A propósito da morte do
Presidente Jorge Sampaio, ocorrida ontem (dia 10 de setembro de 2021, aos 81
anos de idade), e quando o cortejo fúnebre se dirige para a Praça do Município
de Lisboa (a cuja câmara presidiu na década de 90) não posso deixar de
partilhar convosco um pequeno testemunho que evidencia a grandeza de caráter deste
Homem, dificilmente igualável, sobretudo quando comparada com a pequenez de espírito
de tantos outros que, tendo-o tido como exemplo, arrisco dizer que não sabem
honrar o seu legado.
Corria o ano de 1991. Na
sequência da revisão constitucional de 1989 os governadores civis tinham
acabado de ser retirados da presidência das assembleias distritais e em Lisboa
o PSD deixou, literalmente, as contas bancárias da entidade com saldo nulo.
A polémica em torno destes órgãos deliberativos autárquicos (que o artigo 291.º da CRP determinava iriam vigorar, tal como os
governos civis, até à criação das regiões) e a cobiça em torno do vastíssimo
património predial da ADL, criou um impasse que impediu a rápida resolução da
situação institucional.
Há vários meses sem receber
vencimento, os trabalhadores deliberaram em plenário que eu e outra colega
fossemos falar, pessoalmente, com o Dr. Jorge Sampaio (então presidente da CML
e, por inerência, membro da ADL), expor-lhe o problema e pedir a sua ajuda. Apesar
do inusitado da situação, o presidente recebeu-nos e sensibilizado com a
questão, de imediato ordenou que o departamento financeiro procedesse ao
pagamento de uma quantia que considerou suficiente para liquidar todos os
salários em atraso e garantir o seu pagamento nos próximos meses, enquanto o
assunto era discutido politicamente. E não saímos das instalações da câmara sem trazer na nossa posse o respetivo cheque.
Os anos passam e chegamos a
dezembro de 2011. Numa atitude prepotente e à revelia dos órgãos autárquicos do
município (que tinham aprovado o orçamento com a dotação para a ADL), o presidente
da autarquia, António Costa, decide proibir os serviços de, a partir de janeiro
de 2012, pagarem a contribuição a que o município estava legalmente obrigado, como
forma de exercer pressão política sobre o Governo para que este extinguisse as
assembleias distritais tal como acabara de fazer com os governos civis.
Com esta atitude, António Costa
provocou a falência da entidade e levou a que, entre 2013-2015 eu chegasse aos
12 meses sem receber vencimento nem subsídios de férias, uma situação que só viria a ser resolvida,
curiosamente, pelo Ministério das Finanças liderado por Mário Centeno, ministro
do primeiro Governo de António Costa.
De frisar que a dívida da CML à
ADL, que resultou do ato ilegal de António Costa, acabou por ser paga em 2019, após condenação do município em Tribunal numa ação interposta pelo Ministério
das Finanças do Governo cujo primeiro ministro era, precisamente, António
Costa.
Penso que não é preciso acrescentar mais nada para que todos percebam o alcance desta minha mensagem e o que pretendi dizer com o título deste testemunho.
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