quarta-feira, 3 de março de 2010

Economia nacional versus economia local

A economia nacional e o desenvolvimento socioeconómico dependem de vários factores externos (exógenos) e internos (endógenos), essencialmente de matérias-primas próprias, como o combustível, a energia e a agricultura, produtos raros exportáveis, variando consoante a sua existência ou ausência, e ainda do mercado de valores - factor chave do sistema capitalista de mercado.

Sendo que a economia nacional depende da global, principalmente da indústria petrolífera e de produtos externos, ela pode recorrer a mecanismos de maximização da auto-suficiência energética e de matérias-primas próprias, recolhendo a mais-valia de recursos autóctones como o sol, o mar, a floresta e o subsolo. E que investimentos tem havido nestas áreas? Penso que saberão a resposta: ficam aquém do espectável.

Os factores internos estão, também, muito dependentes da linha político-partidária adoptada. Os sucessivos governos pós 25 de Abril têm seguido políticas fazendo lembrar os depósitos a prazo. A longo prazo implementam medidas (leis , protocolos e acordos) para favorecer os mais privilegiados, em dinheiro e poder. Exemplos disso são as concessões de 20, 25 e 30 anos e outras regalias monetárias vitalícias. A curto prazo implementam medidas que desfavorecem a maioria dos cidadãos. Exemplos disso são as leis desadequadas, incompletas e carentes de efectiva prática, por falta de mecanismos e a par disso retiram-se direitos e regalias, que por afectarem um maior número de cidadãos, facilmente se obtêm grandes valores (€) para cobrir o défice, os buracos orçamentais, a dívida pública, de modo a (tão badalada) crise não afectar muito a minoria, os tais lobbys económicos, as elites partidárias, as financeiras, as laicas, as religiosas, etc.

''Curiosamente'', a par do aumento do número de automóveis comprados, casas luxuosas e viagens está o aumento de pedidos junto dos Centros de Emprego e do Banco Alimentar.
A repartição da riqueza natural e humana terá de ter um carácter de justiça social, mais equilibrado e sustentável de modo a alcançar-se uma sociedade mais justa socialmente e consequentemente mais solidária, para abandonar, assim, o perverso sistema capitalista de mercado, através do desenvolvimento do "capitalismo humano" de partilha com recurso à educação, cultura e lazer, através do seu investimento; depois de garantir o básico, segundo a pirâmide descrita por Maslow (*).
O uso do banco de horas, do micro-crédito, de energias renováveis, terapias alternativas de saúde física e psíquica, rejeitadas há 25 anos pelos políticos, são aproveitamentos que não colocam "pedras no sapato" da engrenagem económico-financeira para poder haver mudanças de fundo, pois são aglutinadas, mas serão um presságio do futuro económico?
E o que é que isto tem a ver com a economia local? Tudo ou quase tudo, porque é a economia que comanda e regula/desregula o nosso quotidiano, as nossas opções e posturas, e aí poderemos ter um papel mais activo, ou pró-activo.
Apesar da economia local depender da nacional e por sua vez da global, e dos seus condicionalismos, apesar das verbas do PIDDAC e do Fundo Municipal não aumentarem, é possível ao governo local (autarquias) aplicar mais medidas e investir mais nas áreas da política social, investir nas pequenas obras e nas actividades localizadas e direccionadas que dão qualidade de vida aos munícipes e como exemplo de caso, em Almada, através dos dividendos dos juros bancários, das receitas da Amarsul, da Ecalma, do DAGEF e dos SMAS.

(*)"Hierarquia das Necessidades" desenvolvida por Maslow, 1970, em que defende na base da pirâmide, de baixo para cima, a satisfação das necessidades fisiológicas, de segurança, de relacionamento, de estima e de realização pessoal


Vítor Hugo Nunes
Autarca Bloco de Esquerda na AF Feijó

6 comentários:

Anónimo disse...

"A Natureza é o substrato do desenvolvimento e o meio em que se desenvolve a luta de classes. É também na relação com os recursos naturais que se trava uma disputa de interesses de classe antagónicos, na medida em que a utilização desses recursos é uma base fundamental da construção da sociedade humana.
A actual fase do capitalismo, de evidente aproximação dos seus limites históricos, tem agravado os impactos da exploração capitalista também no quadro da relação entre as sociedades e a Natureza. A apropriação da produção é acompanhada por uma apropriação directa dos recursos, mercantilizando mesmo os bens ambientais, o que bem demonstra o carácter predatório do sistema capitalista e a urgente necessidade de o ultrapassar, na medida em que a Natureza contém o conjunto de recursos finitos que são fundamentais para o desenvolvimento integrado da Humanidade. O seu esgotamento, ou destruição têm implicações directas sobretudo nas camadas trabalhadoras, tendo em conta a elitização galopante do acesso à qualidade de vida e ambiental. A luta dos trabalhadores é, por isso mesmo, também uma luta em defesa da preservação e da gestão racional dos recursos naturais, subordinando a sua gestão aos interesses comuns e não à acumulação de lucros."
V.P

Minda disse...

V.P.:

Presumo que se trata de uma transcrição (pelas "). Não acha que devia ter identificado o autor dessas palavras?

Anónimo disse...

Tem razão Minda,
E peço desculpa ,foi um lapso estava entusiasmado com o texto e com uma vontade enorme de o partilhar que não mencionei o responsável.

O autor é o Miguel Tiago

V.P

Minda disse...

V.P.:

Obrigada pela informação. Quanto ao texto: é bastante interessante e dá que pensar. Leva-nos a reflectir, seriamente, sobre o assunto (um novo ângulo da luta dos trabalhadores que não me tinha ocorrido, confesso).

Anónimo disse...

Parabens a Vítor Hugo;
Não me parece que a CGTP defenda os recursos naturais para além dos aumentos salariais e pouco mais, mas sim emprego a todo o custo seja em minérios (esgotamento do solo, poluição), industria pesqueira (extermínio de espécies), armamento (assasínio e poluição) seja em horticultura (pesticidas), industria farmaceutica (abuso de animais), devia dar mais formação e informação aos trabalhadores, p.e. a central ñ sabia que a industria ñ especializada e as pescas cairiam por imposição da UE? sabiam, anteciparam? não lhes convinha. Os trabalhadores em geral anseiam o mesmo que o que os ricos/poderosos já têm (€, poder, ñ outra coisa, então ou são dirigidos/encarreirados ou dá-se-lhes ferramentas de autonomia! formação/educação/prevenção.

António Manuel

Minda disse...

António Manuel:

As suas palavras davam "pano para mangas" (aliás, para vários fatos novos)... por isso, apenas comento que: até concordo consigo nalguns aspectos, nomeadamente no que concerne ao papel dos sindicatos na formação dos trabalhadores e à visão estreita que adoptam na defesa dos seus direitos.

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