamos uma carta aberta à Chanceler Merkel que foi hoje [07-11-2012] entregue em mão ao seu chefe de gabinete.
Estamos a trabalhar na versão alemã do texto e tentaremos publicar esta carta num jornal alemão, depois de ter recolhido assinaturas de cidadãos portugueses até ao final desta semana. Caso deseje assinar, terá de preencher o formulário que se encontra online aqui até sexta-feira às 11h00.
E não hesite em divulgar!
Abraço,

Marta Loja Neves



Exma. Sra. Chanceler Merkel,

Escrevemos-lhe em antecipação da sua visita oficial a Portugal no próximo dia 12 de Novembro. No programa dessa visita há uma oportunidade perdida: a Sra. Chanceler vai falar com quem já concorda com as suas políticas. E mais ninguém.

Julgamos poder afirmar que a maioria dos portugueses discorda das suas políticas e poderia ter consigo uma conversa honesta e para si instrutiva acerca do que se está a passar no nosso país e na Europa.

Uma das primeiras coisas que lhe poderíamos explicar é como Portugal perdeu, só no último ano, 22 mil milhões de euros em depósitos bancários — mais do que aquilo que agora é obrigado a cortar em despesas sociais. Mas há mais: em transferências de capitais, Portugal perdeu pelo menos 70 mil milhões de euros desde o início da crise. Se este número faz lembrar alguma coisa é porque ele é praticamente igual ao montante do resgate ao nosso país. O que isto significa é que a insolvência de Portugal é, em primeiro lugar, o resultado das insuficiências das lideranças europeias e de gravíssimos defeitos na construção da moeda única.

Portugal tinha à partida problemas e insuficiências. Os cidadãos portugueses sabem disso melhor do que ninguém. É por isso que lhe podemos dizer: as políticas atuais agravam os nossos problemas e impedem-nos de os resolver. Quanto mais prolongadas estas medidas de austeridade forem, mais irreversíveis serão os seus efeitos negativos. É por saberem isso, por verem isso no seu quotidiano, que os portugueses estão angustiados e indignados. Talvez no seu breve percurso por Portugal possa ver que muitos de nós pusemos panos negros nas nossas janelas. A razão é muito simples: estamos de luto.

Estamos de luto pelo nosso país. A Sra. Chanceler virá entregar a cem jovens portugueses bolsas de estudo na Alemanha. Deveria saber a Sra. Chanceler que os portugueses vêem como uma tragédia que a nossa juventude, a geração mais formada da nossa história, em que tanto investimos e de que tanto orgulho temos, está a abandonar em massa o nosso país por causa das políticas que a Sra. Chanceler foi impondo. Esta sua ação é vista como mais um incentivo para a fuga de cérebros de que tanto precisamos para a reconstrução do nosso país. A maioria dos portugueses não entende como é possível que não se procure criar condições para que os milhares de jovens licenciados que fogem de Portugal todos os anos queiram voltar para ficar.

Tal como também se vive aqui como uma provocação a Sra. Chanceler vir acompanhada de empresários alemães, com o propósito de fazerem negócios proveitosos para o seu país, mas desastrosos para o nosso que vê todos os dias nas notícias o seu património a ser privatizado para lucro de todos menos do povo português.

E estamos de luto também pela Europa. O grau de distanciamento e recriminação entre os povos e os países da União é estarrecedor, tendo em conta a trágica história do nosso continente. Desafiamo-la a reconhecer, Sra. Chanceler, que cometeu um grave erro ao ter recorrido a generalizações enganadoras sobre os povos do Sul da Europa — ao mesmo tempo que condenamos as expressões de sentimento anti-alemão que mancham o discurso público, onde quer que apareçam. As nossas nações europeias, todas elas históricas, são diversas entre si mas iguais em dignidade. Todas devem ser respeitadas e todas têm um papel a desempenhar na União.

Cara Sra. Chanceler, esta loucura deve parar. A Europa volta a estar dividida ao meio, não por uma cortina de ferro, mas por uma cortina de incompreensão, de inflexibilidade e de irrazoabilidade. Estamos disponíveis, enquanto seus concidadãos europeus, a abrir um verdadeiro debate transparente e participado sobre a saída desta crise e o nosso futuro comum, para que possamos fazer na nossa Europa uma União mais democrática, mais responsável, mais fraterna — e com mais futuro.

Mude o programa da sua visita a Portugal. Fale com quem não concorda consigo. Use esta visita como um momento de aprendizagem. Use a aprendizagem para mudar de rumo.

Com os nossos cordiais cumprimentos,

Redatores/primeiros signatários:
Rui Tavares
Viriato Soromenho Marques
André Barata
Elísio Estanque
José Vítor Malheiros
Nuno Artur Silva
Ana Benavente
Marta Loja Neves
José Reis
Ana Matos Pires
André Teodósio
Ricardo Alves
Patrícia Cunha França
Geiziely Glícia Fernandes
Vera Tavares
António Loja Neves
Ricardo Alves
Paula Gil
João MacDonald
Evalina Dias
Miguel Real

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