Aquele "A" da gripe A é aparentado com aquele que os espectadores de jogos de futebol soltam quando a bola bate no poste: ah! Pensei que era golo... Com a gripe sucedeu o mesmo. Gripe ah!, já me foram ao bolso.
Divisas provenientes de todo o mundo entraram nas contas bancárias das farmacêuticas por causa da gripe A. O dinheiro, sabemo-lo bem, é contagioso. Sobretudo quando é muito, multiplica-se depressa. Significa isto que, embora de um modo ligeiramente inesperado, cumpriram-se as previsões da Organização Mundial de Saúde: acabou por haver pandemia, mas de moedas e notas. E infectaram, sobretudo, os bolsos das farmacêuticas. Haja quem tenha a caridade de nos livrar deste tipo de infecção.
Mas quem diria. Milhares de páginas de jornal a alertar para os perigos da gripe, horas de debates sobre a dimensão da pandemia, panfletos da Direcção-Geral de Saúde a ensinar os portugueses a lavarem as mãos e, segundo se diz agora (designadamente, em milhares de páginas de jornal), a pandemia foi o maior escândalo médico do século. Nada disto teria sido possível sem as reportagens e os debates. Mesmo as instruções sobre lavagem de mãos foram essenciais neste processo, para que o nosso dinheiro passasse para as mãos das farmacêuticas irrepreensivelmente limpo. Se as notas continuassem a ser manuseadas pelas nossas mãos sujas, talvez as farmacêuticas não as quisessem.
Do ponto de vista médico, a gripe A foi uma digna sucessora de outras pandemias que, sendo muito perigosas nos jornais, foram inofensivas, ou quase, na vida real. Depois da doença das vacas loucas e da gripe das aves, a gripe suína também cumpriu o seu destino: como pandemia foi fraca, mas como negócio foi um achado. Aquele "A" da gripe A é aparentado com aquele que os espectadores de jogos de futebol soltam quando a bola bate no poste: ah! Pensei que era golo... Com a gripe sucedeu o mesmo. Gripe ah! Pensei que era mais perigosa. Por outro lado, também se parece com o ah! dos burlados. Gripe ah!, já me foram ao bolso. Eu conheço pessoalmente mais sócios do Sporting do que gente infectada pelo vírus da gripe A, o que demonstra bem o falhanço da disseminação da doença. Se um grupo tão reduzido consegue, ainda assim, ser mais numeroso, dificilmente poderemos chamar pandemia àquilo que aconteceu. Ainda assim, esperemos que as pandemias continuem a fazer-nos pior ao bolso do que à saúde. Antes na farmácia que no cangalheiro, como diz o José Mário Branco na célebre canção chamada OMS. Ou FMI. É mais ou menos a mesma coisa. Se se fala num ou noutro, o melhor é guardar a carteira.
Artigo retirado DAQUI.
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E não é que ele tem razão? (excepção feita à piada sobre os adeptos do Sporting!!!, ou não fosse eu uma "verdinha convicta"... mas perdoo-lhe as "bocas do diabo", à benfiquista, pois até admito que o artigo está genial).
2 comentários:
Estou totalmente de acordo com o Ricardo.
Até naquele pormenor esverdeado.
Sim porque o voo da águia é sempre mais interessante do que a juba descaída do leão.
O RAP é sem dúvida um dos maiores humoristas da nova geração. E uma da suas qualidades é, normalmente, estar muito bem informado sobre os assuntos que satiriza. E, somando-lhe um boa dose de talento costume resultar em humor inteligente e crítico.
Por isso sou fã assumido do RAP e dos Gato Fedorento.
Não é o caso, infelizmente, deste texto. Porque o RAP parece ignorar o que é o "princípio da precaução" que manda que no caso de incerteza e de dúvida deve sempre defender-se a saúde pública. E foi isso precisamente que fez a OMS e o nosso Ministério da Saúde, temos que reconhecer.
É que o importante não era gastar as vacinas para justificar a despesa. Ainda bem que não foi preciso mas não já nos esquecemos que morreram mais de 80 portugueses com gripe A?
É assunto demasiado sério para tamanha ligeireza. E eu sei bem o susto que muitos apanharam, porque conheço quem tivesse apanhado a gripe e eu mesmo vi a minha filha no hospital de urgência com suspeitas de gripe A.
No final, ainda bem que a pandemia não foi tão grave como parecia. Mas cabe perguntar: se não se tivessem tomado as medidas de protecção da saúde pública estavamos agora a dizer o mesmo?
Gostei da parte sobre os "lagartos"...
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